3- Carla Ferreira Loureiro Lima - A POLÍTICA NACIONAL DE PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES (PNPIC) NO PROCESSO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO NA GRADUAÇÃO EM MEDICINA

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                    UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO NA SAÚDE

CARLA FERREIRA LOUREIRO LIMA

A POLÍTICA NACIONAL DE PRÁTICAS INTEGRATIVAS E
COMPLEMENTARES (PNPIC) NO PROCESSO DE ENSINO, PESQUISA E
EXTENSÃO NA GRADUAÇÃO EM MEDICINA

Maceió-AL
2018

CARLA FERREIRA LOUREIRO LIMA

A POLÍTICA NACIONAL DE PRÁTICAS INTEGRATIVAS E
COMPLEMENTARES (PNPIC) NO PROCESSO DE ENSINO, PESQUISA E
EXTENSÃO NA GRADUAÇÃO EM MEDICINA

Trabalho Acadêmico de Conclusão de Curso
apresentado ao Programa de Pós-Graduação
em Ensino na Saúde da Faculdade de
Medicina - FAMED da Universidade Federal
de Alagoas - UFAL, para qualificação de
Mestrado.
Orientadora: Profa. Dra Maria de Lourdes
Fonseca Vieira
Co-orientadora: Profa. Dra. Andrea Marques
Vanderlei Ferreira.

Maceió-AL
2018

Catalogação na fonte
Universidade Federal de Alagoas
Biblioteca Central
Bibliotecária Responsável: Helena Cristina Pimentel do Vale
L732p

Lima, Carla Ferreira Loureiro.
A política nacional de práticas integrativas e complementares (PNPIC) no processo
de ensino, pesquisa e extensão na graduação em Medicina / Carla Ferreira Loureiro
Lima. – 2018.
63 f. : i l.
Orientadora: Maria de Lourdes Fonseca Vieira.
Coorientadora: Andrea Marques Vanderlei Ferreira.
Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino na Saúde) – Universidade
Federal de Alagoas. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em
Ensino na Saúde. Maceió, 2017.
Inclui bibliografia.
Apêndices: f. 59-63
1. Medicina – Estudo e ensino. 2. Educação médica. 3. Medicina integrativa.
4. Medicina – Currículo. 5. Políticas públicas. I. Título.

CDU: 614:378

Dedico este trabalho acadêmico ao meu querido pai,
Luiz Loureiro de Farias Lima (in memorian), que
sempre foi um exemplo de dedicação e amor a sua
família e a sua profissão. Continuo seguindo seus
exemplos de superação, determinação e de amor.

AGRADECIMENTOS

A Deus, inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, que tem
estado comigo em todos os momentos deste projeto e em toda a minha
caminhada.
Ao meu esposo, Maikel Ranyeri Marques de Melo, que sempre acredita e apoia
as minhas escolhas dando-me sempre o incentivo e o amor que sempre
preciso.
A minha mãe, Cleonice Ferreira Loureiro de Farias Lima, ao meu irmão,
Emmanoel Ferreira Cardoso, pelo exemplo de superação, determinação,
coragem e força que me inspira e que trago dentro de mim.
A professora Maria Edna Bezerra da Silva, pela amizade e por trilhar meu
caminho até esse projeto, pois sem a sua ajuda não teria chegado até este
momento.
A professora Margarete Pereira, pelo incentivo e carinho de sempre.
A professora Divanise Suruagy Correia por toda ajuda, paciência e incentivo.
A professora Josineide Francisco Sampaio por toda contribuição a esse TACC,
desde o acesso a documentos e as contribuições na escrita.
Ao professor Geraldo Mario de Carvalho Cardoso pelo convite para auxiliar na
construção inicial da disciplina eletiva Acupuntura na Prática Médica, que me
ajudou tanto no despertar da docência.
A professora Dra Maria de Lourdes Fonseca Vieira, que aceitou trilhar pelas
Práticas Integrativas e Complementares sendo minha querida orientadora.
Obrigada pela paciência e carinho.
A professora Dra. Andrea Marques Vanderlei Ferreira pela co-orientação deste
projeto onde a amizade e respeito quero levar pela minha vida.
Aos discentes que participaram do projeto, sem vocês este projeto não teria se
concretizado.
A todos os professores e funcionários que fazem o Mestrado Profissional de
Ensino na Saúde, que possa sempre contribuir para a disseminação de
mudanças e melhorias no ensino.
Aos amigos da turma IV do ano de 2015 do Mestrado Profissional Ensino na
Saúde, pela cumplicidade, risadas e troca de experiência que tornaram a
jornada mais leve e prazerosa.

RESUMO GERAL
Introdução: A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
(PNPIC) de 2006 foi instituída pelo Ministério da Saúde para ser utilizada no
âmbito do SUS. Passado 11 anos da publicação da PNPIC, as graduações de
saúde no Brasil continuam ignorando as práticas integrativas e
complementares em seu ensino. Objetivos: Este estudo tem como objetivo
avaliar a percepção dos discentes de medicina acerca da PNPIC. Os objetivos
específicos foram avaliar a inserção das PIC no ensino, pesquisa e extensão
em um curso de medicina a partir das diretrizes propostas pela PNPIC,
contribuir com a perspectiva de ampliação de conhecimento quanto à PNPIC,
possibilitar um aumento da prevenção e promoção e recuperação da saúde,
voltada para o cuidado continuado, humanizado e integral em saúde,
estimulando alternativas inovadoras e socialmente contributivas, inseridas nas
PIC. Método: Trata-se de estudo exploratório, descritivo, e de abordagem
qualitativa. Um grupo focal foi realizado com discentes do 10º período, cujas
falas foram analisadas através de Bardin. Desenvolveu-se um ebook por meio
da ferramenta hotmart e um blogger através da plataforma gratuita de blogs
chamada Blogger.com, que pertence ao Google, ambos contendo informações
oriundas dessa pesquisa. Resultados: Metade dos sujeitos pesquisados é do
sexo feminino, dois terços deles estudaram em escola particular e são de cor
branca e com renda familiar de 10 a 30 salários mínimos. O desconhecimento
da PNPIC ainda é observado na maioria dos discentes do curso médico. As
falas dos discentes revelam as seguintes categorias e subcategorias:
Desconhecimento da PNPIC- Pouca visibilidade das práticas integrativas na
graduação; Falha no acesso as Práticas Integrativas e Complementares (PIC)
e sua inclusão no ensino médico- Curso médico insuficiente para o ensino das
PIC - Carência de incentivo/divulgação das PIC pelos médicos docentes Dificuldade de acesso às PIC; Preconceito sobre as práticas integrativas e
complementares – Misticismo – Medo- (Des)valorização das PIC; Falta de
evidências científicas; Falta de transdisciplinaridade. Como produtos de
intervenção foram elaborados um e-book e um blogger para que as PIC e a
PNPIC pudessem ser divulgadas e disseminadas. Conclusão: Este estudo
conclui que os discentes de medicina analisados têm pouco acesso ao ensino
das PIC e da PNPIC, além disso, recusam, na sua maioria, a sua inclusão em
disciplinas obrigatórias, pois justificam que há um excesso de carga horária na
graduação. O preconceito e a associação das PIC ao misticismo e a ausência
de evidências científicas foram constadas através da desvalorização desses
temas e do medo dos discentes em abordá-los com seus docentes.
Palavras-chaves: práticas integrativas e complementares; educação médica;
ensino; medicina integrativa; currículo.

ABSTRACT GENERAL

Introduction: The National Policy on Integrative and Complementary Practices
(PNPIC) of 2006 was instituted by the Ministry of Health to be used within SUS.
After 11 years of PNPIC's publication, health graduations in Brazil continue to
ignore integrative and complementary practices in their teaching. Objectives:
This study aims to evaluate the perception of medical students about PNPIC.
The specific objectives were to evaluate the insertion of ICPs in teaching,
research and extension in a medical course based on the guidelines proposed
by the PNPIC, to contribute with the perspective of increasing knowledge
regarding the PNPIC, to enable an increase in the prevention and promotion
and recovery of health, focused on continued care, humanized and integral in
health, stimulating innovative and socially contributory alternatives, inserted in
PICs. Method: This is an exploratory, descriptive, and qualitative approach. A
focus group was conducted with students from the 10th period, whose
speeches were analyzed through Bardin. An ebook was developed through the
hotmart tool and a blogger through the free blogging platform called
Blogger.com, which belongs to Google, both containing information from this
research. Results: Half of the subjects surveyed are female, two thirds of them
studied in private school and are white and with family income of 10 to 30
minimum wages. The lack of knowledge of the PNPIC is still observed in most
medical students. The students' speeches reveal the following categories and
subcategories: Non-knowledge of the PNPIC- Little visibility of the integrative
practices in the graduation; Failure to access Integrative and Complementary
Practices (PIC) and their inclusion in medical education - Insufficient medical
course for the teaching of PICs - Lack of incentive / dissemination of PICs by
teaching doctors - Difficulty of access to PICs; Prejudice on integrative and
complementary practices - Mysticism - Medo- (Des) valorization of PICs; Lack
of scientific evidence; Lack of transdisciplinarity. As intervention products, an ebook and a blogger were prepared so that PICs and PNPIC could be
disseminated and disseminated. Conclusion: This study concludes that the
medical students analyzed have little access to the teaching of PICs and
PNPIC, in addition, they mostly refuse to be included in compulsory subjects,
because they justify that there is an excess of time in undergraduate study. The
prejudice and the association of PICs with mysticism and the lack of scientific
evidence were evidenced through the devaluation of these themes and the fear
of the students in approaching them with their teachers.
Keywords: integrative and complementary practices; medical education;
teaching; integrative medicine; curriculum.

LISTA DE ABREVIATURAS

APS
CEP
CNS
CNES
ENEM
FAMED
FMUSP
IBGE
IES
MTC
NUSP
PIC
PNCS
PPP
PNPIC
OMS
SAV
SUS
TACC
TAEPS
UFAL
UNICEF

Atenção Primária em Saúde
Comitê de Ética em Pesquisa
Conselho Nacional de Saúde
Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde
Exame Nacional do Ensino Médio
Faculdade de Medicina
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Instituições de Ensino Superior
Medicina Tradicional Chinesa
Núcleo de Saúde Pública
Práticas Integrativas e Complementares
Práticas Não Convencionais em Saúde
Projeto Político Pedagógico
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
Organização Mundial de Saúde
Serviço Auxiliar de Voluntários
Sistema Único de Saúde
Trabalho Acadêmico de Conclusão de Curso
Tecnologias Aplicadas ao Ensino e Pesquisa em Saúde
Universidade Federal de Alagoas
Fundo das Nações Unidas para a Infância

LISTA DE FIGURAS

Figura 1
Figura 2

Figura 3

Figura 4
Figura 5
Figura 6
Figura 7
Figura 8
Figura 9
Figura 10

Figura 11

Nuvem de palavras das respostas da categoria
Desconhecimento da PNPIC……………………........................
Nuvem de palavras das respostas da categoria Falha no
acesso
as
PIC
e
sua
inclusão
no
ensino
médico……………………..........................................................
Nuvem de palavras das respostas da categoria Carência de
incentivo/divulgação
das
PIC
pelos
médicos
docentes………………..............................................................
Nuvem de palavras das respostas da categoria Dificuldade
de acesso às PIC……………….................................................
Nuvem de palavras das respostas da subcaterogia
Misticismo………………............................................................
Nuvem de palavras das respostas da subcategoria
Medo…………………................................................................
Nuvem de palavras das respostas da subcategoria
(Des)valorização das PIC………………....................................
Nuvem de palavras das respostas da categoria Falta de
evidências científicas………...............................……...............
Nuvem de palavras das respostas da categoria Falta de
transdisciplinalidade……………................................................
Capa do E-book A Política Nacional de Práticas Integrativas
e Complementares (PNPIC) no Processo de Ensino,
Pesquisa e Extensão na Graduação em Medicina

23

27

31
32
34
36

37
39
43

51

Publicação no blog sobre Práticas Integrativas e
Complementares no Ensino na Saúde...................................... 52

LISTA DE TABELA E QUADRO

Quadro 1

Descrição das Práticas Integrativas e Complementares da
PNPIC …………………….....................................................
15

Tabela 1

Perfil dos discentes de um curso de medicina de uma
faculdade pública do nordeste, 2017………...........................

20

SUMÁRIO

1

APRESENTAÇÃO...........................................................................

2

ARTIGO: Percepção dos Discentes de Medicina a cerca da
PNPIC..............................................................................................

11

12

2.1

Introdução......................................................................................... 14

2.2

Metodologia......................................................................................

18

2.3

Resultados e Discussão...................................................................

20

2.4

Considerações Finais.......................................................................

43

2.5

Referências......................................................................................

44

3.0

PRODUTOS EDUCACIONAIS ......................................................

48

3.1

E-book – Práticas Integrativas e Complementares na Saúde e
Blog Educacional – Práticas Integrativas no Ensino........................

48

3.2

Introdução........................................................................................

48

3.3

Objetivo............................................................................................

49

3.4

Justificativa.......................................................................................

50

3.5

Público alvo......................................................................................

50

3.6

Metodologia......................................................................................

50

3.7

Resultados.......................................................................................

51

3.8

Referências......................................................................................

