20- Prática Docente e Interdisciplinaridade em um Estágio em Saúde Coletiva
TACC - VIVIANE DE LIMA BIANA.pdf
Documento PDF (1.8MB)
Documento PDF (1.8MB)
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
FACULDADE DE MEDICINA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO NA SAÚDE
VIVIANNE DE LIMA BIANA
PRÁTICA DOCENTE E INTERDISCIPLINARIDADE EM UM ESTÁGIO EM SAÚDE
COLETIVA
MACEIÓ
2014
VIVIANNE DE LIMA BIANA
PRÁTICA DOCENTE E INTERDISCIPLINARIDADE EM UM ESTÁGIO EM SAÚDE
COLETIVA
Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Alagoas, como parte das
exigências do Programa de PósGraduação em Ensino na Saúde, para
obtenção do título de Mestre em Ensino
na Saúde.
Orientadora: Profa. Dra. Jerzuí Mendes
Tôrres Tomaz
Co-orientador: Prof. Dr. Carlos Henrique
Falcão Tavares.
MACEIÓ
2014
Catalogação na fonte
Universidade Federal de Alagoas
Biblioteca Central
Divisão de Tratamento Técnico
Bibliotecário Responsável: Valter dos Santos Andrade
B577p
Biana, Vivianne de Lima.
Prática docente e interdisciplinaridade em um estágio em saúde coletiva /
Vivianne de Lima Biana. - 2014
55 f.
Orientadora: Jerzuí Mendes Torres Tomaz
Co-orientador: Carlos Henrique Falcão Tavares.
Trabalho acadêmico (Mestrado Profissional em Ensino na Saúde) –
Universidade Federal de Alagoas. Faculdade de Medicina. Programa de
Pós-Graduação em Ensino na Saúde. Maceió, 2014.
Inclui bibliografias.
Apêndices: f. 46-55.
1. Professores - Formação. 2. Abordagem interdisciplinar do
conhecimento. 3. Ensino de saúde. 4. Saúde coletiva. I. Título.
CDU: 61:378.147
Dedico este texto a minha família, pelo
incentivo e apoio compartilhados. Em especial, ao
meu pai, Jorge Biana, in memorian, que partiu
durante a realização deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
A Deus, sempre presente em minha vida e que me ergueu nos momentos de
fraqueza, iluminando meus caminhos e me enchendo de força, paz e tranquilidade.
Aos meus pais, Jorge Biana (in memorian) e Audinete de Lima Biana, por todo amor,
carinho e incentivo aos meus estudos. Vocês são exemplos de honestidade e força.
Essa conquista pertence a vocês
Aos meus irmãos, Adriano e Larissa, por todo apoio e por compreenderem as
minhas ausências.
Ao meu esposo, Francisco de Assis, pelo amor e apoio compartilhados diariamente,
dando-me forças para superar os obstáculos.
A minha avó, Aderita Rodrigues, um exemplo de amor incondicional. Vó, esta
conquista é sua também.
Aos meus orientadores, Profa. Dra. Jerzuí Tomaz e Prof. Dr. Carlos Henrique, pela
atenção, disponibilidade e por compartilharem seus ensinamentos e experiências.
A todos os professores e funcionários que fazem o Mestrado Profissional de Ensino
na Saúde, um programa sério e com diferencial, que representou um marco em
minha vida profissional.
Aos meus amigos do mestrado, pelo apoio, sorrisos e por tornarem esta jornada
mais prazerosa.
A todos os colegas da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas e do
Instituto de Ensino Superior de Alagoas, em especial a Geraldo Magella, Ana
Raquel, Emanuella Pinheiro, Ana Paula Nunes e Edson Alcântara, pela confiança e
incentivo constantes.
RESUMO
Sabemos que a docência universitária deve propiciar a formação do profissional
cidadão, devendo se contrapor à formação tecnicista. Nesse sentido, estudiosos da
educação recomendam uma nova articulação entre a teoria e a prática e apresentam
a interdisciplinaridade como uma possível alternativa para tal, a fim de superar os
problemas críticos do passado e ceder lugar aos benefícios de uma nova prática e
conceito de saúde. O presente estudo analisa as práticas docentes relacionadas à
interdisciplinaridade nos estágios de saúde coletiva de uma universidade pública do
estado de Alagoas. O estudo possui caráter descritivo de abordagem qualitativa e os
dados foram coletados através de entrevista. Para análise dos dados, optou-se pela
modalidade de análise temática. Os resultados mostraram: variadas visões quanto à
interdisciplinaridade; diversos obstáculos para a vivência de práticas
interdisciplinares; e indicam a necessidade de capacitações e incentivos à formação
profissional.
Descritores: Ensino superior. Comunicação interdisciplinar. Docentes. Saúde
coletiva.
ABSTRACT
The College faculty shall provide training for the citizen professional, should
counteract the technical education. Education scholars recommend a new
articulation between theory and practice. Interdisciplinarity is presented as a possible
alternative aiming to overcome the critical problems of the past, giving way to the
benefits of a new practice and health concept. The present study aimed to analyze
the teaching practices related to interdisciplinarity in the stages of collective health of
a university in the state of Alagoas. The study has a qualitative descriptive approach.
Data were collected through interviews. For data analysis, was chosen the method of
thematic analysis. The results showed: varying views as to interdisciplinarity; several
obstacles to the experience of interdisciplinary practices; and indicate the need for
training and incentives for training.
Descriptors: Higher education. Interdisciplinary communication. Teachers. Public
health.
RESUMEN
A la docencia universitaria debe facilitar la formación de los ciudadanos profesional,
debe contrarrestar la educación técnica. Estudiosos Educación recomiendan una
nueva articulación entre la teoría y la práctica. La interdisciplinariedad se presenta
como una alternativa posible con el objetivo de superar los problemas críticos del
pasado, dando paso a los beneficios de una nueva práctica y el concepto de salud.
El presente estudio tuvo como objetivo analizar las prácticas de enseñanza
relacionados con la interdisciplinariedad en las etapas de la salud colectiva de una
universidad en el estado de Alagoas. El estudio tiene un enfoque cualitativo
descriptivo. Los datos fueron recolectados a través de entrevistas. Para el análisis
de los datos, se optó por el método de análisis temático. Los resultados mostraron:
diferentes puntos de vista en cuanto a la interdisciplinariedad; varios obstáculos a la
experiencia de las prácticas interdisciplinarias; e indicar la necesidad de formación y
los incentivos para la formación.
Descriptores: La educación superior. La comunicación interdisciplinaria. Los
profesores. De la salud pública.
SUMÁRIO
1
APRESENTAÇÃO......................................................................................... 10
2
PRÁTICA DOCENTE E INTERDISCIPLINARIDADE EM UM ESTÁGIO EM
SAÚDE COLETIVA ....................................................................................... 13
2.1
Introdução .................................................................................................... 13
2.2
Percurso metodológico ............................................................................... 15
2.3
Apresentação e discussão dos dados ....................................................... 19
2.3.1 Considerações do eixo temático Plano de ensino – Práticas de planejamento
...................................................................................................................... 20
2.3.2 Considerações do eixo temático Habilidades profissionais – Vivências práticas
...................................................................................................................... 22
2.3.3 Considerações do eixo temático A interdisciplinaridade no processo de
ensino-aprendizagem .................................................................................... 26
2.4
Considerações Finais .................................................................................. 34
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 37
3
PRODUTO DE INTERVENÇÃO – BLOG: INTERDISCIPLINARIDADE E
SAÚDE COLETIVA ....................................................................................... 42
3.1
Introdução .................................................................................................... 42
3.2
Objetivos ...................................................................................................... 44
3.2.1 Objetivo geral ................................................................................................ 44
3.2.2 Objetivos específicos ..................................................................................... 44
3.3
Público Alvo ................................................................................................. 45
3.4
Ações e Estratégias ..................................................................................... 45
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 46
4
CONSIDERAÇÕES GERAIS ........................................................................ 47
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 48
APÊNDICE A
–
Interface do blog:
interdisciplinaridade
e saúde
coletiva ......................................................................................................... 49
ANEXO A - Comprovante da aprovação do projeto pelo comitê de ética
em pesquisa ................................................................................................. 50
ANEXO B – Comprovante de submissão do artigo à avaliação da Revista
Interface - Comunicação, Saúde, Educação .............................................. 53
10
1
APRESENTAÇÃO
Este trabalho é fruto da minha prática profissional como docente da área da
saúde, visto que neste ambiente vivenciei a dificuldade em estabelecer relações
horizontais entre as diversas áreas do saber. Minhas inquietações me conduzem em
busca de um conhecimento que contribua para a construção de uma atitude
interdisciplinar, para que, desta forma, seja possível romper as fronteiras e ser fonte
multiplicadora deste conceito de interdisciplinaridade.
O ambiente da saúde coletiva foi escolhido por fazer parte da minha vivência
prática como docente e por considerá-lo um campo complexo. Segundo Madel, a
complexidade atual do campo da saúde coletiva permeia tanto as práticas como os
discursos disciplinares nelas envolvidos, bem como as formas de expressão
acadêmicas existentes (2009, p. 306). Tal fato origina, entre as disciplinas que
compõem o campo, um conjunto de mediações de natureza não apenas teórica,
como também política, social e cultural, se considerada a escala hierárquica dos
agentes que intervêm nas práticas e na produção desses saberes disciplinares e se
também consideradas as diferenças de formação e inserção na cultura dos agentes
institucionais, a saber: docentes, pesquisadores, gestores, profissionais do cuidado,
emissores de discursos e normas.
Parafraseando Gadotti (1999), a busca pela interdisciplinaridade dentro das
instituições de ensino surge em resposta à fragmentação das diversas áreas e
disciplinas da saúde, que são estruturadas no saber em partes que buscam o todo.
Desta forma, caminhando isoladas e sem estabelecerem o diálogo e a interação
entre os diversos ramos, reforçam-se as fronteiras entres as disciplinas.
Considero importante que as instituições de ensino superior percebam a
interdisciplinaridade como uma ferramenta capaz de restabelecer o diálogo entre as
disciplinas, já que é um conceito amplamente discutido entre o corpo docente,
porém ainda é pouco aplicado na prática. Penso que essa busca por um ensino
interdisciplinar deve partir inicialmente de uma mudança interna do professor, que
deve substituir procedimentos individualistas por ações participativas, coletivas e
11
decisivas, e perceber em seu dia a dia a necessidade de estabelecer relações
horizontais com os diversos ramos da ciência.