52

4.0

CONSIDERAÇÕES FINAIS DO TRABALHO ACADÊMICO..........

53

REFERÊNCIAS GERAIS.................................................................

54

APÊNDICE.......................................................................................

59

11

1 APRESENTAÇÃO
Ingressei na faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal
de Alagoas no ano de 2006 e em 2010 iniciei a pós-graduação em Acupuntura
e já a partir daí decidi que trabalharia com as Práticas Integrativas e
Complementares (PIC). Em 2013 concluí minha pós-graduação em Vigilância
em Saúde do Núcleo de Saúde Pública (NUSP) da Universidade Federal de
Alagoas (UFAL). Foi nesse ano que conheci e comecei a ser voluntária na Sala
de Cuidados Antônio Piranema com a prática da auriculoterapia e em 2013 fui
iniciada no Reiki. Sempre fui estudando e acrescentado as Práticas Integrativas
e Complementares nas minhas atividades profissionais. Fui convidada a
contribuir com disciplina eletiva de Acupuntura na Prática Médica do curso de
graduação em medicina da UFAL como docente, e esta continua sendo
ofertada até o momento. Além dessa disciplina, fui a docente da disciplina
Vigilância em Saúde na Residência Multiprofissional em Saúde. Em 2014
conheci o Mestrado Profissional em Ensino na Saúde e me apaixonei pela sua
proposta e em 2015 inicie o mestrado com o objetivo de poder contribuir com o
ensino das PIC. A pesquisa teve como objetivo analisar a inserção da Política
de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no ensino, pesquisa e
extensão em faculdades de medicina do estado de Alagoas. Foi utilizado como
instrumento de coleta de dados um questionário para caracterização dos
sujeitos e eletrônico para avaliação de documentos, além de um grupo focal
com oito discentes do curso de graduação em medicina, que foram analisados
e categorizados segundo Bardin. Como produtos de intervenção foram
elaborado um e-book e um blog educacional, com objetivo de ser acessível e
de fácil disseminação para o conhecimento e divulgação da PNPIC e
consequentemente das PIC.

12

2 ARTIGO: PERCEPÇÃO DOS DISCENTES DE MEDICINA ACERCA DA
PNPIC
RESUMO
Introdução: A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
(PNPIC) surgiu com o objetivo de garantir a integralidade, baseada na
complexidade das práticas de saúde, enquanto sistemas de cuidados; e criou
condições para garantir bem-estar físico, mental e social, como fatores
determinantes e condicionantes da saúde das pessoas e da coletividade.
Objetivo: Avaliar a percepção dos discentes acerca da PNPIC. Método:
Realizou-se um grupo focal com oito discentes de medicina matriculados no
décimo período, nas dependências de um hospital universitário, após a rotina
do estágio onde estavam inseridos. Um questionário foi aplicado para
caracterização dos sujeitos antes da realização do grupo focal e após a
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O grupo foi filmado
e gravado durante 40 minutos. Utilizou-se um roteiro semiestruturado, para
entrevista no grupo focal, guiado por oito perguntas norteadoras. Resultados:
A partir da transcrição das falas na íntegra dos discentes do grupo focal foi
possível identificar as seguintes categorias e subcategorias: Desconhecimento
da PNPIC; Desconhecimento das práticas integrativas na graduação; Falha na
inclusão do ensino e acesso às práticas integrativas e complementares: Curso
médico insuficiente para o ensino das PIC - Carência de estímulos dos médicos
docentes - Vergonha de se expor - Dificuldade de acesso às terapias
integrativas; Preconceito sobre as práticas integrativas e complementares:
Misticismo - Falta de evidências científicas nas práticas integrativas- As
práticas integrativas fora do conceito de ciência - Valorização das práticas para
inclusão no cotidiano médico; Medo da responsabilização; Falta de
interprofissionalismo. 5. Conclusão: A formação médica necessita de constante
avaliação e deve acompanhar as mudanças ocorridas no contexto de procura
por novas formas de tratamento e abordagem terapêutica e diagnóstica, dentre
elas as práticas integrativas e complementares. Conclusão: Este estudo
conclui que as práticas integrativas e complementares são insuficientes no
curso de medicina analisado, suscitando a necessidade de uma discussão
ampla com gestores e professores para conscientização da importância de
adaptar o currículo a essas práticas.
Palavras-chaves: práticas integrativas e complementares; educação médica;
ensino; medicina integrativa.

13

ABSTRACT

Introduction: The National Policy on Integrative and Complementary Practices
(PNPIC) was created with the objective of guaranteeing integrality, based on
the complexity of health practices, as care systems; and created conditions to
guarantee physical, mental and social well-being, as determinants and
conditioning factors of the health of people and the community. Objective: To
evaluate the perception of the students about the PNPIC. Method: A focus
group was conducted with eight medical students enrolled in the tenth period,
on the premises of a university hospital, after the routine of the stage where
they were inserted. A questionnaire was applied to characterize the subjects
before the focal group was performed and after signing the Informed Consent
Term. The group was filmed and recorded for 40 minutes. A semi-structured
script was used for interview in the focus group, guided by eight guiding
questions. Results: From the transcription of the full speech of the students of
the focal group it was possible to identify the following categories and
subcategories: Not known of the PNPIC; Unawareness of integrative practices
in undergraduate studies; Failure to include teaching and access to integrative
and complementary practices: Insufficient medical course for the teaching of
PICs - Lack of stimuli of teaching doctors - Shame to expose - Difficulty of
access to integrative therapies; Prejudice on integrative and complementary
practices: Mysticism - Lack of scientific evidence in integrative practices Integrative practices outside the concept of science - Valuation of practices for
inclusion in daily medical practice; Fear of accountability; Lack of interprofessionalism. Conclusion: Medical training needs constant evaluation and
must accompany changes in the context of searching for new forms of
treatment and therapeutic and diagnostic approach, including integrative and
complementary practices. Product: An e-book was created as an intervention
product. Conclusion: This study concludes that integrative and complementary
practices are insufficient in the analyzed medical course, provoking the need for
a broad discussion with managers and teachers to raise awareness of the
importance of adapting the curriculum to these practices.
Keywords: integrative and complementary practices; medical education;
teaching; Integrative medicine.

14

2.1 INTRODUÇÃO
A Organização Mundial de Saúde (OMS) começou a recomendar a
introdução da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), entre outras práticas
integrativas e complementares (PIC) que já eram utilizadas por grande parte da
população mundial, após a Conferência Internacional sobre Atenção Primária
em Saúde em 1978, evento organizado em parceria com o Fundo das Nações
Unidas para a Infância – UNICEF, em Alma-Ata. No Brasil um conceito
ampliado de saúde foi enfatizado com a criação do Sistema Único de Saúde
(SUS) e em 1996, na 10ª Conferência Nacional em Saúde, reforçou-se a
necessidade de incorporar inicialmente as PIC. Houve, então, a necessidade
de publicação de uma política que trouxesse orientações e regulamentasse o
seu uso (WHO, 1978).
A

publicação

da

Política

Nacional

de

Práticas

Integrativas

e

Complementares (PNPIC) no SUS na forma das Portarias Ministeriais nº 971
de 03 de maio de 2006, e nº 1.600, de 17 de julho de 2006, surgiu das
experiências com as PIC que já estavam sendo realizadas em todo o país.
Essa política contemplava a Medicina Tradicional Chinesa - Acupuntura,
Homeopatia, Fitoterapia, Medicina Antroposófica e o Termalismo-Crenoterapia.
Após essas portarias, o acesso às PIC foi incorporado à Atenção Primária em
Saúde (APS) e oferecidas de forma gratuita aos usuários do SUS, sendo uma
nova alternativa para promoção, manutenção e recuperação da saúde.

O

Conselho Nacional de Saúde (CNS) recomenda que sejam implantadas e
introduzidas pelas Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios as ações e serviços relativos a essa política (BRASIL, 2006).
Em março de 2017, através da Portaria Ministerial nº 849, foram
incluídas e atualizadas na tabela de serviços do Sistema de Cadastro Nacional
de Estabelecimentos de Saúde (CNES) as PIC oferecidas na PNPIC, sendo
elas

a

Arteterapia,

Ayurveda,

Biodança,

Dança

Circular,

Meditação,

Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki,
Shantala, Terapia Comunitária Integrativa e Yoga (Quadro 1) (BRASIL, 2017).

15

Quadro 1: Descrição das Práticas Integrativas e Complementares da PNPIC.
Práticas
Descrição
Medicina Tradicional A MTC utiliza-se da acupuntura, plantas medicinais, dietoterapia,
Chinesa (MTC)práticas corporais e mentais. Acupuntura permite o estímulo de
Acupuntura
locais anatômicos por meio da inserção de agulhas filiformes
metálicas que promovem a promoção, manutenção e recuperação
da saúde. É fundamentada na teoria do Yin-Yang e a dos cinco
elementos (madeira, fogo, terra, metal, água). Na anamnese, são
utilizadas a palpação do pulso, observação da face e da língua.
Homeopatia

Plantas Medicinais e
Fitoterapia

Baseado no princípio vitalista e fundamentada na Lei dos
semelhantes (Similia similibus curantur): uma substância capaz de
causar efeitos em um organismo, pode também curar efeitos
semelhantes a estes num organismo doente. Foi desenvolvida por
Samuel Hahnemann no século XVIII.
Utiliza de plantas medicinais em suas diferentes formas
farmacêuticas.

Termalismo –
Crenoterapia
Medicina
Antroposófica

Utilizam da água mineral para recuperar, tratar e preservar a saúde.

Arteterapia

Realizada de forma individual ou em grupo, utiliza a arte como base
do processo terapêutico, como a pintura, desenho, sons, música,
modelagem, colagem, mímica, tecelagem, expressão corporal,
escultura, dentre outras.

Ayurveda

É a Ciência ou Conhecimento da Vida. Agrega em si mesmo, à
saúde do corpo físico, os campos energético, mental e espiritual. Foi
desenvolvido na Índia durante o período de 2000-1000 a.C.

Biodança

Inspirada nas origens mais primitivas da dança. Busca restabelecer
as conexões do indivíduo com o outro e com o meio ambiente, a
partir do núcleo afetivo e da prática coletiva. A relação com a
natureza, à participação social e a prática em grupo passam ocupar
lugar de destaque nas ações de saúde.

Dança Circular

Dança em roda, tradicional e contemporânea, originária de
diferentes culturas que favorece a aprendizagem e a interconexão
harmoniosa entre os participantes.

Meditação

Prática de harmonização dos estados mentais e da consciência,
presente em inúmeras culturas e tradições.

Musicoterapia

Utiliza a música e seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia),
em grupo ou de forma individualizada. Tem como objetivo
desenvolver e restabelecer funções do indivíduo, a melhor
integração intra e interpessoal e, uma melhor qualidade de vida.

Naturopatia

Por meio de métodos e recursos naturais, apoia e estimula a
capacidade intrínseca do corpo para curar-se. Utiliza diversos
recursos terapêuticos como: plantas medicinais, águas minerais e
termais, aromaterapia, trofologia, massagens, recursos expressivos,
terapias corpo-mente e mudanças de hábitos.
Método de diagnóstico e terapêutico que atua no indivíduo de forma

Osteopatia

Abordagem médico-terapêutica complementar, de base vitalista, que
busca a integralidade do cuidado em saúde.
Utiliza-se de
medicamentos baseados na homeopatia, na fitoterapia e outros
específicos da Medicina Antroposófica.

16

integral a partir da manipulação das articulações e tecidos. Busca
trabalhar de forma integral proporcionando condições para que o
próprio organismo busque o equilíbrio/homeostase.
Quiropraxia

Utiliza elementos diagnósticos e terapêuticos manipulativos, visando
o tratamento e a prevenção das desordens do sistema neuromúsculo-esquelético e dos efeitos destas na saúde em geral. São
utilizadas as mãos para aplicar uma força controlada na articulação,
pressionando além da amplitude de movimento habitual.

Reflexoterapia

Parte do princípio que o corpo se encontra atravessado por
meridianos que o dividem em diferentes regiões, cada uma destas
tem o seu reflexo, principalmente nos pés ou nas mãos. São
massageados pontos- chave que permitem a reativação da
homeostase e equilíbrio das regiões do corpo nas quais há algum
tipo de bloqueio ou inconveniente.

Reiki

Atua sobre o equilíbrio da energia vital com o propósito de
harmonizar as condições gerais do corpo e da mente de forma
integral, através da imposição das mãos, estimula os mecanismos
naturais de recuperação da saúde.

Shantala

Prática de massagem para bebês e crianças, composta por uma
série de movimentos pelo corpo, que permite o despertar e a
ampliação do vínculo cuidador e bebê, promove a saúde integral, a
cooperação, confiança, criatividade, segurança, equilíbrio físico e
emocional.

Terapia Comunitária
Integrativa (TCI)

Prática de intervenção nos grupos sociais com o objetivo de criação
e o fortalecimento de redes sociais solidárias. Combina posturas
físicas, técnicas de respiração, meditação e relaxamento. Fortalece
o sistema músculo-esquelético, estimula o sistema endócrino,
expande a capacidade respiratória e exercita o sistema cognitivo.

Fonte: Portarias Ministeriais nº 971 de 2006 e nº 849 de 2017.

As PIC estimulam os mecanismos naturais de prevenção de agravos e
recuperação da saúde, visão ampliada do processo saúde-doença e global do
cuidado humano, dando ênfase à escuta acolhedora, no desenvolvimento do
vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e a
sociedade (BRASIL, 2006).
Essa procura por um cuidado holístico, sistêmico e interdisciplinar
devendo acompanhar as mudanças tecnológicas, socioeconômicas e culturais
da sociedade é abordado por Collucci (2016) e Queiroz (2006). Eles trazem
uma crítica sobre a estratificação do cuidado no processo de trabalho em
saúde, o mecanicismo e o primado da doença sobre o doente, como também o
reducionismo biológico. A perspectiva vitalista, centrada na experiência de vida
do paciente, com ênfase no doente e não na doença, integradora, de caráter
não intervencionista é defendida como medicina alternativa.

17

A Medicina Antroposófica (MA) utiliza dos recursos como a fitoterapia, a
homeopatia, banhos terapêuticos, massagem rítmica e terapia artística. Para
exercer a MA o profissional deve realizar curso de formação regulamentado
pela Associação Brasileira de Medicina Antroposófica (MA). Nessa PIC são
utilizadas o diagnóstico convencional e uso de terapêutica medicamentosa,
mas o médico trabalha de forma integrada com outros profissionais da saúde,
além de analisar o paciente considerando-se sua mente, corpo e espírito,
buscando amenizar dores, reduzir desconfortos, além de colaborar com o seu
equilíbrio emocional. Concursos públicos para médicos antroposóficos no SUS
demonstrando a necessidade de formação dessa especialidade de atenção à
saúde (BENEVIDES, 2012).

Com a inserção dessas PIC na saúde em nosso país tornam-se
necessárias

estratégias

para

a

sua

gestão,

avaliação,

estruturação,

fortalecendo a atenção e participação social, capacitação profissional,
divulgação e informação de evidências, estímulo às ações interssetoriais,
acesso e incentivo à pesquisa sobre eficiência, eficácia, efetividade e
segurança, além da cooperação nacional e internacional (SANTOS; TESSER,
2012).
O conhecimento das PIC, comtempladas na PNPIC, pelos discentes e
docentes de Instituições de Ensino Superior (IES) em saúde no país é
necessário, além da sua inclusão nos Projetos Políticos Pedagógicos (PPC)
dos cursos, pois há crescente interesse da população por essas práticas e
abordagens não convencionais em saúde. A PNPIC do SUS foi publicada e
construída há 11 anos e ainda possui restrições quanto a sua abordagem nos
cursos de medicina em nosso país (KULKAMP et al, 2007; PENNAFORT, et al,
2012).
Com uma das perguntas norteadoras: O que você sabe sobre a Política
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), este trabalho
teve como objetivo geral, avaliar a percepção dos discentes do curso de
medicina em uma faculdade pública federal no Nordeste Brasileiro acerca
dessa política. Os objetivos específicos foram avaliar a inserção das PIC no
ensino, pesquisa e extensão em um curso de medicina a partir das diretrizes
propostas pela PNPIC, contribuir com a perspectiva de ampliação de

18

conhecimento quanto à PNPIC, possibilitar um aumento da prevenção e
promoção e recuperação da saúde, voltada para o cuidado continuado,
humanizado e integral em saúde, estimulando alternativas inovadoras e
socialmente contributivas, inseridas nas PIC.

2.2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo exploratório de abordagem qualitativa, que
avaliou a percepção dos discentes sobre as Práticas Integrativas e
Complementares (PIC) no ensino em uma faculdade de medicina da capital do
estado de Alagoas, Nordeste brasileiro.
Alagoas está situado a leste da região Nordeste, do Brasil, possuindo
3.120.494 habitantes segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE, 2010), com cinco faculdades de medicina, sendo três públicas (uma
estadual e duas federais) e duas privadas.
Conforme projeto original, o Grupo Focal, que foi o procedimento
metodológico utilizado, seria realizado com docentes e discentes do 10º
período do curso médico. Para a realização do grupo focal composto por
docentes, foram entregues convites via e-mail e impressos, pessoalmente em
três

tentativas.

Porém,

na

data

agendada,

apenas

dois

docentes

compareceram, inviabilizando a sua realização, devido à falta de quórum
suficiente para tal tarefa.
Os discentes matriculados no décimo período da Faculdade de Medicina
da UFAL foram escolhidos como atores nesse estudo, por estarem no internato
médico e por já terem concluído todas as disciplinas do ciclo básico e clínico do
curso, o que pressupõe que já tenham formação teórica completa e estejam
pondo em prática o conhecimento adquirido durante toda a fase anterior ao
internato. Como critérios de exclusão, foram definidos os discentes com outra
formação acadêmica e matriculados em outros períodos do curso.
O grupo focal de discentes foi viabilizado. Um questionário foi aplicado
para caracterização do perfil sociodemográfico dos sujeitos antes da realização
do grupo focal e após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE).
A análise de conteúdo através de Bardin (2012) nas falas oriundas de
um grupo focal com discentes ocorreu apenas na Faculdade de Medicina da

19

Universidade Federal de Alagoas (FAMED/UFAL), que é a instituição mais
antiga no estado de Alagoas dentre as cinco existentes no estado, sendo nela
onde o grupo focal foi realizado com oito discentes do décimo período.
Inicialmente, eles foram escolhidos através de sorteio e convites nominais
foram confeccionados e entregues aos representantes de turma. Somente após
quatro tentativas foi possível a realização do grupo focal, onde foram
convidados a participar após a rotina do estágio onde estavam inseridos, sendo
realizado nas dependências de um hospital universitário.
A moderadora (professora da instituição) solicitou aos próprios discentes
que escolhessem um pseudônimo para o/a identificar durante a realização do
grupo focal: Jô, Guto, Tine, Amanda, Cleyde, Lili, Pedro, Mineirinho.
O grupo foi filmado e gravado durante 40 minutos. Foi utilizado um
roteiro semiestruturado para entrevista no grupo focal onde constaram as
seguintes perguntas norteadoras: O que você sabe sobre a PNPIC?; Como
você teve conhecimento sobre a PNPIC?; Tem conhecimento das atividades do
curso de medicina que contemplam a PNPIC?;Quais atividades você
observou?; Como você vê a inclusão obrigatória da PNPIC no curso de
medicina?; Sugira uma forma de inserção de uma ou mais práticas integrativas
e complementares no curso.
Através do programa WordArt (serviço da web que permite a criação de
tag cloud ou nuvem de palavras, organizando palavras de forma personalizada
e gratuita) foi realizada a nuvem de palavras da fala do grupo focal dos
discentes, descrita de maneira gráfica, divertida e instrutiva, os termos mais
frequentes de um determinado texto (Apêndice).
A pesquisa seguiu as normas da Resolução nº 510/2016, do Conselho
Nacional de Saúde, e tem aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
com o nº do processo 52531415.7.0000.5013.

2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos sujeitos pesquisados, metade são do sexo feminino, apresentaram
a faixa etária prevalente de seis nascidos após o ano de 1991, dois terços de
cor branca, na maioria, solteiros e morando em habitação coletiva de
estudantes, com renda familiar de 10 a 30 salários mínimos. Cerca de dois

20

terços deles estudaram em escola particular, tendo se submetido pelo menos
duas vezes ao Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e escolhido o curso
médico por influência do mercado ou por ser mais adequado aos seus
interesses. A maioria deles tem plano de saúde individual. Tais informações
instigam reflexões acerca do estudo e uso das PIC (Tabela 1).
Tabela 1 – Perfil dos discentes de um curso de medicina de uma faculdade pública do
nordeste, 2017.
Variáveis
Respondentes
%
Gênero
Feminino
04
50,0
Masculino
04
50,0
Faixa Etária
Entre 1982 e 1985
02
25,0
Nascidos após 1991
06
75,0
Cor
Preta
01
12,5
Parda
02
25,0
Branca
05
62,5
Estado Civil
Casado
01
12,5
Solteiro
07
87,5
Como e onde mora
Casa/apartamento, família
01
12,5
Casa/apartamento,sozinho
03
37,5
Habitação coletiva
04
50,0
Renda familiar
30 a 50 salários mínimos
01
12,5
> 50 salários mínimos
01
12,5
5 a 10 salários mínimos
02
25,0
10 a 30 salários mínimos
04
50,0
Local onde completou o
Ensino Médio
Escola pública
01
12,5
Escola particular
07
87,5
Quantidade de vezes que
fez o ENEM
Uma vez
01
12,5
Mais de duas
03
37,5
Duas vezes
04
50,0
Principal
motivo
para
escolha do curso que está
matriculado
Influência da família
01
12,5
Prestígio social
01
12,5
Mais adequado aos meus
interesses e aptidões
03
37,5
Mercado de trabalho
03
37,5
Atendimento à saúde
Dispõe de planos de
saúde/empresa/grupo
03
37,5
Dispõe de planos de
saúde/familiar/individual
05
62,5

21

A partir da transcrição das falas na íntegra dos discentes do grupo focal
foi possível identificar as seguintes categorias (grifadas) e respectivas
subcategorias: Desconhecimento da PNPIC- Pouca visibilidade das práticas
integrativas na graduação; Falha no acesso as PIC e sua inclusão no ensino
médico- Curso médico insuficiente para o ensino das PIC - Carência de
incentivo/divulgação das PIC pelos médicos docentes - Dificuldade de acesso
às PIC; Preconceito sobre as práticas integrativas e complementares –
Misticismo –Medo- (Des)valorização das PIC; Falta de evidências científicas;
Falta de transdisciplinalidade.
2.3.1 Desconhecimento da PNPIC
O desconhecimento da PNPIC ainda é observado nos discentes de
cursos de graduação em saúde. Foi constatado por Feitosa e et al (2016) que
discentes dos cursos de graduação em Enfermagem (84,6%), Medicina
(84,7%)

e Odontologia (74,7%) desconhecem essa política. A Figura 1

corresponde à nuvem de palavras referentes ao desconhecimento da PNPIC
citadas pelos participantes dessa pesquisa. Observou-se que as palavras mais
citadas foram: práticas, matéria, alguma, acupuntura, integrativas, eletiva,
poderia, colocar.
Figura 1- Nuvem de palavras das respostas da categoria
Desconhecimento
da
PNPIC.

Durante o grupo focal, os discentes mostraram desconhecimento da
PNPIC, como as falas de Guto e Tine:
“Por convicção, nada”. (Guto)

22

“Eu estava lembrando que tem, existe uma política. Só que eu não
consigo lembrar o que é... PN, alguma coisa. Tem alguma
coisa....política nacional de práticas integrativas...não sei”. (Tine)

Thiago e Tesser (2010) observaram em uma amostra de 177 médicos e
enfermeiros que 88,7% desconheciam as diretrizes nacionais sobre terapias
complementares, mas 81,4% concordavam com sua inclusão no SUS, além de
a maioria (59,9%) concordar que essas práticas deveriam ser abordadas na
graduação. Esses autores corroboram achados neste estudo com estudantes
de medicina.
Azevedo e Pelicioni (2012) trazem uma reflexão acerca das poucas
instituições de ensino que contemplam essa política, principalmente como
disciplina

obrigatória.

Há

referências

também

sobre

residências

multiprofissionais que estão surgindo e com elas à introdução de módulos
sobre Práticas Integrativas e Complementares. Segundo Teixeira e Lin (2013),
através de uma revisão sistemática da literatura, constatou-se que entre 1997 e
1998, 64,9% das escolas médicas americanas contemplavam tais práticas
integrativas e complementares, sendo ofertadas na forma de disciplina eletiva
(75,3%), do primeiro ao quarto ano da graduação. No nosso estudo, constatouse que poucos discentes se interessam em ter disciplinas obrigatórias sobre a
PNPIC:
“[...] Acho que poderia ter uma matéria sobre, não uma matéria sobre
homeopatia, uma matéria sobre práticas integrativas, que englobava
tudo. Poderia até ser inserido, sei lá”. (Jô)
“Poderia sim ter uma visão integral, uma visão que a gente não tem,
mas que não fosse uma matéria para não sobrecarregar, fosse nas
outras matérias”. (Amanda)

No entanto, outras IES contemplam a PNPIC, com a elaboração de
ligas acadêmicas, como a Liga de Medicina Integrativa da Unicamp que
oferece desde 2010 a disciplina de Medicina Integrativa para alunos de
graduação da Faculdade de Ciências Médicas (COLLUCCI, 2008).
A fala dos participantes desta pesquisa traz a reflexão sobre a
necessidade de destrinchar sobre as práticas não convencionais em saúde,
pois a maioria dos discentes as desconhece e este pode trazer a discriminação
ou até resistência em associar ou indicá-las aos usuários da saúde pública ou
privada.