Apresento neste volume um trabalho de conclusão do Programa de Mestrado
Profissional em Ensino na Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal de Alagoas, por meio do artigo original intitulado Prática docente e
interdisciplinaridade em um estágio em saúde coletiva, e um produto de intervenção,
o blog denominado: Interdisciplinaridade e saúde coletiva.
Fizeram parte desta pesquisa docentes do estágio em saúde coletiva dos
cursos
de
Enfermagem,
Fisioterapia,
Fonoaudiologia,
Medicina
e
Terapia
Ocupacional, pertencentes ao Núcleo de Ciências Humanas, Sociais e de Políticas
Públicas – NUCISP, da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de
Alagoas/UNCISAL. Foram analisadas as práticas docentes no que se refere à
interdisciplinaridade no estágio de saúde coletiva e, para isso, fez-se necessário
conhecer
as
atividades
docentes
de
planejamento
e
práticas
ou
ações
interdisciplinares.
Optei pela análise qualitativa, pois segundo Bosi (2004) e Minayo (1993), esta
permite a compreensão de valores culturais e representações de determinado grupo
acerca de um tema específico, sob diferentes perspectivas, abordando as relações
entre atores sociais e ações implementadas.
A análise em profundidade dos fragmentos de fala mostrou que, apesar da
preocupação docente com a construção coletiva, os discursos dos sujeitos
demonstraram as dificuldades em estabelecer relações recíprocas nos campos
isolados de prática, já que as ações acadêmicas nem sempre se inter-relacionam
com as atividades das unidades básicas.
O blog, como produto de intervenção, surge como uma tentativa inicial de
proporcionar um ambiente de troca de saberes e experiências, a fim de romper as
fronteiras entre os campos de prática. De acordo com Xavier (2007), as novas
tecnologias de comunicação influenciam o processo de ensino-aprendizagem, o que
nos leva, no mínimo, a refletir sobre o fato e a buscar novas práticas. Escola e
sociedade não devem caminhar separadamente. Assim, com o uso cada vez mais
12
frequente de novas tecnologias, os educadores devem pensar em como utilizá-las
em sala de aula.
13
2
PRÁTICA DOCENTE E INTERDISCIPLINARIDADE EM UM ESTÁGIO EM
SAÚDE COLETIVA.
2.1
Introdução
A prática pedagógica é considerada o domínio específico à profissão docente,
o que define a identidade profissional do professor, pois reflete a concepção deste
sobre as funções profissionais e o modo como devem ser desempenhadas. Apesar
das propostas de transformações nos currículos e no ensino, as mudanças no
ensino em saúde têm esbarrado em dificuldades (COSTA, 2007, p. 22).
[...] A prática pedagógica é a expressão da luta dos homens em
busca de sua humanização e liberdade; é a expressão de sua luta
cotidiana pela tomada de consciência de sua condição, numa
realidade concreta, socialmente construída, e que necessita ser
superada. E tal superação só pode ser obtida através do diálogo e da
solidariedade, respondendo e respeitando a vocação ontológica do
homem, de ser sujeito (FREIRE, 1975, p. 45).
A docência universitária deve propiciar a formação do profissional cidadão,
devendo-se contrapor aos projetos pedagógicos que privilegiam a formação de
técnicos profissionais. Estudiosos da educação, ao discutirem a formação de
professores e analisarem a prática pedagógica usual (atual ou contemporânea),
recomendam uma nova articulação entre teoria e prática (MASETTO, 1998, p. 823).
Para Pérez-gómez, há uma preocupação com as questões que envolvem o
ensino no qual a atuação do professor, em sua maioria, é instrumental,
fundamentada basicamente em princípios e técnicas científicas, negligenciando-se
aspectos como atitudes e valores éticos e políticos (1992, p. 99). Desta forma, a
área de saúde sofre com o avanço das especializações, que tem como
consequência o esfacelamento do saber e a fragmentação do homem. A saúde se
constitui como um campo cada vez mais complexo, e tanto o aprofundamento dos
conhecimentos científicos quanto os avanços técnicos não são suficientes para
satisfazerem esta complexidade do ser humano.
Nesse contexto, a interdisciplinaridade se apresenta como uma possível
alternativa contra o isolamento docente em sua área de saber, e além de possibilitar
14
o diálogo e a abordagem do homem em sua amplitude, objetiva a superação das
fronteiras entre as disciplinas e cede lugar aos benefícios de uma nova prática e
conceito de saúde (GUEDES; JÚNIOR, 2010, p. 261).
Na prática docente interdisciplinar, a conduta de uma organização disciplinar
dialoga com a da outra, e ambas se alteram reciprocamente, o que proporciona uma
integração dos conhecimentos dos diferentes cursos da área da saúde com as
respectivas disciplinas que compõem os currículos (JAPIASSÚ, 1976; GATTÁS,
2006).
A interdisciplinaridade como um método ou forma de buscar o conhecimento
integral e abrangente visa estabelecer a comunicação e a interação entre as
disciplinas dentro da prática docente, entretanto, integrar conteúdos não seria
suficiente para o sucesso da mesma (GADOTTI, 1999, p. 5).
Sendo assim, a busca por uma prática docente interdisciplinar deve partir
inicialmente de uma mudança de valores do professor, que deve substituir
procedimentos individualistas por ações participativas e coletivas e estabelecer o
diálogo com os diversos ramos da ciência.
Necessário dizer que identificar a necessidade da mudança, buscar novos
conceitos e explorar práticas inovadoras são elementos indispensáveis para superar
o modelo hegemônico do ensino que incentiva a precoce especialização e perpetua
modelos tradicionais de prática em saúde. É necessário, pois, transformar conceitos
e práticas de saúde que orientam o processo de formação (CECCIM;
FEUERWEKER, 2004a, p. 1403 - 1405).
Ainda assim, na conjuntura atual, algumas instituições de ensino superior se
deparam com as fronteiras existentes entre as disciplinas, e a crescente
especialização contribui para o isolamento do docente em sua área específica do
saber, o que dificulta a construção de um conhecimento ampliado.
A Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas – UNCISAL – visa
desenvolver atividades inter-relacionadas de ensino, pesquisa, extensão e
assistência, produzindo e socializando conhecimento, contribuindo para a formação
15
de profissionais aptos a implementarem e gerirem ações que promovam o
desenvolvimento sustentável, atendendo às demandas da sociedade alagoana.
Desta forma, foram criadas as unidades acadêmicas para viabilizarem o
ensino, a pesquisa e a extensão de forma indissociável, mediante a oferta de cursos
e de outras atividades curriculares na forma da legislação vigente. As unidades
acadêmicas são compostas pelos seguintes centros: Centro de Ciências
Integradoras, Centro de Ciências da Saúde, Centro de Tecnologia e Centro de
Educação a Distância.
O Centro é um órgão da administração setorial com funções deliberativas e
executivas, encarregado de gerir os núcleos, cursos e clínicas que o compõem.
Compete aos núcleos coordenar as atividades administrativas e acadêmicas, sendo
compostos pelas diversas disciplinas/módulos dos cursos por campo de saber.
O Núcleo de Ciências Humanas, Sociais e de Políticas Públicas – NUCISP –
faz parte do Centro de Ciências Integradoras e objetiva integrar as diferentes áreas
do saber que tratam o homem como indivíduo inserido em um contexto políticosocial.
Sabemos que a universidade exerce um papel fundamental, visto que
enquanto instituição social, ao mesmo tempo em que transforma a realidade, é
transformada por ela, compartilhando as contradições da sociedade e produzindo
suas próprias contradições. Assim, como sustenta Rozendo et al, as práticas
pedagógicas realizadas no interior da universidade são um reflexo da sociedade,
espelhando a complexidade da dinâmica social e da interação humana (1999, p. 16).
Conhecer as práticas docentes e desvelá-las é fundamental para a tomada de
consciência, sendo também decisivo para que sejam efetuadas ações no sentido de
superar as barreiras existentes entre as áreas do saber.
2.2
Percurso metodológico
16
Esta pesquisa é um estudo descritivo de abordagem qualitativa, o que permite
uma aproximação adequada do objeto de estudo e possibilita apreender os aspectos
singulares e específicos de uma dada realidade.
Optou-se pela análise qualitativa, pois segundo Bosi (2004, p.54) e Minayo
(1993, p.32), esta abordagem permite a compreensão de valores culturais e
representações de determinado grupo acerca de um tema específico, sob diferentes
perspectivas, abordando as relações entre atores sociais e ações implementadas.
De acordo com Minayo e Gomes, a pesquisa social diz respeito à possibilidade
concreta de tratarmos de uma realidade da qual nós próprios somos agentes, pois
existe uma interação entre o sujeito e o objeto (1999, p. 15).
Considerando que o presente estudo se propõe a analisar as práticas
docentes no que ser refere à interdisciplinaridade nos estágios de saúde coletiva
pertencentes
ao
NUCISP/UNCISAL,
investigando
o
que
fundamenta
o
comportamento manifesto das pessoas envolvidas, escolhi o método da entrevista
aberta ou em profundidade (MINAYO; GOMES, 2011, p.24), com questões
norteadoras que possibilitam ao entrevistador liberdade para desenvolver situações
e explorar amplamente a questão apresentada.
Os sujeitos sociais foram considerados em número suficiente, de tal forma
que permitiram a reincidência das informações, sem desprezar informações
relevantes. Foram incluídos no presente estudo docentes do estágio em saúde
coletiva pertencentes ao NUCISP/UNCISAL no ano de 2013, que concordaram com
a participação por meio da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.
Todos
os
docentes
do
estágio
de
saúde
coletiva
vinculados
ao
NUCISP/UNCISAL concordaram com a participação, o que totalizou seis docentes
dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina e Terapia
Ocupacional.
Antecedendo a realização das entrevistas, com caráter de identificação e
caracterização do público-alvo, foi solicitado o preenchimento de um questionário de
identificação pessoal contendo informações de formação escolar e profissional,
como demonstrado abaixo no quadro 01:
17
Quadro 01 – Dados do questionário de identificação pessoal.