23

a) Pouca visibilidade das práticas integrativas na graduação
O acesso às PIC nas graduações dos cursos de medicina pode ser
realizado na forma de disciplinas eletivas, disciplinas obrigatórias, além de
projetos, mas observamos que apesar da orientação que essas práticas sejam
inseridas no contexto do ensino pela PNPIC, poucas IES abordam seus
conteúdos, como observamos na fala do Jô:
“Durante a graduação a gente não teve nenhuma informação sobre
isso não. Então, eu sei por cima ...” (Jô)

A inclusão dessas terapias no ensino médico é citada por Christensen e
Barros (2010), sugerindo que poderiam ser oferecidas na grade curricular como
disciplina obrigatória e não somente como disciplina eletiva como observou na
maioria das faculdades médicas brasileiras. A discussão também envolve a sua
inclusão nas residências médicas e educação continuada Outras instituições
de ensino, como o Hospital Albert Einstein, de São Paulo, ofereceu acerca de
40 alunos por ano, o curso de pós-graduação latu sensu em Medicina
Integrativa, onde realizou várias pesquisas na área (FEITOSA et al, 2016;
COLLUCCI, 2008). Os discentes relatam que tiveram contato sobre as PIC
somente em disciplinas eletivas:
“Eletiva de acupuntura.” (Glayde)
“Eletiva de acupuntura e a outra de diagnóstico do professor X que
ele puxava um pouco da parte baseada em evidência.” (Pedro)

O ensino das PIC e o entendimento básico das terapias que são
contempladas nela devem ser discutidos durante a graduação, pois
possibilitará aos futuros médicos a orientação e o direcionamento seguro e
correto sobre as principais indicações e possíveis riscos a seus pacientes
(TELESI JÚNIOR, 2016), porém as falas dos discentes deste estudo apontam o
pouco conhecimento das PIC na graduação:
“Se a gente não tem o contato antes, pregresso, um conhecimento
dessas práticas, fica difícil a gente no futuro indicar corretamente [...],
orientar a pessoa de maneira adequada ...”. (Pedro)

Esta fala é corroborada pela Association of American Medical Colleges
(EUA) que afirma ser o conhecimento sobre a medicina alternativa e
complementar por estudantes de medicina era necessário para que possam

24

orientar seus pacientes sobre os possíveis benefícios e riscos de cada terapia
(COHEN, 2000).
Além de terem acesso aos aspectos filosóficos e sociais dessas terapias
relacionadas às PIC sobre sua propedêutica, farmacologia e indicações, o
acesso a essas informações devem ser abordadas na graduação, despertando
o interesse em aprofundá-los. Observamos em nosso estudo que essa
abordagem, na fala da discente Amanda, não é realizada:
“A gente não tem uma visão, como é que agente vai colocar a
acupuntura na neuro, como é que a gente vai colocar a homeopatia
na gastro. [...] Para integrar essas práticas integrativas na clínica”.
(Amanda)

Corbin Winslow e Shapiro (2002) fez um levantamento com médicos em
Denver (Colorado, EUA) onde constatou que poucos deles sentiam-se
confortáveis em discutir sobre medicina alternativa e complementar, pois 59%
deles eram questionados e 84% acreditaram que precisariam aprender mais
para poder responder adequadamente às dúvidas de 76% dos seus pacientes
que as utilizavam. A discente Tine traz uma reflexão sobre o ensino das PIC e
sobre a responsabilidade em lidar e orientar o paciente quando na sua prática
médica:
“Ter uma disciplina de práticas integrativas que a gente tivesse o
contato, mesmo que superficial, mas de cada coisa, pra quando a
gente estiver com o paciente lá a gente saber sei lá, saber orientar
sobre isso.” (Tine)
“Conheço o projeto que a professora Z faz com os drogaditos. Aí
algumas vezes a gente já conseguiu assim que eles fizessem
acupuntura neles. [...] É um projeto de extensão que é multidisciplinar,
tem estudantes de serviço social, psicologia, aí várias pessoas fazem
lá.” (Tine)

Contreras e colaboradores (2015) entrevistaram 613 alunos de medicina
do primeiro ao quinto ano e apenas 7,3% desconheciam todas as 12 terapias
complementares, mas quando questionados se tinham interesse em aprender
mais sobre elas, apenas 10% disseram ter interesse. O desconhecimento e a
falta de interesse nas PIC na graduação também foram observados na fala dos
discentes entrevistados.
“Não vou mentir que se houvesse essa disciplina, hipoteticamente
falando, acredito que mais da metade da sala sairia falando que
negócio chato, pra que ver isso. Tenho certeza que seria assim. Mas
eu acredito que em 40% seria útil, alguém teria o conhecimento e iria
usar ele.” (Guto)

25

Carnevale et al (2017) avaliaram o interesse de estudantes de medicina
em aprender acupuntura e constataram que 64,6% tinham interesse nessa PIC
e 74% acreditaram que ela deveria ser inserida no currículo de graduação em
Medicina como disciplina obrigatória ou optativa, demonstrando discordância
com o observado nesse estudo.
A fala da maioria dos discentes dessa pesquisa demonstra a resistência
em inserir disciplinas obrigatórias que comtemplassem as PIC, um estudo mais
aprofundado poderia ser realizado para determinar a sua causa, pois em
algumas falas constatamos que a maioria dos discentes sente existir uma
sobrecarga na carga horária do curso médico onde a inserção de nossas
disciplinas acarretaria mais desprendimento e compromisso, sendo talvez essa
a causa da resistência em concordar com sua inclusão.

2.3.2 Falha no acesso às PIC e sua inclusão no ensino médico
As PIC são pouco discutidas na universidade onde foi realizado o grupo
focal e constatamos que nas cinco faculdades de medicina do estado de
Alagoas também não estão incluídas nas matrizes curriculares.
a) Curso médico insuficiente para o ensino das PIC
Figura 2 corresponde à nuvem de palavras referente a Curso médico
insuficiente para o ensino das PIC e sua inclusão no ensino médico citadas
pelos participantes dessa pesquisa. Observou-se que as palavras mais citadas
foram: disciplina, eletiva, homeopatia, saúde, sociedade, período, acupuntura,
espaço.

26

Figura 2- Nuvem de palavras das respostas da categoria Falha no
acesso as PIC e sua inclusão no ensino médico.

Apesar do próprio Projeto Político Pedagógico (PPP) do curso
médico estar explicitado que há necessidade de inclusão de visão integral do
ser humano, as falas dos discentes demonstram que as PIC são pouco
contempladas e desvalorizadas durante a graduação:
“Eu acho que a gente não tem essa visão porque, na graduação a
gente não tem essas matérias de homeopatia, acupuntura.
Geralmente quando tem, é eletiva, são poucas vagas.” (Amanda)
“Eu me recordo dos primeiros períodos, lá atrás, das aulas de Saúde
e Sociedade, lá no comecinho, segundo, terceiro período, havia
discussões bem superficiais sobre homeopatia, tinha sobre
acupuntura, até que o professor X fez uma propaganda da sua eletiva
que na época iria iniciar a fazer, mas se restringiu a só isso mesmo.
Tem nossa medicina baseada em evidencia, tão que é assim desse
jeito, desse jeito e tem a homeopatia que funciona mais ou mesmo
assim, e ai fazia um apanho geral, mas era isso e acabou. Nunca
mais ouvi falar sobre isso na graduação.” (Jô)

No Brasil, Teixeira (2007), Lin e Martins (2004) apresentaram um
levantamento feito entre estudantes de medicina da Faculdade de Medicina da
USP que mostra que a maioria (85%) considerou a importância da inserção da
homeopatia e da acupuntura no currículo. Entretanto, neste estudo, os
discentes relatam que não consideram essa possibilidade:
“Acho que uma disciplina seria inviável, o ideal seria inserir nas
disciplinas [...], na disciplina de Saúde e Sociedade, nas disciplinas
generalistas.” (Mineirinho)

Kulkamp e et al (2007) entrevistaram 197 estudantes de medicina sobre
o conhecimento de Práticas Não Convencionais em Saúde (PNCS) em uma
universidade de Santa Catarina onde essas práticas não faziam parte do

27

currículo e observou que mais de 50% dos alunos tinham interesse em
aprender 10 das 13 PNCS, além de indicarem ou apoiarem o uso delas em
seus pacientes. Há interesse dos acadêmicos em práticas não convencionais
e as disciplinas curriculares devem abordar as PNPIC nos cursos de graduação
em Medicina, mas os discentes ouvidos apontam para uma inexistência de
espaço na grade curricular para abordagens sobre as PIC:
“Não tem espaço na grade.“ (Mineirinho)
“E o curso médico é um exagero. Você sai, informação, informação, e
você ainda tem que saber isso e isso. Não cabe. De 9 da noite? É
uma coisa. A gente chega de 7 e sai 6, 7. O curso inteiro. E, onde vai
encaixar?.” (Guto)

Nos Planos Políticos Pedagógicos dos cursos de medicina do Estado de
Alagoas inexiste qualquer menção às PIC. Os discentes demonstram carência
das PIC no curso e não enxergam onde incluir, como nas falas a seguir
(UFAL,2013):
“Acho mais difícil de visualizar porque a gente realmente não tem
prática. Fica difícil visualizar.” (Jô)
“Não tem espaço na grade. Tem outras disciplinas que não entram
também. Acredito que não tenha espaço também.” (Mineirinho)

Teixeira (2007), Lin e Martins (2004) destacam um curso de medicina na
Bruce Rappaport Faculty of Medicine, em Israel, no qual aos residentes são
ensinados conteúdos de fitoterapia, Medicina Tradicional Chinesa (MTC),
homeopatia e medicina nutricional. Os autores mostraram que essa iniciativa
induziu a uma mudança positiva na atitude e no interesse dos médicos em
relação às PIC baseadas em evidências, fazendo com que passassem a
recomendar tais práticas aos seus pacientes, além de empregá-las neles
próprios e em seus familiares.
A ideia de Tesser (2009) de buscar e fomentar os remanescentes e
herdeiros de tais tradições e racionalidades esbarra nas exigências formais de
titulação reconhecidas pelas instituições acadêmicas. Na fala da Tine
observamos que existe apenas um docente que aborda as PIC no ensino na
instituição pesquisada:

28

“Só foi quando a gente fez a eletiva de acupuntura com o professor X.
Acho que a Y até deu uma aula pra gente também, ou mais de uma,
só esses dois momentos. Então foi em uma eletiva e outro foi dentro
de Saúde e Sociedade, um único dia, que foi um filme. Nunca mais.”
(Tine)

A inserção das PIC nos cursos médicos representa um desafio também
com relação à formação de profissionais docentes que tenham perfil e estejam
aptos a ministrar disciplinas que as contemplem nas instituições de ensino
superior.
b) Carência de incentivo/divulgação das PIC pelos médicos docentes
No ensino, a perspectiva de utilização das práticas integrativas no ensino
médico é um conceito que vem sendo estimulado, mas apesar da necessidade
de discussão dessas novas abordagens de tratamento, encontramos a
resistência e falta de preparo dos docentes para incluí-los no ensino e
aprendizagem, como observamos na fala da Tine:
“... acho que tentar inserir as práticas integrativas nas disciplinas não
funciona no modelo atual porque os médicos, eles são muito
fechados para isso [...] o paciente estiver um problema de saúde e a
gente se tiver alguma coisa que esteja fora da medicina tradicional,
eles passam muito assim sem dar valor. Acho que iria continuar da
mesma forma.” (Tine)

O interesse pelas terapias complementares tem crescido no mundo.
Estima-se que a proporção da população que já a utilizou uma vez na via
alcança 42% nos Estados Unidos da América, chega a 80% nos países
africanos

e

a

71%

no

Chile,

segundo

dados

da

WHO

(2002).

Consequentemente crescem os questionamentos e dúvidas sobre a eficácia
dessas terapias complementares e os médicos e discentes de medicina
necessitam discutir e abordar sobre elas, mas observamos essa carência no
ensino comprovado na fala do Jô e Gleyde.
“Eu acho que no máximo nota de rodapé na sala de aula assim, tem
isso, faz aquilo.” (Jô)
“Eu acho que também durante a faculdade a gente acaba muito ao
contrário. Não adquirindo,[...] conhecimento sobre essas outras áreas,
quando é meio que quebrado um pouco isso pra gente, [...] isso não
funciona ou pode fazer acupuntura, mas não é comprovado. E eu
vejo muito isso, eu fui criada, minha mãe me tratou a vida toda com
homeopatia, meu pai fazia acupuntura,..tudo isso.” (Cleyde)

29

A formação dos docentes no modelo tradicional e a dificuldade de
comunicação deles com os discentes gera um obstáculo que precisa ser
discutido e amenizado para que as mudanças no ensino médico possam surgir.
Essa dificuldade pode estar ligada à política departamental, a visões diferentes
da formação em saúde, gerando e intervindo nas questões pedagógicas, como
podemos observar na fala abaixo.
“Oprime realmente você, [...]. A gente tem uma leva de professores
que foi educado dessa maneira e eles tentam passar pra gente, na
maneira como eles foram educados.” (Jô)

Nesta categoria, Carência de incentivo/divulgação das PIC pelos
médicos docentes e sua inclusão às citadas pelos participantes dessa
pesquisa. Observou-se que as palavras mais citadas foram: não, funciona,
atual, acupuntura, educado, maneira, práticas, inserir.
Figura 3- Nuvem de palavras das respostas da categoria Carência
de incentivo/divulgação das PIC pelos médicos docentes.

A faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Doutor Bezerra de
Menezes, de Curitiba (PR), abriu em 1994 o curso de naturologia aplicada em
terapias naturistas que tem como objeto de estudo as práticas de medicina
integrativa e complementar. O Ministério da Educação justificou a abertura
desse curso porque no Brasil, a maioria dos terapeutas naturais era autodidata
ou se formavam em cursos de curta duração não reconhecidos pelas
instituições oficiais. O graduado que participa do curso passa a ter habilitação
em fitoterapia, acupuntura e naturopatia (AZEVEDO; PELICIONI, 2012).

30

É possível encontrar em faculdades pelo Brasil o incentivo ao ensino das
PIC, mas a PNPIC reforça a importância da capacitação dos profissionais que
estarão diretamente associados à qualidade do seu ensino.
c) Dificuldade de acesso às PIC
A publicação da portaria n. 849, do ano de 2017, acrescentou outras
PIC as já mencionadas pela PNPIC, como a Arteterapia, Ayurveda, Biodança,
Dança Circular, pois poucas IES vêm discutindo a inserção de novos modelos
de cuidado na formação (LIMA et al, 2013).
Assim, a discussão vai além de alguns aspectos financeiros, pois
investir em PIC implica ampliar a discussão sobre o processo de adoecimento
e desviar o foco da doença para o doente, o que remete a uma ação que vai
além de prescrever um medicamento ou exames para um estilo de vida,
alimentação, lazer, acesso a cultura, moradia. A fala dos discentes já
demonstra uma preocupação sobre o acesso da população às PIC:
“… você encaminha e às vezes o paciente vai procurar um serviço de
suporte no que você está tratando, fisioterapia, nutrição, outras áreas,
mas ele não dá continuidade porque ele não consegue marcar lá [...]
É como se fosse integrar, mas ao mesmo tempo tudo dissociado
porque ele some e vai tentar fazer alguma coisa e se o serviço não dá
um suporte pra que você tenha os resultado, não existe integração...”
(Guto)

Ischkanian e Pelicioni (2012) mostraram que os gestores de Unidade
Básica de Saúde e de um Ambulatório de Especialidades não estavam
preparados para implantar a PNPIC e que apenas cinco dos 26 entrevistados
conheciam essa política. Apesar de possuírem um ambulatório para
atendimento focado nas PIC, o fornecimento de material e aquisição de
insumos utilizados tem sido insuficiente, além de nem todos os profissionais
valorizarem essas atividades.
A figura 4 corresponde à nuvem de palavras referente à Dificuldade de
acesso às PIC citadas pelos participantes dessa pesquisa. Observou-se que as
palavras mais citadas foram: serviço, suporte, paciente, procurar, continuidade,
outras, tratando.

31

Figura 4- Nuvem de palavras das respostas da categoria Dificuldade
de
acesso
às
PIC.

2.3.3 Preconceito sobre as práticas integrativas e complementares
A utilização de recursos terapêuticos como acupuntura, homeopatia,
fitoterapia, apesar de já terem comprovações através de publicações nacionais
e internacionais sobre efeitos fisiológicos no organismo, ainda observamos que
são relacionadas com atividades populares e, com efeito, placebo (FREITAG,
2014). Os nossos discentes reconhecem o preconceito dos docentes sobre as
PIC:
“Mas, eles jamais passariam esse tipo de coisa pra gente, entendeu?
Eu acho que é, mas isso, pessoal mesmo, preconceito, etc.. É a
forma que eles foram, se formaram mesmo, a formação deles na
faculdade, e tal.” (Gleyde)

Misticismo, medo, (des)valorização das PIC são as subcategorias
construídas após a transcrição da fala dos discentes do grupo focal.

a.

Misticismo

A OMS passou a admitir o sistema espiritual na caracterização de saúde
e qualidade de vida no protocolo do WHOQOL-100, no domínio VI aspectos
espirituais, religião e crenças pessoas. No Código Internacional de Doenças,
CID-10, no seu item F.44.3 – Estados de Transe e Possessão – configura
como diagnóstico médico e qualifica o transe patológico quando o individuo não
tem controle sobre o fenômeno, ocorrendo de forma involuntária e não
desejada.

Mas

não

é

considerada

doença

o

estado

de

transe

32

(mediunidade/saúde) sob domínio da pessoa em seu contexto cultural ou
religioso. Apesar dessas pesquisas envolverem aspectos que avaliam os
pacientes de uma forma integral com enfoque ao espiritual interferindo na sua
saúde, observamos que nas IES as PIC são associadas ao místico, sem
comprovação científica de sua ação (WHO, 2011).
A figura 5 corresponde à nuvem de palavras referente a Misticismo
citadas pelos participantes dessa pesquisa. Observou-se que as palavras mais
citadas foram: pessoas, conceito, difícil, importante, etc, preconceito, jamais,
forma.

Figura 5 -Nuvem de palavras das respostas da subcategoria
Misticismo.

O misticismo também está presente nas falas dos discentes
pesquisados, como podemos observar:
“As pessoas não conseguem conceber no geral, o conceito de ciência
como ele já é tradicional, imagine quanto ao quântico, acho muito
difícil, assim no geral, na graduação, misturar essas lacunas, ou
conceitos, vai ficar muito complicado...” (Jô)

Da mesma forma os discentes acreditam que serão considerados
charlatões se indicarem tais PIC.

33

“[...] Então, tem essa questão cultural, que você também corresponde
a expectativas do paciente, e se o paciente não está bem para isso,
não adianta falar em energia. Ele vai dizer, meu amigo, você é
charlatão, você está me enrolando, né?.” (Guto)

Em algumas IES docentes estimulam o ensino das PIC, como o
médico Sérgio Felipe de Oliveira é coordenador da Disciplina Optativa Medicina
e Espiritualidade da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São
Paulo (FMUSP) e defende a hipótese espírita dos estados de transe e
possessão e também do entendimento do sistema espiritual abordado pelo
protocolo de Qualidade de Vida da OMS. É pesquisador das possibilidades da
hipótese espiritual no processo de saúde e doença e no seu protocolo de
pesquisa há 120 pacientes que são abordados segundo a óptica bio-psicosocio-espiritual. Em sua dissertação de mestrado, estudou a glândula pineal
como sendo o órgão sensorial do fenômeno (OLIVEIRA, 1998).
Apesar de observamos a pesquisa e discussão em algumas IES
das regiões sul e sudeste do Brasil que já contemplam as PIC como ciência, a
fala do Jô repercute o que grande parte da população médica tende a associar
as PIC a práticas relacionadas com o misticismo:
“Eu acho que é mais cultural da gente, se falam, que o povo brasileiro
é um dos mais místicos.” (Jô)

b-

Medo
As IES têm adotado o uso de metodologias ativas em sala de aula

devido à mudança no papel do docente, transformando-o em um orientador de
estudo ao invés de mero transmissor de conteúdo, exigindo também do aluno
uma nova postura, a de protagonista de seu próprio aprendizado e
possibilitando a abertura de troca de experiências, mas observamos na fala dos
discentes, o medo de se expor:
“... você fala de cirurgião, cirurgião reikiano. Se pegar aqui os
cirurgiões do HU, a gente passa a visita, se um discutir sobre
métodos cirúrgicos lá, [...] o debate é sobre o médico que já está um
tanto proscrito, [...] a discussão é essa, ficam brigando se um método
proscrito ainda se utilizado, deveria ser usado, aí vai chegar alguém
para falar, mas tem um estudo sobre reiki. Na cabeça deles não vai
entrar nada sobre isso, pode ser lá onde for o estudo. Ah, lá, mas sei
lá sei o que.” (Jô)

34

“Acho que é uma dificuldade cultural, por exemplo, eu acho que os
médicos, a maioria dos que a gente conhece, se a gente trouxesse
para ele o estudo dizendo que o reiki é no sei o que, eles vão rir da
nossa cara, mesmo trazendo isso daqui, entendeu.” (Gleyde)

A figura 6 corresponde à nuvem de palavras referente à categoria Medo,
citada pelos participantes dessa pesquisa. Observou-se que as palavras mais
citadas foram: estudo, protocolo, método, médico, cirurgião, reikiano, rir,
proscrito, HU, reiki, discutir.
Figura 6- Nuvem de palavras das respostas da subcategoria Medo.

Apesar

das

pesquisas

e

de

já

existirem

pós-graduação

e

especialidades médicas na homeopatia, acupuntura e medicina antroposófica,
docentes e discentes necessitam que haja protocolos pré-determinados nas
PIC. Mas, na visão integral do ser abordada nessas terapias complementares e
integrativas, o tratamento é individualizado, relacionado a seus aspectos
físicos, mentais, sociais e espirituais, não podendo ser repetido, na forma
integral, entre indivíduos diferentes, pois essa é um princípio do tratamento
com as PIC. A percepção dessa abordagem diferenciada do paciente traz
insegurança para os futuros profissionais como observamos na fala:

”Eu acho que a medicina é muito sistematizada. A gente pra se
prevenir e até seguir qualquer escola. Vai tratar diabetes,
hipertensão, o que seja, tem que ter algum protocolo para seguir.
Você está resguardado legalmente. Eu acho que essas práticas
integrativas não existem, não existe esse suporte de protocolo se eu
continuo fazendo da medicina tradicional, meu risco é quase zero
porque eu estou seguindo o protocolo, enfim, eu vou argumentar,
mas, as vezes você intui alguma coisa. Como é o caso que o Jô citou.
Inclui a homeopatia. Muitos tratam.” (Guto)

35

Ainda observamos na fala do discente que a discussão sobre a
especialidade médica de homeopatia precisa ser explorada e incluída no
ensino médico como traz a Escola de Medicina e Cirurgia da UNIRIO. Essa
instituição é pioneira no ensino acadêmico da homeopatia no Brasil e possui
professores homeopatas, ambulatório didático, além da disciplina obrigatória
Matéria Médica Homeopática com 30 horas-aula e disciplinas optativas, Clínica
Homeopática e Terapêutica Homeopática, com 30 horas-aula, cada. Nessa
percepção, os discentes poderiam ter acesso a terapias complementares e
poder explorar e desmistificar sobre seu uso, efeito e indicação (TEIXEIRA;
LIN, 2013).
A maioria dos 613 estudantes de medicina do quinto ano da Pontificia
Universidad Católica de Chile creem que a informação sobre as TIC são
importantes para a carreira e apontaram ser importante que professores da
saúde deveriam orientar mais comumente seus pacientes sobre essas terapias
(CONTRERAS et al, 2015).
c-

(Des)valorização das PIC
A desvalorização e valorização das PIC no ensino das IES podem estar

associados a diversos fatores, como despreparo e formação dos docentes,
incentivo das próprias instituições de ensino e falta de interesse dos discentes,
tentaremos identificá-los e incentivar a discussão acerca dessas possibilidades.
A

figura

7

corresponde

à

nuvem

de

palavras

referente

à

(Des)valorização das PIC citadas pelos participantes dessa pesquisa.
Observou-se que as palavras mais citadas foram: mentalidade, acupuntura,
médico, estudo, paciente, pessoa, cultura.

36

Figura 7- Nuvem de palavras das respostas da subcategoria
Des)valorização
das
PIC.

Os recursos terapêuticos que são incluídos da PNPIC abordam
aspectos que estão condizentes com uma anamnese, prognóstico e
acompanhamento médico que poderiam contribuir de forma assertiva com a
visão ocidental da doença e do paciente. Para a prática da medicina
antroposófica existe a necessidade de uma qualificação diferenciada da forma
como é observado o ensino médico na maioria das IES em medicina do Brasil,
pois ainda observamos, como na fala dos discentes, uma dificuldade de
absorção dos docentes sobre dessa visão de terapêutica (FOLLADOR, 2013):
“Na cabeça deles não vai entrar nada sobre isso,[...]. Acho que a
parte cultural, o embate de mentalidade é um dos entraves, mas, na
medicina em si [...], aquela questão mais estrutural mesmo, na
mentalidade das pessoas, na classe médica.” (Jô)
”... isso é lá médico? Como é que o cara lá médico, eu vou, pago uma
consulta para ele me examinar, ai ele me manda fazer acupuntura,
ahhh, comeu o meu dinheiro.” (Guto)

Christensen e Barros (2010) fizeram uma revisão sistemática de 33
artigos relacionados às práticas integrativas e complementares no ensino
médico em vários países. Segundo eles, esse ensino torna-se importante para
a melhora das terapias oferecidas aos pacientes, pois a medicina alopática
pode não ter resultados satisfatórios quando utilizada de forma única. A
inclusão do ensino dessas práticas nas faculdades de medicina irá contribuir
para uma abordagem terapêutica e diagnóstica, associado ao conhecimento
que esses discentes podem utilizar na sua futura profissão.