Sujeito
A
B
C
D
E
F
Idade
29
28
32
30
43
60
Sexo
F
F
F
F
F
M
Graduação/
Terapia
ano de
Ocupacional/
Fonoaudiolo
Fonoaudiolo
Enfermage
Fisiotera
Medicina
conclusão
2007
gia/ 2007
gia/ 2002
m/2009
pia/1993
/ 1978
UNCISAL
UNCISAL
UNICAP
UFAL
UNIFOR
Mestra em
Mestra em
Ensino na
Ensino na
Doutoranda
Mestranda
Saúde;
Saúde;
em Saúde
em Ensino
Formação
Especialista
Especialista
Materno
na Saúde;
Compleme
em Saúde da
em Gestão e
Infantil;
Especialist
ntar
Família;
Auditoria no
Mestra em
a em
Especialista
Sistema
Ciências da
Saúde da
em Educação
Único de
Linguagem
Família
Inclusiva
Saúde.
Não
Não
Sim
Não
Instituição
de
conclusão
UNCISA
L
Mestra
Residênc
em
ia em
Saúde
Clínica
Coletiva
Médica
Sim
Sim
Vínculo
Institucion
al Efetivo
Santa
Outros
locais de
trabalho
Secretaria
Instituto de
Ensino
Superior de
Alagoas
Municipal
----
----
de
Marechal
Deodoro
Casa de
Misericór
dia de
Consutór
Maceió;
io
Faculdad
e de
Alagoas
Fonte: Autora, 2013.
Os dados apresentados no quadro 01 demonstram que, dos 06 docentes
entrevistados, 03 são mestres, 01 está cursando o doutorado, 01 está cursando
mestrado e 01 é especialista, a maioria encontra-se na faixa etária de 25 – 45 anos,
05 são do sexo feminino, 01 do sexo masculino e 05 concluíram o curso de
graduação há mais de 07 anos.
18
Observa-se ainda que, no que se refere ao vínculo empregatício, apenas 03
docentes apresentam vinculo efetivo com a instituição e 04 trabalham em outras
instituições públicas e/ou privadas.
O conjunto de informantes foi diversificado, de forma que possibilitou a
apreensão de semelhanças e diferenças entre os participantes. Por meio das
questões norteadoras, busquei analisar as práticas docentes interdisciplinares. Dito
de forma mais específica, procurei conhecer as atividades docentes em nível de
planejamento e prática no que se refere à interdisciplinaridade no Estágio de Saúde
Coletiva dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina e
Terapia Ocupacional, bem como propor à Instituição de Ensino sugestões de
práticas docentes que favoreçam ações interdisciplinares.
Segundo Minayo, a técnica mais comum para efetuar o tratamento dos dados
de uma pesquisa qualitativa é a análise de conteúdo (1998, p. 74). Por meio da
análise do conteúdo, podemos encontrar respostas para questões formuladas e
também podemos confirmar ou não as afirmações/hipóteses estabelecidas antes do
trabalho de investigação. Conforme Bardin, a análise de conteúdo pode ser definida
como:
Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter,
por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo
das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a
inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção dessas mensagens (1979, p. 42).
Dentre os diversos tipos de análise de conteúdo, a modalidade de análise
temática se apresenta como uma ferramenta que associa o tema a uma afirmação a
respeito de determinado assunto. Este, por sua vez, comporta um feixe de relações
e pode ser graficamente apresentado por meio de uma palavra, uma frase, um
resumo. Segundo Bardin, “O tema é a unidade de significação que se liberta
naturalmente de um texto analisado segundo critérios relativos à teoria que serve de
guia à leitura” (1979, p. 105).
19
Para analisar o conteúdo de uma mensagem, optei por Unidades de Registro
1
(UR) . O presente estudo utilizou cada oração ou frase como UR. Essas unidades se
referem aos elementos obtidos por meio da decomposição do conjunto da
mensagem. Desta forma, cada UR recebeu uma codificação alfanumérica, na qual o
código alfabético identifica o sujeito analisado, enquanto o código numérico identifica
a UR ou oração da fala deste sujeito. Para a interpretação dos dados levantados,
inicialmente as UR foram agrupadas em categorias e, num segundo momento, as
categorias foram comparadas entre si, para assim serem agrupadas em eixos
temáticos.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFAL, com
parecer nº 292.686 (Ver Anexo A). Os sujeitos da pesquisa assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o qual lhes assegurou o anonimato, a
confidencialidade dos dados pessoais e a utilização das informações somente para
fins científicos, atendendo à resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do
Conselho Nacional de Saúde.
2.3
Apresentação e discussão dos dados
A partir da análise em profundidade das falas dos sujeitos da pesquisa, foram
encontrados três eixos temáticos e doze categorias, como demonstrado no quadro
02. Os eixos temáticos apresentados a seguir foram analisados em profundidade e,
depois, selecionadas as UR que refletiram a realidade das práticas docentes
relacionadas à interdisciplinaridade.
Quadro 02 – Descrição dos eixos temáticos e categorias
Eixos Temáticos
Plano de ensino – Práticas de
planejamento
Habilidades profissionais –
Vivências práticas
A interdisciplinaridade no processo de
1
Categorias
Planejamento em equipe
Planejamento individual
Trabalho em equipe
Atividades individuais
Valorização profissional
Significados acerca da interdisciplinaridade
A partir deste ponto, todas as vezes que eu fizer referência à expressão Unidade de Registro, essa
virá identificada com a sigla UR.
20
ensino-aprendizagem
Ações práticas interdisciplinares
Formação docente
Benefício da interdisciplinaridade no processo
de ensino-aprendizagem
Dificuldades da interdisciplinaridade no
processo de ensino-aprendizagem
Autoavaliação docente
Sugestões para melhoria das práticas
interdisciplinares
Fonte: Autora, 2013.
2.3.1 Considerações do eixo temático Plano de ensino – Práticas de planejamento
Quando se trata da forma que os docentes planejam suas disciplinas, é
importante investigar se, de fato, houve uma reflexão e preparação para as ações
propostas, pois as atividades refletirão o pensamento docente acerca do campo de
prática. Assim como afirma Padilha:
Planejar, em sentido amplo, é um processo que visa dar respostas a
um problema, através do estabelecimento de fins e meios que
apontem para a sua superação, para atingir objetivos antes previstos,
pensando e prevendo necessariamente o futuro, mas sem
desconsiderar as condições do presente e as experiências do
passado, levando-se em conta os contextos e os pressupostos
filosófico, cultural, econômico e político de quem planeja e de com
quem se planeja (2001, p. 63).
A ação de planejar ultrapassa o planejamento propriamente dito, pois implica
as relações de poder que se estabelecem entre os atores da instituição. Realizar
planos e planejamentos educacionais significa exercer uma atividade engajada,
intencional, científica, de caráter político e ideológico e isento de neutralidade
(THOMAZI; ASINELLI, 2009, p. 182; PADILHA, 2001, p. 63).
Compreendendo-o com um ser ativo, ao professor é concedida a
oportunidade de adotar diversos métodos de ensino, estabelecer objetivos,
selecionar recursos didáticos e bibliográficos, inteirar-se das necessidades dos seus
alunos e contribuir na montagem e desenvolvimento do currículo (BRAZ, 2009, p.
369).
21
As UR demonstraram que os planos de ensino dos estágios em saúde
coletiva são planejados pelos professores de cada curso, como percebido no
fragmento a seguir:
C2 – Uma é o estágio que é com ênfase na saúde da família e que é
realizado aqui na unidade de saúde, aí esse plano de ensino foi
elaborado em conjunto com a outra fonoaudióloga que trabalha
comigo aqui também na unidade, a partir de uma discussão oral com
a fisioterapia e terapia ocupacional, que também trabalham aqui com
a gente.
A1 – A minha disciplina é o estágio de saúde coletiva, então o plano
ele foi elaborado por mim e pelas duas outras professoras, pelos dois
outros professores que fazem parte do estágio da terapia
ocupacional.
Pode-se observar que, mesmo havendo a interação com outros cursos na
atividade do estágio em questão, cada curso planeja isoladamente seus planos de
ensino. Tal atitude contribui para as ações práticas isoladas, que dificultam a
interação entre os cursos.
A maioria dos docentes participantes da pesquisa destacou que o plano de
ensino é planejado entre os professores do curso:
D1 – Então o plano de ensino da minha disciplina ele primeiramente
foi elaborado por mim, que sou coordenadora do estágio e eu
envolvo os demais professores depois para eles analisarem, aí eles
analisam se está coerente com aquilo que o curso propõe, né? Que
está dentro da grade curricular do curso.
Ao planejar, o professor desenvolve processos de pensamentos, assim como
produz reflexões. O trabalho de planejar exerce uma influência nos processos
pedagógicos que ocorrem na disciplina, nos conteúdos, na maneira de organizar os
trabalhos em grupo e na aprendizagem dos discentes (BRAZ, 2009, p. 372).
É possível que a atitude do professor em realizar o planejamento de forma
isolada, dentro de seu curso, seja reforçada pela Instituição de Ensino Superior,
visto que o formato de estágio integrado em saúde coletiva ainda não faz parte do
currículo dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina e
Terapia Ocupacional, e desta forma cada curso possui um plano de ensino
específico.
22
Entretanto, o diálogo entre os docentes do curso pode ser considerado um
passo inicial para romper as barreiras existentes entre as disciplinas, pois configura
uma ação em equipe multiprofissional, uma vez que todos os docentes envolvidos
na disciplina contribuem para construção do plano de ensino.
Os achados de Rozendo et al demonstram que, embora o planejamento seja
feito dentro da prática tradicional, parece haver oportunidade de inovação e certo
espaço de democratização, uma vez que o conjunto dos professores participa do
processo de planejamento (1999, p. 18). A autora ressalta ainda que a escola
brasileira em geral, e a universidade em particular, respondem à dinâmica do
movimento da nossa sociedade, que se encontra em um momento de transição,
abrindo-se a novos comportamentos e incorporando novos valores.
2.3.2 Considerações do eixo temático Habilidades profissionais – Vivências práticas
A formação em saúde engloba aspectos de produção de subjetividade,
produção de habilidades técnicas e de pensamento, bem como o adequado
conhecimento do Sistema Único de Saúde. Essa formação possui como objetivo a
transformação das práticas profissionais e da própria organização do trabalho, e
estrutura-se a partir da problematização do processo de trabalho e sua capacidade
de dar acolhimento e cuidado às várias dimensões e necessidades de saúde das
pessoas, dos coletivos e das populações (CECCIM; FEUERWEKER, 2004b, p. 43).