37

A inclusão do ensino da PNCS em cursos de graduação e
especialização em medicina ainda é corroborada por Teixeira (2007) e Teixeira,
Lin e Martins (2004) que analisaram a inserção do que os autores chamam de
Práticas Não Convencionais em Saúde (PNCS) em diferentes países, fato não
observado no nosso estudo.
Um levantamento realizado em 1996 no Reino Unido mostrou que 23%
das faculdades de medicina haviam incorporado ao currículo disciplinas que
ministravam conceitos básicos sobre as diversas formas de PNCS. Em 1999,
40% das escolas médicas da União Europeia ofereciam cursos de algumas
dessas práticas. No período de 1997/1998, uma pesquisa em 117 escolas
médicas americanas mostrou que 64% ensinavam tais práticas. Em 1998,
pesquisa realizada nas escolas médicas do Canadá mostrou que 81% delas
apresentavam tópicos de algumas dessas práticas em seu currículo (CORBIN
WINSLOW; SHAPIRO, 2002).
Pesquisa realizada em oitenta escolas médicas japonesas, no período
de 1998/1999, mostrou que 20% ensinavam algum tipo de PNCS, num total de
25 cursos, prevalecendo o ensino da acupuntura (Teixeira, 2007). As falas dos
nossos discentes sugerem uma valorização dos protocolos que envolvem as
PIC vindos do exterior e consequente desvalorização da cultura nacional e
popular:
“Só é bom o que vem de fora.” (Guto)
“Exatamente, isso seria o ideal, mas certamente, se houvesse um, se
no protocolo do ano que vem europeu, da escola europeia, saísse
qualquer coisa para a gente aderir.” (Guto)

No Brasil é crescente o interesse das PIC e a cultura popular tem muito
a nos ensinar. Devemos relembrar que a inclusão e surgimento da PNPIC
iniciaram-se da observação da utilização e observação de resultado no uso
dessas práticas não convencionais em saúde por parte da população mundial.
Essa utilização não se origina do uso de um protocolo pré-definido, mas da
forma como é feita a abordagem e escuta inicial dos pacientes. Dessa forma de
utilização é que devesse abordar nas IES para que boa parte da população
possa ter acesso a ela.

38

2.3.4 Falta de evidências científicas

A falta de evidências científicas citada pelos participantes dessa
pesquisa está apresentada na figura 8. Observou-se que as palavras mais
citadas foram: não, respaldo, evidência, fazer, medicina, mal, baseada,
palpáveis, práticas, baseada.
Figura 8- Nuvem de palavras das respostas de categoria Falta de
evidência
científica.

As PIC vêm sendo discutidas e estudadas no âmbito de projetos,
pesquisa e extensão em IES no Brasil e fora dele. As publicações existentes
em sites de busca por artigos científicos relacionados aos efeitos, causas,
indicações e contraindicações, por exemplo, da acupuntura, fitoterapia, reiki,
cromoterapia, florais, homeopatia, trazem dados concretos sobre sua
associação com dados pautados nas evidências científicas, mas apesar dessa
observação os discentes trazem nas suas falas algo que discorda desse
contexto (AZEVEDO; PELICIONI. 2012):
“Eu acredito que eles não usam de agora o reiki porque eles viram
que funcionam que ajuda, claro, se não eles não estariam usando e
dois, devem reduzir gasto.” (Jô)
“Eu particularmente não acredito, mas se funciona pras pessoas, eu
acho válido. O que eu acho que pode prejudicar é quando vem essa
briga de médico homeopata que fala – Você não precisa tomar o
remédio não, só precisa disso aqui. Parentes meus já deixaram de
dar remédio da medicina.” (Jô)

A PNPIC traz uma discussão sobre a percepção do paciente, devendo
ser visto como um ser biopsicossocial, suscetível às alterações em seu meio
ambiente e em sua mente (BRASIL, 2006). Os métodos e as discussões no

39

ensino médico deveriam compreender esses aspectos e eliminar pensamentos
mecanicistas que reduz o tratamento dos pacientes apenas ao processo de
restabelecimento da máquina humana onde apenas a utilização de fármacos
seria necessária ao seu restabelecimento em saúde (SILVA, 2015), constatado
na fala:
“Eu só compraria a ideia se as práticas integrativas fossem mostradas
de forma prática e que a gente pudesse enxergar os resultados.
Chegar lá no quadro seria uma disciplina que eu iria faltar o
percentual que eu pudesse pra passar porque não dá pra você
competir com sua vida inteira, sua formação inteira de forma
tradicional vendo que um fármaco o resultado é 87% e a prática
integrativa, quantos por cento? A prática teria que ter, […] pelo menos
50% da disciplina [...] não adianta você competir com omeprazol que
tem 95% de efetividade com uma coisa que não sei, outros melhoram
outros não...” (Guto)

Autores como Barros et al (2007) e Souza et al (2009) citam a Portaria
971, que descreve sete diretrizes para a homeopatia, sendo duas ligadas
diretamente à questão do ensino da homeopatia nas instituições de ensino
superior. Citam, que as universidades têm se mantido fechadas à introdução do
seu ensino, na graduação e na pós-graduação Lato sensu e Stricto sensu,
apesar do crescente reconhecimento e legitimação da homeopatia, gerando
uma demanda por profissionais com habilitação nesta terapêutica.
Algumas instituições brasileiras desenvolvem atividades de terapias
integrativas e complementares, adotando-as como científicas e incluindo-as na
rotina de atendimentos médicos. O exemplo disso, o Hospital de Base em
Brasília realiza atendimento de Reiki com a autorização da Secretaria de
Saúde nas várias áreas e pacientes do hospital, através do Serviço Auxiliar de
Voluntários (SAV) (DAMACENO, 2017).
O Hospital Albert Einsten, em SP, que adota, além do Reiki, a Terapia
Floral, grupos de meditação para os pacientes, yoga e acupuntura. O Reiki é
oferecido, especialmente, aos pacientes com câncer e as técnicas são
adotadas mediante evidências científicas de que funcionam e de auxiliam a
terapia convencional (COLLUCCI, 2008).
Apesar da institucionalização destas práticas em hospitais de
referência nacional, ainda se observa uma descrença dos discentes,

40

colocando-as no patamar fora da ciência. Neste sentido, a fala do “Jô” reflete
isso.
“Mesmo que não tenha, assim um respaldo da medicina baseada em
evidência, como a gente tem o farmacologismo, mas não vai fazer
mal. Se todas as práticas integrativas que não tem um respaldo
grande de evidências palpáveis, assim, você tem que ver se vai está
prejudicando.” (Jô)

Contreras e et al (2015) demonstrou que existe uma tendência dos
alunos de medicina a associarem as terapias complementares a efeitos
placebos e a diminuírem o interesse por elas assim que vão avançando e
crescendo na carreira. Neste sentido, outro estudo seria necessário para
observar este achado.
O interesse em ter a acupuntura inserida no currículo médico como
disciplina obrigatória foi verificado por Carnevale e et al (2017), sendo maior
entre discentes do terceiro e quarto anos, e menores para as turmas do quinto
e sexto anos, demonstrando que com o decorrer dos anos eles vão diminuindo
o interesse em estudar as PIC.

2.3.5 Falta de transdisciplinaridade
A transdisciplinaridade é trazida na PNPIC para que o indivíduo seja
observado como aquele que tem necessidades dentro de um contexto maior de
saúde. Dentro desta perspectiva o trabalho transdisciplinar é fundamental para
a atenção holística do ser humano, principalmente no contexto da saúde
pública. Além disso, a discussão sobre a patologia na visão de cada
profissional envolvido trará benefício ao paciente que necessita que suas
necessidades

individuais

sejam

resolvidas

dentro

das

possibilidades

apresentadas. Os discentes demonstram já uma atenção e preocupação sobre
a possiblidade de acesso ao trabalho que envolve o transdisciplinaridade
(BRASIL, 2006):
“Também gera uma briga porque quando inclui uma disciplina em
cima da outra e a outra argumenta que era melhor, mais importante.”
(Guto)
“...essa engrenagem de integração […], o serviço precisa existir,
porque você tem que ter a condição de encaminhar esse paciente
[…]. É como se fosse integrar, mas ao mesmo tempo tudo dissociado
porque ele some e vai tentar fazer alguma coisa e se o serviço não dá
um suporte pra que você tenha resultado, não existe integração […],

41

se você não acompanha o serviço que você indicou para auxiliar a
sua conduta e andar junto, você não vai ter parâmetros nenhum
nessa integração.” (Guto)

A fala do discente demostra a falta de transdisciplinaridade tanto entre
os próprios profissionais médicos como os demais profissionais inseridos no
ensino na saúde. Além do excesso de informação que aparenta não estar
sendo utilizado de forma efetiva, existe a falta de valorização das disciplinas
que são ofertadas em um mesmo período no ensino médico, fato constatado
na fala:
“A gente tem um número de informação muito grande. Todos os
professores acham que a gente tem que saber só a disciplina deles, a
matéria deles. [...] são poucos professores que sabem passar o
essencial pra gente.” (Gleyde)

Os discentes relatam que se sentem sobrecarregados com a carga
horária do curso médico da UFAL, onde esta pesquisa foi realizada, que é de
8,900 horas. O Ministério da Educação (MEC) define uma carga horária mínima
para os cursos de graduação em Medicina de 7.200 horas (BRASIL, 2014).
As falas dos discentes demonstram que não existe interprofissionalismo,
pois cada docente acredita que a sua disciplina é a mais importante e trabalha
isoladamente desprestigiando os saberes de outras áreas ou disciplinas na
atenção ao paciente.
O Conselho Nacional de Educação (CNE) recomenda a utilização
da interprofissionalização nos serviço do SUS promovendo a integração do
PPC, a partir da articulação entre teoria e prática, com outras áreas do
conhecimento, bem como com as instâncias governamentais, os serviços do
SUS, as instituições formadoras e as prestadoras de serviços, de maneira a
propiciar uma formação flexível e transdisciplinar, coadunando problemas reais
de saúde da população (BRASIL, 2014).
Teixeira e Lin (2013) trazem a discussão sobre a dificuldade e
necessidade de inclusão de disciplinas que contemplem as PIC nos cursos de
graduação em medicina. Dificuldade que também se encontra na fala dos
pesquisados desse estudo:
“[...] Para a gente ter uma noção, pra gente saber o que que é, não
para a gente aprender assim na cardiologia é bom tal remédio

42

homeopático, tal exercício reikiano, acho que não. Acho que a gente
tinha que ter a base e entender isso. Como eu acho que deveria ser
em todas as disciplinas, mas...” (Cleyde)
“Eu acho que é um desafio muito grande para vocês colocar essa
disciplina (PIC), porque, assim, nós pagamos recentemente num
estágio de psiquiatria [...] acompanhando o serviço dos outros
profissionais e a partir dai conhecer [...] saber da importância de um
psicólogo, trabalhando com eles e confesso que para mim e para a
maioria da sala foi terrível passar essas duas semanas lá (risos) [...]
Igual ao que o Guto falou tem que ter a prática, mas não é a prática
que a gente vê assim, tem que interagir, porque é difícil passar o
tempo assim.” (Tine)

A figura 9 corresponde à categoria Falta de Transdisciplinaridade dessa
pesquisa. Observou-se que as palavras mais citadas foram: saber, prática,
base, pic, disciplina, aprender, desafio, entender.
Figura 9- Nuvem de palavras das respostas da categoria Falta de
transdisciplinalidade.

Segundo Ivani Fazenda, a transdisciplinaridade deve coordenar todas
as disciplinas e interdisciplinas do sistema de ensino inovado, sobre a base de
um axioma geral, destina-se a um sistema de nível e objetivos múltiplos, deve
haver uma coordenação com vistas a uma finalidade comum dos sistemas
(FAZENDA, 2011).
Telesi Júnior (2016) reforça a necessidade de utilização da medicina
moderna que tem avançado tecnologicamente com a utilização de outras
formas de aprender e praticar a saúde.

43

O resgate do valor da medicina tradicional não se deve à melhora nos
procedimentos de diagnóstico, médicos e medicamentos, mas sim no cuidado
feito de forma mais humana e focada na individualidade do paciente.

2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a graduação, os discentes do curso de medicina têm pouco
acesso ao ensino das PIC que são contempladas pela PNPIC e não a
conhecem. Fica evidente a recusa da maioria dos discentes do grupo focal
deste estudo sobre a inclusão de disciplinas que contemplem as PIC, justificam

que há um excesso de disciplinas e carga horária no curso médico.
A formação dos docentes contribui para que essas práticas sejam pouco
incentivadas e divulgadas. Essa desvalorização e o medo que os discentes têm
em abordá-las dentro do contexto do ensino médico contribuem para o
aumento do preconceito e a associação das PIC com práticas de misticismo e
ausência de evidência científica sobre sua eficácia. Essas foram a maioria da
percepção dos discentes acerca delas.
A transdisciplinaridade necessita ser debatida e colocada em prática
pelos docentes através da valorização de outras disciplinas e profissionais da
saúde, onde o acesso aos serviços associados às PIC beneficiará os seus
usuários.
O

currículo

médico necessita

de

constante

avaliação

e deve

acompanhar as mudanças ocorridas no contexto de procura por novas formas
de tratamento e abordagem terapêutica e diagnóstica. Passou-se por
momentos de reflexão sobre a relação médico paciente e as perspectivas do
processo de ensino-aprendizagem e junto com elas a possibilidade de
ampliação da integração da medicina integrativa e complementar.
A crise nos paradigmas da medicina moderna tem sido acompanhada no
contexto global, pois a saúde necessita deixar de ser centrada na biologia e
ampliar os saberes tradicionais. A PNPIC traz a discussão para uma prática
médica que fortaleça a promoção da saúde tendo uma abordagem integral do
indivíduo. Acreditou-se que esse estudo venha a contribuir para a discussão e
inclusão dessa política no ensino médico e que observem-se que com a

44

utilização das PIC, o SUS será beneficiado com menos gastos com
medicamentos, menos internamentos, pois a saúde preventiva e integral estará
sendo utilizada.