No ensino da atenção básica, faz-se necessária uma produção sistematizada
de conhecimento e de avaliações contínuas, que possibilitem a superação, por
exemplo, da falsa dicotomia entre teoria e prática. O desafio colocado é o de como,
efetivamente e de modo transversal, inovar e integrar esse cenário (PREARO;
RIZZATO; MARTINS, 2011, p. 1049), conforme se percebe no fragmento de fala
apresentado a seguir:
A8 – Então todas as atividades, elas são programadas e organizadas
de forma integrada pelos estagiários que fazem um planejamento
prévio das atividades e a gente faz uma discussão também grupal,
depois quando as atividades acontecem.
23
Acreditamos que, na atenção básica, a atitude docente na forma de planejar e
executar as ações nos ambientes de prática pode proporcionar o diálogo,
pensamento crítico e a construção coletiva do conhecimento. Pode-se perceber a
predominância das ações em equipe multiprofissional e interdisciplinar nos campos
de estágio nos quais existe mais de um curso.
O presente estudo dialoga com Fortuna, que aposta na possibilidade de
crescimento e construção das equipes se houver disponibilidade para trabalhar seus
processos grupais (1999, p. 46), ou seja, pensar conjuntamente sobre a tarefa, a
finalidade do trabalho, a imagem do outro, a forma como tem se dado a
comunicação, como está a aprendizagem, a afiliação, a pertinência no grupo e a
distribuição dos poderes.
As UR analisadas apontaram para a tentativa docente de proporcionar um
campo de prática integrada que possibilite as ações em equipe entre os cursos:
E12 – No início a fisioterapia na comunidade era uma disciplina
isolada no estágio, era o único curso que atuava na nesta
comunidade, aí vieram os outros cursos, a Fono (fonoaudiologia) e a
TO (terapia ocupacional) então a partir daí, foi-se rompendo as
barreiras e a gente foi saindo das caixinhas e aí começamos a
trabalhar de forma interdisciplinar.
B17 - E aí o estágio ele é feito de forma integrada entre os cursos de
fisio (fisioterapia), fono (fonoaudiologia) e TO (Terapia Ocupacional)
da universidade e essas atividades elas são discutidas entre o grupo
de professores que estão envolvidos no estágio e são construídas
coletivamente e aí a cada semestre a gente senta e rediscute as
atividades pra ver se estão de acordo com as necessidades da
comunidade ou não e são atividades de acordo com a portaria 154
do NASF.
O fragmento de fala acima destacado reforça a tentativa docente de contribuir
para a formação de um profissional capaz de atuar em equipe, de problematizar o
processo de trabalho, considerando a realidade e as necessidades da comunidade.
Como se vê, o trabalho em equipe multiprofissional consiste em uma
modalidade de trabalho coletivo que se configura na relação recíproca entre as
múltiplas intervenções técnicas e a interação dos agentes de diferentes áreas
profissionais. Por meio da comunicação, ou seja, da mediação simbólica da
linguagem, dá-se a articulação das ações multiprofissionais e a cooperação. Logo,
24
faz-se necessário conseguir o relacionamento consciente e coordenado de certo
número de profissionais, para que o conjunto do trabalho executado – o serviço de
atenção à saúde – constitua-se em um só movimento em direção a um só fim e não
na justaposição de certa quantidade de trabalhos desconexos (PEDUZZI, 1998, p.
151; CREVELIM; PEDUZZI, 2005, p. 324).
Além da preocupação docente em proporcionar um ambiente que possibilite
ações problematizadoras e em equipe, pode-se perceber que o fragmento de fala
aponta para a prática docente em planejar as ações de forma dialogada, o que
possibilita uma maior interação entre os cursos envolvidos, rompendo com o
isolamento do professor.
O presente estudo concorda que a comunicação interativa entre os campos
do conhecimento é uma condição indispensável à concepção de ações
interdisciplinares e à superação do modelo da educação tradicional, por meio da
ação coletiva das pessoas e/ou do grupo, promovendo uma práxis docente
ampliada, que ultrapassa a divisão do pensamento fragmentado e da visão
disciplinar das especialidades (MACHADO; BATISTA, 2012, p. 461).
Os fragmentos a seguir demonstram que, apesar da preocupação docente em
incentivar atividades em equipe no estágio em saúde coletiva, nos campos de
prática nos quais a atuação acadêmica ocorre de forma isolada, sem o envolvimento
de outros cursos, tal prática é dificultada, o que enfatiza a importância de campos de
estágio integrados e que envolvam mais de um curso.
F2 - Então a gente tem como atividade prática o atendimento em
ambulatório, a gente busca voltar esse ambulatório para prevenção
(pausa) se bem que ainda é muito difícil e eu termino fazendo o
atendimento de clínica médica geral e de muitas especialidades, mas
o objetivo principal seria a gente conhecer os dados epidemiológicos
da nossa comunidade e as influências sobre essa comunidade do
que possa vir a adoecê-la.
D10 – E esse plano de ação é uma forma de integrar não só o aluno
no campo prático, mas de envolver todos os profissionais que ali
estão no trabalho deles, né?
D8 – Então eles realizam visita domiciliar, atividades relacionadas à
enfermagem, citologia, pré-natal, puericultura, tudo relacionado à
enfermagem. Palestras educativas e algumas vezes são envolvidos
outros profissionais nesse trabalho, mas nem sempre
25
D30 – Eles sempre trabalharam com enfermeiros e muitos deles têm
essa visão assim, a enfermagem, a enfermagem, e não tem essa
visão assim do outro, né?
Os fragmentos acima corroboram com os achados de Bispo, Tavares e
Tomaz, que sustentam que os sujeitos reconheceram que a interdisciplinaridade é
importante e pode ser o diferencial na formação dos futuros profissionais para o
Sistema Único de Saúde, mesmo demonstrando que os próprios sujeitos não
praticam e/ou desconhecem a interdisciplinaridade (2014, p. 981).
Albuquerque e Stotz, em uma análise documental, apontam para a
importância das ações coletivas, valorizando o saber do outro, entendendo que o
conhecimento é um processo de construção compartilhada, o que proporciona um
maior entendimento das ações de saúde como ações educativas (2004, p. 71). Fala
ainda que as ações coletivas possibilitam uma aproximação com a integralidade,
assumindo como prática cotidiana a junção promoção-prevenção-assistência, o
trabalho multiprofissional e interdisciplinar. Em consonância com essa ideia, Pinheiro
afirma que
A integralidade como definição legal e institucional é concebida como
um conjunto articulado de ações e serviços de saúde, preventivos e
curativos, individuais e coletivos, em cada caso nos níveis de
complexidade do sistema. Ao ser constituída como um ato em saúde
nas vivências cotidianas dos sujeitos nos serviços de saúde, tem
germinado experiências que produzem transformações nas vidas das
pessoas, cujas práticas eficazes no cuidado em saúde superam os
modelos idealizados para sua idealização (2008, p. 256).
Acreditamos que trabalhar em equipe vai além de um grupo de pessoas
trabalhando ao mesmo tempo. Para que as ações em equipe aconteçam, é
necessário planejar em conjunto e traçar os objetivos em comum, buscando a
harmonia e o melhor funcionamento do grupo. Trabalhar em equipe significa ouvir e
conhecer o papel do outro, como afirmam Jardim, Souza e Monego (1996, p. 234). O
que deve direcionar o funcionamento do grupo é a harmonia de objetivos e ações
compatíveis com as metas que se pretende alcançar. Em cada momento, em cada
ação e em cada setor, um elemento terá sua participação mais ou menos destacada
e, respeitadas as especificidades profissionais, todos terão o mesmo peso para o
sucesso da empreitada.
26
2.3.3 Considerações do eixo temático A interdisciplinaridade no processo de
ensino-aprendizagem
Para Thiesen (2008, p. 546), a interdisciplinaridade será articuladora do
processo de ensino e de aprendizagem na medida em que se produzir como atitude
(FAZENDA, 1979), como modo de pensar (MORIN, 2005), como pressuposto na
organização curricular (JAPIASSÚ, 1976), como fundamento para as opções
metodológicas do ensinar (GADOTTI, 1999), ou ainda como elemento orientador na
formação dos profissionais da educação.
A investigação da interdisciplinaridade no processo de ensino-aprendizagem
pressupõe um conhecimento prévio sobre o que vem a significar esse conceito. O
presente
estudo
objetiva
verificar
a
compreensão
docente
acerca
da
interdisciplinaridade, questionando os professores sobre seus significados e
conceitos. A análise das UR retratou o pensamento e as reflexões docentes:
B38 – Eu acho que é essa forma de você pensar (pausa) os saberes
juntos, os conhecimentos juntos de forma a construir um saber é
(pausa) mais amplo e mais integrado de forma a ver o outro como
um todo.
A21 – E nesse ponto de intersecção, elas conseguem atuar, né?
B33 – Mas aos poucos, quando a gente vai aprendendo a trabalhar
em equipe, de forma interdisciplinar, a gente vê que é uma evolução
necessária, mas que a gente não consegue mais viver sem, eu não
consigo mais me imaginar trabalhando só na minha caixinha.
C15 – E, pra mim, também enquanto profissional e enquanto
docente, eu acredito que isso tem mudado porque tem ampliado
bastante a minha visão do que pode ser feito na verdade na atenção
básica.
B72 – A gente já sentou várias vezes, é uma prática corriqueira da
gente refletir sobre isso, sobre essa prática.
E32 – Para mim interdisciplinaridade seria o momento que você tem
um olhar em conjunto, buscando um objetivo em comum, buscando a
integralidade do paciente.
Os docentes entrevistados demonstraram aproximação com o conceito de
interdisciplinaridade e com a importância das ações interdisciplinares em suas
27
práticas pedagógicas e em seu modo de pensar. Além disso, afirmam que as
experiências interdisciplinares os modificam como docentes e como pessoas.
Tais relatos confirmam as conceitualizações de Japiassú, que afirma que
primeiro uma disciplina deve elaborar seus próprios conceitos, que sejam os mais
operatórios possíveis, adquirindo sua própria unidade, sua lei. Após, podemos
cooperar com outras disciplinas, sendo este momento extremamente difícil. E a
interdisciplinaridade acontece na superação deste obstáculo. Para o referido autor:
“[...] falar da metodologia do interdisciplinar significa, antes de tudo, falar de
disciplinas operantes e cooperantes” (JAPIASSÚ, 1976, p. 84).
Conforme denomina Gadotti, a interdisciplinaridade como um enfoque teóricometodológico surge em resposta a uma necessidade verificada principalmente nos
campos das ciências humanas e da educação: superar a fragmentação e o caráter
de especialização do conhecimento. Também visa garantir a construção de um
conhecimento globalizante, rompendo com as fronteiras das disciplinas (1999, p. 2).
A prática docente reflete a concepção do profissional sobre as funções
laborais e o modo como devem ser desempenhadas. Dessa maneira, a prática
docente é um espelho da experiência e formação profissional, como encontrados
nos fragmentos a seguir:
A27 – Então o mestrado contribuiu pra isso assim, eu tinha uma
prática que eu consegui visualizar a interdisciplinaridade, mas eu não
tinha uma teoria tão fundamentada que me fez ter certeza que a
prática interdisciplinar é eficaz e ela pode sim acontecer e ela tem
resultados positivos.
B44 – Mas depois que eu sai fui fazer pós-graduação, eu já fui fazer
uma especialização que era interdisciplinar, né?
C19 – A partir do trabalho no estágio, realmente a gente foi vendo as
possibilidades de se trabalhar interdisciplinarmente, acredito que a
residência em saúde da família ela foi um marco no sentido de
colocar em prática realmente o que é interdisciplinaridade e vivenciar
isso com muito mais ênfase. Então acredito que a partir daí eu
consegui ter uma visão muito maior e muito mais prática, né? Do que
é interdisciplinaridade e o conceito que eu tinha até então era
puramente teórico.
D24 – Então recentemente eu tive a oportunidade de participar da
residência multiprofissional em saúde da família, né?
28
Segundo Contreras, a profissionalidade da docência reside nas exigências
intelectuais e habilidades práticas que seu exercício implica. Os professores são
reconhecidos como profissionais justamente pelo domínio técnico demonstrado na
solução de problemas, ou seja, devem conhecer os procedimentos adequados de
ensino e sua aplicação (2002, p. 64).
Em consonância com o autor supracitado, o presente estudo encontra nas
UR:
A14 – Então eles dialogam antes, conhecem o que o outro faz, né? E
conseguem executar e depois na discussão eles percebem que eles
trabalham de forma integrada e interdisciplinar [...].
A22 – E aí a gente não vai saber quem é cada curso porque eles vão
estar juntos e não tirando também o olhar específico de cada
categoria, então quando a atividade ela é executada de forma
integrada com esse ponto em comum eu acredito que a
interdisciplinaridade ela aconteça.
F11 - A gente aqui tem uma relação muito estreita com a
enfermagem, nós temos também com outros cursos, mas que por
hora estão afastados, como a fisioterapia e a fonoaudiologia, mas
essa interdisciplinaridade sempre existiu.
C9 – Todas as discussões, a supervisão é interdisciplinar, então o
estágio sim.
Os fragmentos das falas a seguir acentuam que a prática docente é o espelho
da formação acadêmica e, principalmente, da experiência profissional vivenciada
pelo professor, como demonstrado no excerto:
B55 – Porque assim, por mais formação que você tenha acadêmica,
específica, voltada pra área, você só acredita que isso (a
interdisciplinaridade) é possível se você viver.
O fragmento acima destacado expressa que a interdisciplinaridade não pode
ser compreendida sem a vivência prática, corroborando o que diz Fazenda, que
acredita que a interdisciplinaridade exige uma atitude, isto é, uma postura
interdisciplinar (1979, p. 8). Dito de outro modo, a interdisciplinaridade exige uma
atitude
de
conhecimento.
busca,
envolvimento,
compromisso,
reciprocidade
diante
do
29
Japiassú afirma que passamos por graus sucessivos de cooperação e de
coordenação crescentes antes de chegarmos ao interdisciplinar (1976, p. 123). Este
pode ser caracterizado como um nível em que a colaboração entre as diversas
disciplinas ou entre os setores heterogêneos de uma mesma ciência conduz a
interações propriamente ditas, isto é, certa reciprocidade nos intercâmbios, de tal
forma que, no final do processo interativo, cada disciplina sairá enriquecida.
Na análise das categorias Benefícios e dificuldades da interdisciplinaridade no
processo de ensino-aprendizagem, quando questionados sobre os benefícios das
ações interdisciplinares, os sujeitos afirmaram que:
A15 – Sim, claro que sim, né? A gente identifica, porque assim como
a área da gente é a saúde coletiva, então eu vejo que não tem outra
forma de trabalhar a saúde coletiva sem ser através de práticas
integradas e, consequentemente, de práticas interdisciplinares, não
tem como.
F10 - Está muito presente (a interdisciplinaridade) e eu não entendo
como você pode fazer parte de um programa de saúde da família,
sem fazer interdisciplinaridade, principalmente com o pessoal da
enfermagem.
C14 – Então eu acredito que o aluno tenha saído com uma visão
muito mais ampla daquilo que ele pode fazer em equipe, do próprio
trabalho em equipe, do que o outro profissional faz, a gente tem visto
benefícios pros pacientes e pros usuários que a gente faz as
atividades de educação em saúde também por ter um trabalho mais
em conjunto.
Os fragmentos acima demonstraram que os docentes reconhecem a
importância da prática interdisciplinar na formação acadêmica, corroborando com os
achados de Garcia et al (2006 p. 483), já que as falas dos sujeitos destacaram a
atenção básica como cenário favorável para o desenvolvimento de ações
interdisciplinares, já que permite o encontro entre os diversos cursos e a
responsabilização social entre as instituições e a comunidade.
É possível reconhecer ainda que os docentes percebem as transformações
no perfil do discente, concordando com Madel, que assegura que a complexidade
atual do campo da saúde coletiva permeia tanto suas práticas como seus discursos
disciplinares e suas formas de expressão acadêmicas, neles originando um conjunto
de mediações de natureza não apenas teórica (entre as disciplinas que compõem o
30
campo), como política social e cultural (MADEL, 2009, p. 306), assim como
apresentado na UR a seguir:
B33 – Mas aos poucos, quando a gente vai aprendendo a trabalhar
em equipe, de forma interdisciplinar, a gente vê que é uma evolução
necessária, mas que a gente não consegue mais viver sem, eu não
consigo mais me imaginar trabalhando só na minha caixinha.
No trabalho
em saúde,
a equipe
multiprofissional
pode
buscar
a
interdisciplinaridade, centrando-se no usuário com um sujeito pertencente ao
processo terapêutico e, desta forma, proporcionar à equipe um ambiente profissional
em que haja troca de saberes e práticas entre as diversas categorias profissionais.
Para Barreto et al, os espaços interdisciplinares e interprofissionais
privilegiados da produção do conhecimento contribuem para a formação de um
profissional apto para práticas colaborativas em prol da superação das
desigualdades sociais existentes (2013, p. 147).
As instituições de ensino superior têm produzido propostas de formação que
buscam, em diferentes níveis, articular ensino-serviços-comunidade, formaçãocontrole social, ensino-realidade, ensino-pesquisa-extensão. Estas propostas trazem
expectativas que geram impactos no modo de concretizar as propostas formativas
em saúde, alterando as rotas do ensino e da aprendizagem tradicionais – centradas
nos conteúdos biológicos e na intervenção curativa – ao tempo em que traz à tona a
discussão do aprender como um processo que integra cognição-afeto-cultura e
possibilita o desenvolvimento de uma competência profissional vinculada a uma
prática de integralidade na assistência ao indivíduo e à comunidade (BATISTA,
2006, p. 41).
É possível perceber um esboço das propostas acima citadas nos fragmentos
de fala a seguir:
B32 – Então, hoje em dia eu costumo dizer que eu não consigo
trabalhar sozinha, né? Eu não me vejo como uma profissional que
seja completa se eu não estiver com o outro, isso é um desafio
porque a gente vem sendo formado pra trabalhar só na nossa
profissão, a gente vem de uma formação muito voltada pra isso, né?
A questão do modelo biomédico, tecnicista, enfim.
31
D15 – Infelizmente, isso (interdisciplinaridade) acontece no último
ano, quando o aluno já ta pronto pra se formar.
Entretanto, faz-se perceptível nas UR que, no Ensino Superior, a falta de
contato do conhecimento com a realidade parece ser uma característica bastante
acentuada. Os professores, no esforço de levarem seus alunos a aprenderem, o
fazem dando importância ao conteúdo em si, e não à sua interligação com a
situação da qual emerge, gerando, assim, a clássica dissociação entre teoria e
prática (FAVARÃO; ARAÚJO, 2004, p. 104).
No que se refere às dificuldades da interdisciplinaridade no processo de
ensino-aprendizagem, foram fortemente retratados nas falas dos sujeitos os diversos
entraves para a realização da prática interdisciplinar, tais como: a composição
curricular tecnicista com baixa carga horária para saúde coletiva, a resistência
discente e o vínculo docente, conforme descrito nas UR abaixo:
A29 – São muitas dificuldades, então a primeira é o currículo dos
cursos, que cada currículo é um currículo, né? Então são currículos
antigos que não são voltados para saúde coletiva e pra saúde da
família, então os alunos chegam no estágio, que o campo de estágio
é a saúde da família e então eles não conhecem o programa, né?
Viram teoricamente em algum momento do curso, mas não de forma
aprofundada, então a gente já percebe que não tem a ligação entre
as disciplinas dos cursos e não tem uma ligação entre os cursos, né?
B65 – E eu não os culpo por isso, acho supernatural diante da
formação que eles têm na graduação toda.
A34 – Outra dificuldade é o vínculo docente, porque a maioria dos
professores que estão dispostos a trabalharem de forma
interdisciplinar e de forma integrada, elas não são efetivas, então,
não têm horário para planejamento, não têm o mesmo horário na
comunidade, o que também dificulta a realização das atividades.
Observa-se uma coerência entre as dificuldades relatadas pelos sujeitos da
investigação e a literatura. Corroborando essa ideia, Cunha dispõe sobre as
dificuldades do exercício da função docente e assinala os seguintes pontos:
desvalorização do magistério relacionada com a questão salarial, as condições de
trabalho, como espaços físicos e materiais, que impossibilitam um ensino de melhor
qualidade (1999, p. 138).
32
É importante ressaltar que as UR demonstraram o reflexo de práticas
docentes isoladas, contribuindo, desta forma, para uma formação profissional
tecnicista desconectada com as necessidades da comunidade.