2.5 REFERÊNCIAS
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Suíça: World Health Organization, 2002.
______. International Classification of Diseases (ICD), 2011.

3

PRODUTOS EDUCACIONAIS DE INTERVENÇÃO
E-Book – Práticas Integrativas e Complementares no Ensino na Saúde.
Blog Educacional – Práticas Integrativas no Ensino.

48

3.1 E-book – Práticas Integrativas e Complementares na Saúde e Blog
Educacional – Práticas Integrativas no Ensino
E-book e Blog educacional criados como produtos educacionais de
intervenção para o Mestrado Profissional de Ensino na Saúde.

3.2 Introdução
As novas tecnologias têm sido utilizadas no processo de ensino
aprendizagem e sua acessibilidade aos vários meios eletrônicos possibilita que
uma diversidade de usuários possa buscar esse novo meio de acesso a
informação, ampliando o conhecimento e possibilitando a sua disseminação
por um processo rápido e geralmente gratuito (SOARES, 2002).
A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do SUS
(PNPIC) foi publicada através da Portaria n.971 no ano de 2006 (BRASIL,
2006) e complementada com outras Práticas Integrativas e Complementares
(PIC) pela portaria n.633 no ano de 2017 (BRASIL, 2017) e, apesar de ter sido
inicialmente construída há 11 anos, ainda é pouco conhecida no ensino
superior no curso de medicina e também nos outros cursos na área da saúde
(AZEVEDO; PELICIONE, 2012).
O e-book refere-se ao livro eletrônico que é resultado da junção da
estrutura clássica de um livro com as características que podem ser fornecidas
pelo ambiente eletrônico, podendo ser utilizado como um instrumento de
ensino, além de proporcionar um uso consciente de uma transição de
paradigma que tende a sofrer alterações quanto à concepção, a escrita, a
produção, a distribuição, a comercialização, a promoção e a leitura, podendo
ser composto e lido em tablet, smartphone ou computador (DUARTE, 2013).
Um blog, abreviação da palavra weblog, é um recurso que possibilita
fazer um registro, log significa registro, criando na web (rede, teia) e ainda
associar o conteúdo a uma página da internet. Através do blog é possível
elaborar e divulgar conteúdos que podem vir a ser disseminados pela rede e
contribuírem para o processo de ensino e aprendizagem (MERCADO, 2010). É
um recurso educacional onde as informações são disseminadas num espaço à
leitura e produção de textos pequenos onde comentários e questionamentos
são possíveis (CARVALHO et al., 2006).

49

Produtos educacionais como um e-book e um blog possibilitarão o
acesso universal a conteúdos gratuitos e de fácil acesso sobre as PIC e a
PNPIC entre discentes e docentes de cursos no ensino em saúde.

3.3 Objetivo
Esses produtos educacionais de intervenção, um e-book e de um blog
educacional, tiveram como objetivo geral proporcionar a divulgação, o
conhecimento, e estimular o ensino e pesquisa das Práticas Integrativas e
Complementares

e

da

Política

Nacional

de

Práticas

Integrativas

e

Complementares, dentro dos cursos médicos e da saúde.

3.4 Justificativa
A discussão sobre o ensino, pesquisa, extensão e divulgação das PIC
ainda é pouco utilizada nos cursos em saúde e especialmente nos cursos
médicos em todo o país. A criação de instrumentos de estudo possibilitará o
seu acesso de forma prática, rápida, gratuita e de fácil entendimento, onde
contará com arquivos, anexos, links e orientações sobre as PIC e a PNPIC,
contribuirá para o seu conhecimento, divulgação e incentivo à pesquisa,
extensão e prática no ensino na saúde.

3.5 Público alvo
Docentes e discentes dos cursos de graduação em medicina e a todos
dos cursos em saúde.
3.6 Metodologia
Foi elaborado um e-book educacional através de uma plataforma
denomina InDesign. Nela está contido material didático como informações
educativas compiladas sobre as PIC e a PNPIC, como links de acesso a
documentos, portarias, artigos, imagens, vídeos, projetos e o próprio Trabalho
Acadêmico de Conclusão de Curso (TACC). O acesso será feito através da
internet e podendo ser visualizada em meios eletrônicos como tablets,
smartphone e computador, sendo gratuita e de fácil manipulação e
disseminação.

50

Um blog educacional foi elaborado de forma gratuita através da
plataforma de blogs ‘blogger.com, que pertence ao Google desde 2003,
‘praticasintegrativasnoensino’. Contem material

didático

com

conteúdos

relacionados às Práticas Integrativas e Complementares, possibilitando a sua
divulgação e conhecimento no ensino na saúde.
Como estratégia para divulgação e acesso ao e-book educacional e ao
blog foram utilizadas as redes sociais como o WhatsApp, facebook, youtube,
como também email e inserido nos sites da FAMED e da disciplina Tecnologias
Aplicadas ao Ensino e Pesquisa em Saúde (TAEPS) do Mestrado Profissional
de Ensino na Saúde.

3.7 Resultados
O e-book foi criado em novembro de 2017 com o título A Política
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Processo de
Ensino, Pesquisa e Extensão na Graduação em Medicina, como mostra a
figura 10, e foi acessado, compartilhado e divulgado através de redes sociais
como o WhatsApp, facebook, instagram e youtube, email e inserido no site da
Faculdade de Medicina da UFAL e na disciplina Tecnologias Aplicadas ao
Ensino e Pesquisa em Saúde (TAEPS) do Mestrado Profissional de Ensino na
Saúde.
O e-book é uma prática de leitura e ensino que contribui para o
mecanismo de produção, reprodução e difusão de conteúdo da saúde e deve
ser mais explorado no processo ensino aprendizagem na saúde.

51

Figura 10: Capa do E-book A Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares (PNPIC) no Processo de Ensino,
Pesquisa e Extensão na Graduação em Medicina.

Um blog foi criado em 15 de novembro de 2017, como mostra a figura
10, e nele foram inseridas informações e conteúdo e vídeos relacionados às
PIC e a PNPIC em todo o país, principalmente relacionado ao ensino. Foi
acessado por centenas de pessoas e deve ser utilizado como um meio de
ensino e incentivo a sua inserção nos processo de ensino aprendizagem das
PIC. O endereço do blogger intitulado Práticas Integrativas e Complementares
no Ensino na Saúde é https://praticasintegrativasnoensino.blogspot.com.br/ .

52

Figura 11: Publicação do blog sobre Práticas Integrativas e
Complementares no Ensino na Saúde.

O uso da tecnologia no ensino em saúde como um e-book e um blog,
possibilitou o acesso e o conhecimento de conteúdos de relevância sobre a
PIC e a PNPIC na população acadêmica e na comunidade em geral, pois sua
capacidade de acesso gratuito e universal a várias temáticas torna-o uma
ferramenta cooperativa.
3.8 REFERÊNCIAS
AZEVEDO, E.; PELICIONI, M.C. F. Práticas Integrativas e Complementares de
Desafios para a Educação. Revista Trabalho, Educação e Saúde. Rio de
Janeiro: v. 9 n. 3, p. 361-378, nov.2011/fev. 2012.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento
de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares no SUS - PNPIC-SUS /Ministério da Saúde, Secretaria de
Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. - Brasília: Ministério da
Saúde, 2006. 92 p. - (Série B. Textos Básicos de Saúde).

53

______. Portaria n. 971, de 3 de maio de 2006. Aprova a Política Nacional de
Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde
(SUS). Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, 04 maio 2006.
Brasília: Ministério da Saúde; 2006.
______. Ministério da Saúde. Portaria Nº 849, de 27 de março de 2017 - Inclui
a Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia,
Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia
Comunitária Integrativa e Yoga à Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares. Diário Oficial da União, Brasília, DF, n. 60, p. 68, 28 mar.,
2017. Seção 1.
______. Secretaria de Atenção à Saúde. Portaria Nº 633, de 28 de março de
2017 - Atualiza o serviço especializado 134 Práticas Integrativas e
Complementares na tabela de serviços do Sistema de Cadastro Nacional de
Estabelecimentos de Saúde (CNES). Diário Oficial da União, Brasília, DF, n.
63, p. 98, 31 mar., 2017. Seção 1.
CARVALHO, A. A. A. et al. Blogue: uma ferramenta com potencialidades
pedagógicas em diferentes níveis de ensino. In: COLÓQUIO SOBRE
QUESTÕES CURRICULARES, 7., Braga, Portugal, 2006. Actas... Braga:
CIED, 2006. p. 635-652. Disponível em:.
<https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/5915/1/3018.pdf>; Acesso
em: 10 nov. 2017.
DUARTE, Adriana Bogliolo Sirihal et al. Livro eletrônico: o que dizem os
bibliotecários da Universidade Federal de Minas Gerais. In: Anais do
Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da
Informação-FEBAB. 2013. p. 2218-2233
MERCADO, L. P .L. TIC em blog na formação docente superior: narrativa de
um formador. Revista EDaPECI, v. 5, nº 5, 2010, p. 113-133. Disponível em
http://www.seer.ufs.br/index.php/edapeci/article/view/590. Acesso em 01 nov.
2017.
SOARES, Magda. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na
cibercultura. Educação e Sociedade, v. 23, n. 81, p. 143-160, 2002.
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-73302002008100008.

4

CONSIDERAÇÕES FINAIS DO TRABALHO ACADÊMICO
Este trabalho possibilitou aprofundar sobre a justificativa do projeto do

TACC que foi a deficiência e pouco incentivo ao ensino das PIC. Através do
grupo focal constatamos, na fala dos discentes, que o acesso ao ensino e o
conhecimento da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
são deficitários.

54

Discentes relatam nas suas falas a necessidade de abertura para um
diálogo e aprendizagem compartilhada, onde as PIC poderiam estar inseridas.
A carga horária excessiva foi algo que nos alerta para a forma como o ensino
está sendo utilizado e como poderíamos melhorar o processo de ensino
aprendizagem junto a discentes de cursos de medicina em nosso país. As
várias tentativas frustradas de formar um grupo focal com docentes demostra a
falta de interesse observada entre eles e que repercutiu nas categorias
oriundas do grupo focal com os discentes.
A escolha de um e-book e um blog como produtos educacionais tiveram
como objetivo poder contribuir para o conhecimento através do acesso a
legislação, documentos, projetos, vídeos acerca das PIC e da PNPIC. A partir
desse TACC estimular o incentivado e o interesse nos processos de ensino,
pesquisa e extensão nos cursos médicos e da saúde, entre discentes e
docentes, a introdução das PIC e da PNPIC, pois essa política completou 11
anos de existência e ainda é pouco conhecida.

REFERÊNCIAS GERAIS
AZEVEDO, E.; PELICIONI, M.C. F. Práticas Integrativas e Complementares de
Desafios para a Educação. Revista Trabalho, Educação e Saúde. Rio de
Janeiro: v. 9 n. 3, p. 361-378, nov.2011/fev. 2012.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo/ Laurence Bardin; tradução Luís Antero Reto,
Augusto Pinheiro. São Paulo: Edições 70, 2012.
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Integrativas e Complementares no SUS: passos para o pluralismo na saúde.
Caderno de Saúde Pública, v.23, n.12, Rio de Janeiro, Dec. 2007.
BENEVIDES, I. Inserção da medicina antroposófica no Sistema Único de
Saúde: aspectos históricos, marcos normativos e desafios para sua
implementação. Revista Arte Médica Ampliada. Vol.32, n. 1, pag. 4-11,
Jan/fev/mar de 2012.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento
de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares no SUS - PNPIC-SUS /Ministério da Saúde, Secretaria de
Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. - Brasília: Ministério da
Saúde, 2006. 92 p. - (Série B. Textos Básicos de Saúde).
______. Ministério da Saúde. Portaria Nº 849, de 27 de março de 2017 - Inclui
a Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia,
Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia

55

Comunitária Integrativa e Yoga à Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares. Diário Oficial da União, Brasília, DF, n. 60, p. 68, 28 mar.,
2017. Seção 1.
______. Secretaria de Atenção à Saúde. Portaria Nº 633, de 28 de março de
2017 - Atualiza o serviço especializado 134 Práticas Integrativas e
Complementares na tabela de serviços do Sistema de Cadastro Nacional de
Estabelecimentos de Saúde (CNES). Diário Oficial da União, Brasília, DF, n.
63, p. 98, 31 mar., 2017. Seção 1.
______. Lei 8.080, de 19 de Setembro de 1990. Dispõe sobre as condições
para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário
Oficial da União, Brasília, 20 set., p.18055, 1990. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm. Acesso em: 01.12.2016.
______. Portaria n. 971, de 3 de maio de 2006. Aprova a Política Nacional de
Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde
(SUS). Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, 04 maio 2006.
Brasília: Ministério da Saúde; 2006.
______. Parecer nº 1.133 de 7 de outubro de 2001. Dispõe as Diretrizes
Curriculares para os cursos de graduação de Enfermagem, Farmácia,
Medicina, Nutrição e Odontologia. Ministério da Saúde/Educação Brasília,
2001.
______. Resolução nº 3, de 20 de junho de 2014. Institui Diretrizes Curriculares
Nacionais do Curso de Graduação em Medicina e da outras providências.
Conselho Nacional de Educação. Brasília, 2014.
CARNEVALE, R. C. et al. O Ensino da Acupuntura na Escola Médica: Interesse
e Desconhecimento. Revista Brasileira de Educação Médica. v.41, n.1, pag.
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pedagógicas em diferentes níveis de ensino. In: COLÓQUIO SOBRE
QUESTÕES CURRICULARES, 7., Braga, Portugal, 2006. Actas... Braga:
CIED, 2006. p. 635-652. Disponível em:.
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TEIXEIRA, M. Z. Homeopatia: desinformação e preconceito no ensino
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Suíça: World Health Organization, 2002.
______. International Classification of Diseases (ICD), 2011.