B59 – Então os nossos próprios alunos, eles têm essa cultura de que
cada categoria trabalha na sua categoria e ponto.
B60 – Então é muito mais tranquilo eu atuar isoladamente, porque é
o que eu domino, então as pessoas não vão saber – esse é o
pensamento do nosso aluno – se eu tô com o outro ele pode saber
que eu tenho dificuldade ou que não sei determinada coisa, não
domínio determinado conteúdo.
E25 – Para o aluno não deixa de ser um choque, porque ele vem da
faculdade fazendo tudo de forma muito isolada e quando chega no
estágio do último ano eles começam a fazer atividades em conjunto.
Os fragmentos das falas acima destacados reforçam a importância da
articulação entre teoria e prática, bem como uma estruturação curricular na
Instituição de Ensino Superior na qual foi realizado o presente estudo, que prepare o
discente para as necessidades de saúde da população. Para Ceccim e Feuerweker,
as diretrizes curriculares nacionais dos cursos de graduação em saúde de 2001 e
2002 sustentaram que a formação do profissional de saúde deve contemplar o
sistema de saúde vigente no país, o trabalho em equipe e a atenção integral à
saúde, reafirmando a prática de orientação para o Sistema Único de Saúde. O
presente estudo reforça ainda que, sobre as mudanças curriculares, a universidade
é responsável por formar profissionais que estabeleçam uma relação de
reciprocidade com a sociedade (CECCIM; FEUERWEKER, 2004a, p. 1402).
Segundo Rozendo et al, vários autores como Abreu e Masetto, Bordenave e
Pereira, Godoy, Gil, Saldanha e Ronca e Escobar vêm alertando para a lacuna
existente na formação dos docentes do ensino superior: o professor se caracteriza
como um especialista, muitas vezes, isolado no seu campo de conhecimento (1999,
p.15).
Nas últimas duas décadas, tem havido grandes movimentos sobre a atividade
docente universitária no Brasil, revelando-se significados e valores até então pouco
considerados. Essa docência exige competências próprias e profissionalismo, com a
finalidade de contribuir efetivamente para colocar na sociedade cidadãos corretos e
profissionais competentes. Desta forma, o ensino superior tenderá a reorganizar os
33
seus currículos para atender a essas novas exigências, vitais ao exercício
profissional competente (MASSETTO apud FARIA, 2004, p. 824).
As universidades devem sinalizar revisões em diversos aspectos, tais como: a
flexibilização e a dinamização curricular, a formação profissional concomitante com a
formação acadêmica, a ênfase na formação permanente – que deve ter início nos
primeiros anos de graduação e persistir ao longo da vida profissional – a “[...]
revitalização da vida acadêmica pelo exercício profissional, a desestabilização de
currículos fechados, acabados e prontos” (MASSETTO, 2002, p. 43). Ademais, entre
as competências que deve ter um profissional para a docência de 3º grau,
destacam-se: domínio de determinada área do conhecimento, domínio na área
pedagógica e o exercício da dimensão política.
É possível perceber a importância de uma nova estruturação curricular na
instituição de ensino superior estudada, visto que os docentes entrevistados
reforçaram em suas falas as dificuldades enfrentadas na articulação da teoria com a
prática, como demonstrado no fragmento a seguir:
B62 – Eu sinto isso muito claro, principalmente no começo do
semestre quando vem aquele grupo novo que nunca trabalhou
interdisciplinarmente ao longo da graduação toda.
B63 – Então, assim, eles têm uma resistência (à atuação
interdisciplinar) muito grande.
B64 – Acho que é o medo do novo mesmo.
Para Batista e Batista “[...] os saberes do docente vão se transformando à
medida que empreende seu trabalho pedagógico, problematiza e investiga sua
própria prática” (2004, p. 29). Os autores reafirmam que a prática docente ancora-se
nas questões: “O que fiz? O que estou fazendo? Por que estou fazendo? O que
posso fazer?”. Nesse sentido, melhorar a prática docente permite privilegiar
interações, compartilhar conhecimentos, possuir postura crítica e interdisciplinar,
além de manter novas relações com os conhecimentos científicos. Refletir e analisar
a própria prática são o ponto de partida de toda a ação, é repensar as possíveis
formas de melhorar a prática docente. Pretende-se que essa atitude interdisciplinar
seja motivadora e suficientemente significativa, de parceria e corresponsabilidade
entre professor e aluno, visando desenvolver o processo de aprendizagem.
34
2.4
Considerações Finais
Para analisar as práticas docentes no que se refere à interdisciplinaridade nos
Estágio de Saúde Coletiva de uma universidade pública, fez-se necessário conhecer
as atividades docentes em nível de planejamento e práticas interdisciplinares.
O planejamento da disciplina reflete a intencionalidade e a atuação do
docente nos seus campos atuação. Nos espaços de estágio nos quais atuam
diversas categorias profissionais – o que pode permitir a relação interprofissional e
interdisciplinar – percebi a iniciativa docente em planejar em conjunto as ações do
estágio em saúde coletiva, porém são iniciativas isoladas e que não retratam a
realidade da instituição estudada, já que os planos de ensino, carga horária e
campos de estágio não são integrados.
Entretanto, é importante ressaltar que existe o diálogo para o planejamento
em conjunto entre os professores de cada curso e tal atitude deve ser valorizada e
incentivada pela instituição. É recomendado que o professor seja mais que um
técnico que executa as tarefas estabelecidas por outros, é possível pensar e refletir
de forma ativa e manifestar suas decisões e atitudes profissionais.
As falas dos sujeitos da pesquisa retrataram a disponibilidade docente para
trabalhar conjuntamente, enfatizando a importância do trabalho em equipe, o que
possibilita a reflexão sobre a ação coletiva, processo de aprendizagem e avaliação e
a necessidade discente e comunitária, visto que os professores compreendem a
importância da formação de um profissional apto para trabalhar em equipe. Desta
forma, é importante enfatizar a necessidade de campos integrados de prática, já que
para se trabalhar em equipe, faz-se necessária a interação entre as diversas
categorias profissionais.
Apesar da preocupação docente com a construção coletiva e dialogada entre
os cursos, as falas dos sujeitos demonstraram as dificuldades em estabelecer
relações recíprocas nos campos isolados de prática, já que as ações acadêmicas
nem sempre se inter-relacionam com as atividades das unidades básicas
pertencentes ao campo de prática do estágio.
35
Acredito que a interdisciplinaridade exige uma atitude e uma postura
interdisciplinar. Atitude de busca, envolvimento, compromisso, reciprocidade diante
do conhecimento. Logo, um docente disposto a reorganizar os seus conhecimentos;
reconstruir as suas habilidades e reavaliar as suas atitudes favorece o trabalho
interdisciplinar durante as atividades teóricas e práticas, pois incentiva os seus
discentes a pesquisarem as problematizações, embasadas em todos os níveis de
atenção à saúde.
Pode-se afirmar a necessidade de capacitação e incentivo à
formação multiprofissional e interdisciplinar, pois a prática docente é o reflexo da
experiência e formação profissional.
Foi possível perceber que os docentes que apresentaram formação voltada a
ações multiprofissionais e interdisciplinares, refletiam tal pensamento em seus
campos de prática, possibilitando a construção coletiva, o diálogo e a reciprocidade
entre as diversas categorias profissionais. Essa ação delineia um saber coletivo e
busca a integralidade do indivíduo, ao tempo em que contribui para a formação de
um profissional cidadão, problematizador e centrado no indivíduo e no ambiente a
que pertence.
Além disso,
foram relatadas pelos sujeitos
da
pesquisa
iniciativas
interdisciplinares nos campos de prática que possuem diversas categorias
profissionais. No entanto, os docentes entrevistados apontaram diversos entraves
que dificultam as práticas interdisciplinares, tais como: currículo tecnicista, baixa
carga horária curricular para saúde coletiva, vínculo docente e a resistência discente
às práticas interdisciplinares. Tais entraves devem ser considerados pela instituição
estudada, visto que dificultam a processo de superação das fronteiras entre as
diversas áreas do conhecimento.
É importante destacar a necessidade de abertura de espaços de discussão
docente na busca de superar os obstáculos que dificultam a construção coletiva de
currículos integrados baseados nas Diretrizes Curriculares Nacionais e que priorizem
a formação de um profissional generalista, humanista, crítico e reflexivo, capacitado
a atuar em todos os níveis de atenção à saúde. Além disso, faz-se essencial o
fortalecimento político-administrativo pela busca por investimentos no ensino público
por meio de concurso público, a fim de estabelecer vínculo docente efetivo,
valorizando a atuação deste profissional.
36
Os
resultados
interdisciplinaridade;
da
pesquisa
diversos
mostraram:
obstáculos
para
variadas
a
visões
vivência
de
quanto
à
práticas
interdisciplinares; e indicam a necessidade de capacitações e incentivos à formação
profissional.
As pesquisas sobre as práticas docentes relacionadas à interdisciplinaridade
na saúde coletiva tornam-se cada vez mais necessárias. Serão elas que nos
orientarão na busca concreta de uma formação que estimule o entrelaçamento de
diferentes áreas de conhecimento.
37
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, P.C.; STOTZ, E.N. A educação popular na atenção básica à
saúde no município: em busca da integralidade. Interface (Botucatu), v. 8, nº 15,
mar/ago, 2004, p. 259-74. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141432832004000200006&script=sci_arttext. Acesso em 06. set. 2013.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa (POR): Edições 70, 1979.
BARRETO, A.D.A.L et al. Análise de uma intervenção coletiva realizada no Projeto
de Extensão Jornada Universitária da Saúde (JUS) sob a perspectiva da atuação
interprofissional. Revista de Medicina, v. 92, nº 2, São Paulo, abr/jun, 2013, p. 141147. Disponível em http://www.revistas.usp.br/revistadc/article/view/79976. Acesso
em 10. jan. 2014.
BATISTA, N.A.; BATISTA, S.H.S.S. Docência em Saúde: temas e experiências. São
Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2004.
BATISTA, S.H.S. A interdisciplinaridade no ensino médico. Revista brasileira de
educação médica, v. 30, nº 1, Rio de Janeiro, jan/abr, 2006, p.39-46. Disponível em
http://www.scielo.br/pdf/rbem/v30n1/v30n1a07.pdf. Acesso em 10. jan. 2014.
BISPO, E.P.F, TAVARES, C.H.F, TOMAZ, J.M.T. Interdisciplinaridade no Ensino em
saúde: o olhar do preceptor na saúde da família. Interface (Botucatu), v. 18, nº 49,
Botucatu, abr/jun, 2014, p. 973-986. Disponível em
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832014000200337&script=sci_arttext.
Acesso em 03. jul. 2014.
BOSI, M.L.M.; Mercado, F.J. Pesquisa qualitativa de serviços de saúde. Petrópolis:
Vozes, 2004.
BRAZ, A.M.G. O pensamento do professor: pressupostos e dimensões de estudo.
Revista Contrapontos, v. 7, nº 2, 2009, p. 365-380.
CECCIM, R.B.; FEUERWEKER, L.C.M. Mudança na graduação das profissões de
saúde sob o eixo da integralidade. Cad. Saúde Pública, v. 20, nº 5, Rio de Janeiro,
set./out, 2004a, p.1400-1410. Disponível em
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2004000500036&script=sci_arttext.
Acesso em 31. ago. 2012.
38
CECCIM, R.B.; FEUERWEKER, L.C.M. O quadrilátero da formação para a área da
saúde: ensino, gestão, atenção e controle social. PHYSIS: Revista de Saúde
Coletiva, v. 14, nº 1, Rio de Janeiro, 2004b, p. 41-65. Disponível em
http://www.scielo.br/pdf/physis/v14n1/v14n1a04.pdf. Acesso em 31. ago. 2012.
CONTRERAS, J. A autonomia de professores. São Paulo: Cortez, 2002.
COSTA, N.M.S.C. Docência no ensino médico: por que é tão difícil mudar? Revista
Brasileira de Educação Médica, v. 31, nº 1, Rio de Janeiro, jan/abr, 2007. Disponível
em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-022007000100004&script=sci_arttext.
Acesso em 31. ago. 2012.
CREVELIM, M.A; PEDUZZI, M. Participação da comunidade na equipe de saúde da
família: é possível estabelecer um projeto comum entre trabalhadores e usuários?
Ciênc. saúde coletiva, v. 10, nº 2, Rio de Janeiro, abr/jun, 2005, p. 323-331.
Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141381232005000200010. Acesso em 30. ago. 2012.
CUNHA, M.I. O bom professor e sua prática. Campinas: Papirus, 1999.
FARIA, J.I,L; CASAGRANDE, L.D.R. A educação para o século XXI e a formação do
professor reflexivo na enfermagem. Revista Latino-americana de Enfermagem, v. 12,
nº 5, São Paulo, set/out, p. 2004, 821-827. Disponível em
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v12n5/v12n5a17.pdf. Acesso em 17. jan. 2013.
FAVARÃO, N.R.L; ARAÚJO, C.S.A. Importância da interdisciplinaridade no ensino
superior. EDUCERE, v.4, nº 2, Umuarama, jul/dez, 2004, p.103-115. Disponível em
http://cmapspublic3.ihmc.us/rid=1jkkm4vrl-1pkwfkytc9/a%20importanca%20da%20interdisciplinaridade.pdf. Acesso em 17. jan. 2013.
FAZENDA, I.C.A. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade
ou ideologia. São Paulo: Loyola, 1979.
FORTUNA, C.M. O trabalho de equipe numa unidade básica de saúde: produzindo e
reproduzindo-se em subjetividades. Em busca do desejo, do devir e singularidades.
Ribeirão Preto, 1999, 236p. Dissertação (Mestrado na Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto/USP). Departamento materno infantil e saúde pública. Universidade
de São Paulo/USP.
39
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 5.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1975.
GADOTTI, M. Interdisciplinaridade: atitude e método. São Paulo: Instituto Paulo
Freire, 1999.
GARCIA, M.A.A. et al. Interdisciplinaridade e integralidade no ensino em saúde.
Revista de Ciências Médicas, v. 15, nº 6, Campinas, nov/dez, 2006, p. 473-485.
Disponível em http://www.iqg.com.br/uploads/biblioteca. Acesso em 18. out. 2013.
GATTÁS, M.L.G. Interdisciplinaridade: formação e ação na área de saúde. Ribeirão
Preto: Holos Editora, 2006.
GUEDES, L.E.; JÚNIOR, M.F. Relações Disciplinares em um Centro de Ensino e
Pesquisa em Práticas de Promoção à Saúde e Prevenção de Doenças. Revista
Saúde Sociedade, v.19, nº 2, São Paulo, jun, 2010, p. 260- 272. Disponível em
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-12902010000200004&script=sci_arttext.
Acesso em 18. out. 2013.
JAPIASSÚ, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago
Editora LTDA, 1976.
JARDIM, P.C.B.V; SOUSA, A.L.L.; MONEGO, E.T. Atendimento multiprofissional ao
paciente hipertenso. Medicina, v. 29, Ribeirão Preto, abr/set, 1996, p. 232-238.
Disponível em
http://revista.fmrp.usp.br/1996/vol29n2e3/atendimento_multiprofissional_paciente_hi
pertenso.pdf. Acesso em 29. ago. 2012.
MACHADO, M. M. B. C.; BATISTA, S. H. S. S. Interdisciplinaridade na construção
dos conteúdos curriculares do curso médico. Revista brasileira de educação médica,
v. 36, nº 4, out/dez, 2012, p. 456-62. Disponível em
www.scielo.br/pdf/rbem/v36n4/03.pdf. Acesso em 18. out. 2013.
MADEL, T.L. Complexidade do Campo da Saúde Coletiva: multidisciplinaridade,
interdisciplinaridade, e transdisciplinaridade de saberes e práticas – análise sóciohistórica de uma trajetória paradigmática. Saúde Sociedade, v.18, nº 2, São Paulo,
abr/jun, 2009, p. 304-311. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010412902009000200013&script=sci_arttext. Acesso em 09. mar. 2014.
40
MASETTO, M. Discutindo o processo ensino/aprendizagem no ensino superior. In:
MARCONDES, E; GONÇALVES, E.L. (coordenadores). Educação médica. São
Paulo: Sarvier, 1998.
______. (organizador). Docência na universidade. 4. ed. Campinas (SP): Papirus,
2002.
MINAYO, M.C.S. O desafio de conhecimento: pesquisa qualitativa em serviço. 2. ed.
São Paulo: Hucitec, 1993.
______. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo:
Hucitec-Abrasco, 1998.
MINAYO, M.C.S.; GOMES, S.F.D. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 11.
ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
______. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 30. ed. Petrópolis: Vozes,
2011.
MORIN, E. Educação e complexidade, os sete saberes e outros ensaios. São Paulo:
Cortez, 2005.
PADILHA, P.R. Planejamento dialógico: como construir o projeto político pedagógico
da escola. São Paulo: Cortez, 2001.
PEDUZZI, M. Equipe multiprofissional de saúde: a interface entre trabalho e
interação. Campinas, 1998, 254p. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva). Programa
de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas,
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.
PÉREZ-GÓMEZ, A.P.O. Pensamento prático do professor: a formação do professor
como profissional reflexivo. In: NÓVOA, A. Os professores e a sua formação. Lisboa
(PT): Publicações Dom Quixote, 1992, p. 95 -114.
PINHEIRO, R. Integralidade em saúde. In: PEREIRA, I. B., LIMA, J. C. F.
(organizadores). Dicionário da Educação Profissional em Saúde. Rio de Janeiro:
EPSJV-FIOCRUZ, 2008, p. 225-262.
41
PREARO, A.Y; RIZZATO, A.B.P; MARTINS, S.T.F. O ensino de pediatria na atenção
básica em saúde entre as fronteiras do modelo biomédico e a perspectiva da
integralidade do cuidado: a visão dos médicos supervisores. Interface (Botucatu), v.
15, nº 39, Botucatu, out/dez, 2011, p. 1039-1052. Disponível em
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832011000400007.
Acesso em 09. mar. 2014.
ROZENDO, C.A. et al. Uma análise das práticas docentes de professores
universitários da área de saúde. Revista latino-americana de enfermagem, v. 7, nº 2,
Ribeirão Preto, abr, 1999, p. 15-23. Disponível em
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v7n2/13457.pdf. Acesso em 28. set. 2012.
THIESEN, J.S. A. interdisciplinaridade como um movimento articulador no processo
ensino-aprendizagem. Revista brasileira de educação, v. 13, nº 39, set/dez, 2008, p.
545-598. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141324782008000300010&script=sci_arttext. Acesso em 24. maio. 2014.
THOMAZI, Á.R.G.; ASINELLI, T.M.T. Prática docente: considerações sobre o
planejamento das atividades pedagógicas. Educar, nº 35, Curitiba, Editora UFPR,
2009, p. 181-195.
XAVIER, A.C.S. Letramento digital e ensino. 2007. In: SILVA, A. Blog educacional: o
uso das novas tecnologias no ensino. Vertentes, São João del-Rei: UFSJ, n. 31,
jan/jun, 2008, p.75-84. Disponível em
http://intranet.ufsj.edu.br/rep_sysweb/File/vertentes/Vertentes_31/adriana_da_silva.p
df. Acesso em 24. maio. 2014.
42
3
PRODUTO DE INTERVENÇÃO – BLOG: INTERDISCIPLINARIDADE E
SAÚDE COLETIVA
3.1
Introdução
O surgimento e a rápida evolução das tecnologias de informação e
comunicação ocasionaram transformações e possibilidades para todos os âmbitos
da sociedade. No contexto educacional, essas tecnologias estão sendo cada vez
mais utilizadas, criando oportunidades para mudanças personalizadas, sociais e
flexíveis nas relações de ensino e aprendizagem (VALENTE, 2007, p. 84).
Segundo Mercado, no desenvolvimento dos processos de ensino, têm-se
novas ferramentas da interação midiática (2010, p. 114). Pesquisadores têm se
preocupado em investigar e analisar as possibilidades de uso das ferramentas da
internet na educação. Pesquisas realizadas por Harasim et al (2005), Palloff e Pratt
(2004), Silva (2003), Mercado (2009) e Moore e Kearsley (2007) destacam a
formação presencial e online, utilizando ambientes voltados à construção de um
conhecimento autônomo, numa abordagem transdisciplinar, dentro dos novos
paradigmas educacionais.