59

APÊNDICE
Quadro: Categorias e subcategorias oriundas das falas dos discentes do grupo focal.
Categorias
de Análise
Desconhe
cimento da
PNPIC

Subcategorias

Falas/Unidades de Contexto/Citações

Nuvem de palavras

Pouca
“Por convicção, nada”. (Guto).
visibilidade das “Eu estava lembrando que tem, existe uma política. Só que eu não consigo lembrar o
práticas
que é..PN, alguma coisa. Tem alguma coisa....política nacional de práticas
integrativas na integrativas...não sei”. (Tine)
graduação
“[...] Acho que poderia ter uma matéria sobre, não uma matéria sobre homeopatia, uma
matéria sobre práticas integrativas, que englobava tudo. Poderia até ser inserido, sei lá”.
(Jô)
“Poderia sim ter uma visão integral, uma visão que a gente não tem, mas que não fosse
uma matéria para não sobrecarregar, fosse nas outras matérias”. (Amanda) “Durante a
graduação a gente não teve nenhuma informação sobre isso não. Então, eu sei por
cima...” (Jô)
“Eletiva de acupuntura.” (Tine)
“Eletiva de acupuntura.” (Glayde)
“Eletiva de acupuntura e a outra de diagnóstico do professor X que ele puxava um pouco
da parte baseada em evidência.” (Pedro)
“Se a gente não tem o contato antes, pregresso, um conhecimento dessas práticas, fica
difícil a gente no futuro indicar corretamente [...], orientar a pessoa de maneira
adequada...” (Pedro)“A gente não tem uma visão, como é que agente vai colocar a
acupuntura na neuro, como é que a gente vai colocar a homeopatia na gastro. [...] Para
integrar essas práticas integrativas na clínica” (Amanda)“Ter uma disciplina de práticas
integrativas que a gente tivesse o contato, mesmo que superficial, mas de cada coisa,
pra quando a gente estiver com o paciente lá a gente saber sei lá, saber orientar sobre
isso.” (Tine)
“Conheço o projeto que a professora Z faz com os drogaditos. Aí algumas vezes a gente
já conseguiu assim que eles fizessem acupuntura neles. [...] É um projeto de extensão
que é multidisciplinar, tem estudantes de serviço social, psicologia, aí várias pessoas
fazem lá.” (Tine).
“Não vou mentir que se houvesse essa disciplina, hipoteticamente falando, acredito que
mais da metade da sala sairia falando que negócio chato, pra que ver isso. Tenho
certeza que seria assim. Mas eu acredito que em 40% seria útil, alguém teria o
conhecimento e iria usar ele.” (Guto)

59

60

Falha no
acesso as
PIC e sua
inclusão
no ensino
médico

Curso
médico
insuficiente para “Eu acho que a gente não tem essa visão porque no, na graduação a gente não tem
o ensino das essas matérias de homeopatia, acupuntura. Geralmente quando tem, é eletiva, são
PIC
poucas vagas.” (Amanda)
“Eu me recordo dos primeiros períodos, lá atrás, das aulas de Saúde e Sociedade, lá no
comecinho, segundo, terceiro período, havia discussões bem superficiais sobre
homeopatia, tinha sobre acupuntura, até que o professor X fez uma propaganda da sua
eletiva que na época iria iniciar a fazer, mas se restringiu a só isso mesmo. Tem nossa
medicina baseada em evidencia, tão que é assim desse jeito, desse jeito e tem a
homeopatia que funciona mais ou mesmo assim, e ai fazia um apanho geral, mas era
isso e acabou. Nunca mais ouvi falar sobre isso na graduação.” (Jô)“Acho que uma
disciplina seria inviável, o ideal seria inserir nas disciplinas [...] na disciplina de Saúde e
Sociedade, nas disciplinas generalistas.” (Mineirinho)“Não tem espaço na grade.“
(Mineirinho)
“E o curso médico é um exagero. Você sai, informação, informação, e você ainda tem
que saber isso e isso. Não cabe. De 9 da noite? É uma coisa. A gente chega de 7 e sai
6, 7. O curso inteiro. E, onde vai encaixar?” (Guto)“Acho mais difícil de visualizar porque
a gente realmente não tem prática. Fica difícil visualizar.” (Jô) “Não tem espaço na grade.
Tem outras disciplinas que não entram também. Acredito que não tenha espaço
também.” (Mineirinho)“Só foi quando a gente fez a eletiva de acupuntura com o professor
X. Acho que a Y até deu uma aula pra gente também, ou mais de uma, só esses dois
momentos. Então foi em uma eletiva e outro foi dentro de Saúde e Sociedade, um único
dia, que foi um filme. Nunca mais.” (Tine)
Carência
de “acho que tentar inserir as práticas integrativas nas disciplinas não funciona no modelo
incentivo/divulga atual porque os médicos, eles são muito fechados para isso [...] o paciente estiver um
ção das PIC problema de saúde e a gente se tiver alguma coisa que esteja fora da medicina
pelos médicos tradicional, eles passam muito assim sem dar valor. Acho que iria continuar da mesma
docentes
forma.” (Tine)
“Eu acho que no máximo nota de rodapé na sala de aula assim...tem isso, faz aquilo” (Jô)
“Eu acho que também durante a faculdade a gente acaba muito ao contrário. Não
adquirindo, [...] conhecimento sobre essas outras áreas, quando é meio que quebrado
um pouco isso pra gente, [...] isso não funciona ou pode fazer acupuntura, mas não é
comprovado. E eu vejo muito isso, eu fui criada, minha mãe me tratou a vida toda com
homeopatia, meu pai fazia acupuntura,..tudo isso.” (Cleyde).“Oprime realmente você, [...]
A gente tem uma leva de professores que foi educado dessa maneira e eles tentam

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passar pra gente, na maneira como eles foram educados.” (Jô)
Dificuldade de “... você encaminha e às vezes o paciente vai procurar um serviço de suporte no que
acesso às PIC
você está tratando, fisioterapia, nutrição, outras áreas, mas ele não dá continuidade
porque ele não consegue marcar lá. [...] É como se fosse integrar, mas ao mesmo tempo
tudo dissociado porque ele some e vai tentar fazer alguma coisa e se o serviço não dá
um suporte pra que você tenha os resultado, não existe integração.” (Guto)
Preconceit
o sobre às
práticas
integrativa
s
e
compleme
ntares

Misticismo

Medo

“Mas, eles jamais passariam esse tipo de coisa pra gente, entendeu? Eu acho que é,
mas isso, pessoal mesmo, preconceito, etc.. É a forma que eles foram, se formaram
mesmo, a formação deles na faculdade, e tal.” (Gleyde)“As pessoas não conseguem
conceber no geral, o conceito de ciência como ele já é tradicional, imagine quanto ao
quântico, acho muito difícil, assim no geral, na graduação, misturar essas lacunas, ou
conceitos, vai ficar muito complicado...” (Jô)
“[...] Então, tem essa questão cultural, que você também corresponde a expectativas do
paciente, e se o paciente não está bem para isso, não adianta falar em energia. Ele vai
dizer, meu amigo, você é charlatão, você está me enrolando, né?.” (Guto)
“Eu acho que é mais cultural da gente, se falam, que o povo brasileiro é um dos mais
místicos.” (Jô)
“... você fala de cirurgião, cirurgião reikiano. Se pegar aqui os cirurgiões do HU, a gente
passa a visita, se um discutir sobre métodos cirúrgicos lá, [...] o debate é sobre o médico
que já está um tanto proscrito, [...] a discussão é essa, ficam brigando se um método
proscrito ainda se utilizado, deveria ser usado, aí vai chegar alguém para falar, mas tem
um estudo sobre reiki. Na cabeça deles não vai entrar nada sobre isso, pode ser lá onde
for o estudo. Ah, lá, mas sei lá sei o que.” (Jô)
“Acho que é uma dificuldade cultural, por exemplo, eu acho que os médicos, a maioria
dos que a gente conhece, se a gente trouxesse para ele o estudo dizendo que o reiki é
no sei o que, eles vão rir da nossa cara, mesmo trazendo isso daqui, entendeu.” (Gleyde)
”Eu acho que a medicina é muito sistematizada. A gente pra se prevenir e até seguir
qualquer escola. Vai tratar diabetes, hipertensão, o que seja, tem que ter algum protocolo
para seguir. Você está resguardado legalmente. Eu acho que essas práticas integrativas
não existem, não existe esse suporte de protocolo se eu continuo fazendo da medicina
tradicional, meu risco é quase zero porque eu estou seguindo o protocolo, enfim, eu vou
argumentar, mas, as vezes você intui alguma coisa. Como é o caso que o Jô citou. Inclui
a homeopatia. Muitos tratam.” (Guto)

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(Des)valorizaçã
o das PIC

Falta
de
evidências
científicas

Falta
de
transdisci
plinalidade

“Na cabeça deles não vai entrar nada sobre isso, pode ser lá onde for, o estudo, mas sei
lá o que. Acho que a parte cultural, o embate de mentalidade é um dos entraves, mas, na
medicina em si [...], aquela questão mais estrutural mesmo, na mentalidade das pessoas,
na classe médica.” (Jô)
”...isso é lá médico? Como é que o cara lá médico, eu vou, pago uma consulta para ele
me examinar, ai ele me manda fazer acupuntura, ahhh, comeu o meu dinheiro.” (Guto)
“Só é bom o que vem de fora.” (Guto)
“Exatamente, isso seria o ideal, mas certamente, se houvesse um, se no protocolo do
ano que vem europeu, da escola europeia, saísse qualquer coisa para a gente aderir.”
(Guto)
“Eu acredito que eles não usam e agora o reiki porque eles viram que funcionam que
ajuda, claro, se não eles não estariam usando e dois, devem reduzir gasto.” (Jô)
“Eu particularmente não acredito, mas se funciona pras pessoas, eu acho válido. O que
eu acho que pode prejudicar é quando vem essa briga de médico homeopata que fala Você não precisa tomar o remédio não, só precisa disso aqui parentes meus já deixaram
de dar remédio da medicina.” (Jô)
“Eu só compraria a ideia se as práticas integrativas fossem mostradas de forma prática e
que a gente pudesse enxergar os resultados. Chegar lá no quadro seria uma disciplina
que eu iria faltar o percentual que eu pudesse pra passar porque não dá pra você
competir com sua vida inteira, sua formação inteira de forma tradicional vendo que um
fármaco o resultado é 87% e a prática integrativa, quantos por cento? A prática teria que
ter, […] pelo menos 50% da disciplina [...] não adianta você competir com omeprazol que
tem 95% de efetividade com uma coisa que não sei, outros melhoram outros não...”
(Guto)
“Mesmo que não tenha, assim um respaldo da medicina baseada em evidência, como a
gente tem o farmacologismo, mas não vai fazer mal. Se todas as práticas integrativas
que não tem um respaldo grande de evidências palpáveis, assim, você tem que ver se
vai está prejudicando.” (Jô)
“Também gera uma briga porque quando inclui uma disciplina em cima da outra e a outra
argumenta que era melhor, mais importante.” (Guto)
“...essa engrenagem de integração […], o serviço precisa existir, porque você tem que ter
a condição de encaminhar esse paciente […]. É como se fosse integrar, mas ao mesmo
tempo tudo dissociado porque ele some e vai tentar fazer alguma coisa e se o serviço
não dá um suporte pra que você tenha resultado, não existe integração […], se você não
acompanha o serviço que você indicou para auxiliar a sua conduta e andar junto, você
não vai ter parâmetros nenhum nessa integração.” (Guto)

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“A gente tem um número de informação muito grande. Todos os professores acham que
a gente tem que saber só a disciplina deles, a matéria deles. [...] são poucos professores
que sabem passar o essencial pra gente.” (Gleyde)
“[...] Para a gente ter uma noção, pra gente saber o que que é, não para a gente
aprender assim na cardiologia é bom tal remédio homeopático, tal exercício reikiano,
acho que não. Acho que a gente tinha que ter a base e entender isso. Como eu acho que
deveria ser em todas as disciplinas, mas...” (Cleyde)
“Eu acho que é um desafio muito grande para vocês colocar essa disciplina (PIC),
porque, assim, nós pagamos recentemente num estágio de psiquiatria [...]
acompanhando o serviço dos outros profissionais e a partir dai conhecer [...] saber da
importância de um psicólogo, trabalhando com eles e confesso que para mim e para a
maioria da sala foi terrível passar essas duas semanas lá (risos) [...] Igual ao que o Guto
falou tem que ter a prática, mas não é a prática que a gente vê assim, tem que interagir,
porque é difícil passar o tempo assim.” (Tine)

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