A cada época da história, as tecnologias tiveram o seu papel de auxiliar o
homem a usar ferramentas adequadas para as suas realizações. Estas ferramentas
se ampliaram do lápis, livro, giz, apagador, máquina de escrever, telefone, telex ao
computador. Esse desenvolvimento tecnológico trouxe novas ferramentas que, com
o planejamento e uso pedagógico adequado, promovem aprendizagem colaborativa,
produzindo interação no ambiente virtual, como fóruns, listas de discussão, chat,
google docs e o blog (MIRANDA, 2013, p. 320).
Acredito que é importante que o ensino universitário, na tentativa de
acompanhar o desenvolvimento tecnológico e de fazer parte da interação no
ambiente virtual, reconfigure sua prática pedagógica e incorpore de forma
metodologicamente sistematizada o uso dos recursos virtuais em suas áreas do
saber.
43
O blog é uma abreviação da palavra Weblog, sendo que Web (rede, teia)
relaciona-se à página da internet, enquanto log significa registro. Em linhas gerais,
trata-se, pois, de um registro na web. Os blogs são páginas de fácil edição e
publicação, nas quais as informações (posts) tornam-se o elemento principal. Desta
forma, democraticamente, os blogs vêm possibilitando a todos publicarem na
Internet, como também permitem a elaboração de conteúdos, multiplicando, com
isso, as possibilidades de transmissão de conteúdo utilizando a rede. Dito de outro
modo, o blog amplia as possibilidades de criação coletiva e aproximação de alunos e
professores, sendo estas as principais contribuições que podem oferecer para o
processo de ensino e aprendizagem (MERCADO 2010, p. 114).
Uma das primeiras experiências em Portugal no que concerne à utilização
dos blogs na educação parece ter ocorrido na Universidade do Minho, no âmbito do
curso de Mestrado em Informação e Jornalismo e deu origem, em 11 de abril de
2002, à criação do blog Jornalismo e Comunicação. Mundialmente, o fenômeno dos
“blogs educativos” ou “edublogs” constitui-se não só uma prática de intervenção
pedagógica, mas também como um domínio de estudo e investigação (BARBOSA,
2004, p. 47).
Concordo que o blog, como uma nova tecnologia de comunicação, influencia
no processo de ensino-aprendizagem e possibilita a reflexão sobre as práticas
pedagógicas. A universidade e sociedade não devem caminhar separadamente, e o
uso cada vez mais frequente de novas tecnologias faz com que os docentes
repensem suas práticas e reorganizem suas disciplinas.
Embora a distinção entre os blogs enquanto recurso pedagógico e os blogs
enquanto estratégia pedagógica nem sempre seja clara e, frequentemente, seja de
natureza arbitrária (GOMES, 2005, p. 312), vou adaptá-la para efeitos de
sistematização desta exposição. Como recurso pedagógico, os blogs podem ser um
espaço de acesso à informação especializada e um espaço de disponibilização de
informação por parte do professor. Como estratégia pedagógica, os blogs podem
assumir a forma de um portfólio digital, um espaço de intercâmbio e colaboração, um
espaço de debate – role playing – e um espaço de integração.
O blog é uma ferramenta assíncrona, isto é, o seu uso não acontece em
tempo real, mas favorece aos seus usuários serem autores, editores, pesquisadores,
44
bem como explorarem suas potencialidades por meio de comentários nas
postagens, de forma que professor e aluno se insiram num ciclo de interação, a
partir dos conteúdos que estão à disposição na ferramenta. Nisto, o uso do blog
permite à prática docente a ação pedagógica, ao se constituírem de estratégias,
metodologias que irão respaldar as intenções e realizações de ensino no conteúdo
planejado por meio do currículo (MIRANDA, 2013, p. 321).
Os blogs facilitam os trabalhos interdisciplinares e transdisciplinares,
permitem alternativas interativas e suporte a projetos que envolvam a universidade e
a comunidade, ajudam a construir redes sociais e redes de saber. Por intermédio
dos blogs, os autores podem editar e atualizar mensagens no formato hipertextual,
podendo disponibilizar textos, imagens, sons a qualquer tempo e espaço, e
permitindo também interagir com outros sujeitos. O blog permite ainda que outros
usuários possam intervir no conteúdo veiculado pelo seu autor, que se pluraliza,
compondo, assim, uma comunidade virtual (MERCADO, 2010, p. 116).
3.2
Objetivos
3.2.1 Objetivo geral:
Criar um blog interdisciplinar na área de saúde coletiva
3.2.2 Objetivos Específicos:
Incentivar e facilitar os trabalhos interdisciplinares e transdisciplinares, dando
visibilidade, alternativas interativas e suporte a projetos que envolvam os
diversos campos de prática do estágio em saúde coletiva da UNCISAL
vinculados ao NUCISP.
Estimular, por meio do ambiente virtual, a leitura, a escrita e a criatividade
relacionadas à saúde coletiva.
45
3.3
Público alvo
Docentes, discentes, gestores, preceptores e comunidade, envolvidos no
estágio de saúde coletiva da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de
Alagoas/UNCISAL e vinculados ao Núcleo de Ciências Humanas, Sociais e de
Políticas Públicas/NUCISP.
3.4
Ações e estratégias
Será proposta uma reunião com todos os docentes do Estágio em Saúde
Coletiva vinculados ao NUCISP/UNCISAL para discussão da proposta de criação de
um blog interdisciplinar administrado pelos docentes do Estágio em Saúde Coletiva.
A interface do blog deverá ser interativa, possibilitando que os docentes
adicionem posts referentes às atividades propostas e executadas no campo de
estágio, bem como compartilhar textos e fotos.
A interação docente-discente será estimulada através dos posts individuais
compartilhados pelos discentes que poderão adicionar no blog posts textuais,
fotográficos e links. Os posts dos discentes deverão ser estimulados pelos docentes
do estágio, contribuindo para o posicionamento crítico, leitura e escrita acerca das
temáticas relacionadas à saúde coletiva e as atividades realizadas no estágio.
Por se tratar de um blog único para todos os cursos, espera-se aproximar os
docentes e discentes do estágio em saúde coletiva do NUCISP/UNCISAL, facilitando
a comunicação e estimulando a organização de atividades multiprofissionais e
interdisciplinares, bem como a discussão entre as práticas existentes nos diversos
campos de prática.
46
REFERÊNCIAS
BARBOSA, E.; GRANADO, A. Weblogs: diário de bordo. In: Encontro da linha de
educação, currículo e ensino da Universidade Federal do Ceará, I, 2004. Fortaleza.
Anais, Saberes da docência, currículo e ensino. Ed. Porto Editora, 2004. Imprece,
2013.
GOMES, M.J. Blogs: um recurso e uma estratégia pedagógica. In: Actas do VII
Simpósio Internacional de Informática Educativa, SIIE, 2005, p. 305-311
HARASIM, L. et al. Redes de aprendizagem: um guia para ensino e aprendizagem
online. São Paulo: Senac, 2005.
MERCADO, L.P. Integração de mídias nos espaços de aprendizagem. Em Aberto, v.
22, nº 79, Brasília, 2009, jan, p. 1-197.
MERCADO, L.P.L. TIC em blog na formação docente superior: narrativa de um
formador. Revista EDaPECI, v. 5, nº 5, 2010, p. 113-133. Disponível em
http://www.seer.ufs.br/index.php/edapeci/article/view/590. Acesso em 09. mar. 2014.
MIRANDA, N.P. As Tecnologias na Formação Docente na Educação Superior
Presencial. In: Encontro da Linha de Educação Currículo, e Ensino da Universidade
Federal do Ceará, I, 2013, Fortaleza, Anais, Fortaleza: Imprece, 2013, p.320-324.
MOORE, M.; KEARSLEY, G. Educação a distância: uma visão integrada. São Paulo:
Thomson Learning, 2007.
PALLOFF, R.; PRATT, K. O aluno virtual: um guia para trabalhar com estudantes
online. Porto Alegre: Artmed, 2004.
SILVA, M. (organizador). Educação online. São Paulo: Loyola, 2003.
VALENTE, C. Second Life e Web 2.0 na educação: o potencial revolucionário das
novas tecnologias. São Paulo: Novatec Editora, 2007.
47
4
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Este trabalho de pesquisa possibilitou conhecer as atividades docentes, em
nível de planejamento e prática relacionada à interdisciplinaridade no Estágio em
Saúde Coletiva de uma universidade do estado de Alagoas.
Percebeu-se que há disponibilidade docente para trabalhar em equipe e
construir coletivamente as ações, porém os docentes que atuam em campos de
prática isolados, sem a atuação de outros cursos no mesmo campo de estágio,
esbarram nas dificuldades em estabelecerem relações recíprocas com as unidades
básicas de saúde pertencentes aos campos de prática, reforçando a importância de
propiciar campos de prática integrados com os diversos cursos presentes na
instituição.
Foi possível encontrar iniciativas interdisciplinares nos campos de prática que
possuem mais de um curso no mesmo ambiente, as práticas docentes são
planejadas coletivamente, as ações discentes são realizadas interdisciplinarmente,
entretanto os sujeitos entrevistados apontaram algumas dificuldades, tais como:
currículo tecnicista, baixa carga horária curricular para saúde coletiva, vinculo
docente
e
a
resistência
discente
diante
de
ações
multiprofissionais
e
interdisciplinares.
Diante da necessidade de proporcionar ambientes de troca de saberes,
experiências
e
aprendizagem
que
incentivem
ações
multiprofissionais
e
interdisciplinares, surge o blog Interdisciplinaridade e Saúde Coletiva, já que acredito
que os blogs facilitam os trabalhos interdisciplinares e transdisciplinares, permitem
alternativas interativas e suporte a projetos que envolvam a universidade e a
comunidade, ajudam a construir redes sociais e redes de saber.
Por fim, percebe-se que há um longo caminho a percorrer, e a
interdisciplinaridade surge como uma possibilidade para a superação da dissociação
do conhecimento, orientando a construção de um novo saber, uma nova ordem de
conhecimento, constituindo-se como uma condição necessária para melhoria da
formação em saúde para a atenção básica e para o Sistema Único de Saúde.
48
REFERÊNCIAS
BOSI, M.L.M.; Mercado, F.J. Pesquisa qualitativa de serviços de saúde. Petrópolis:
Vozes, 2004.
GADOTTI, M. Interdisciplinaridade: atitude e método. São Paulo: Instituto Paulo
Freire, 1999.
MADEL, T.L. Complexidade do Campo da Saúde Coletiva: multidisciplinaridade,
interdisciplinaridade, e transdisciplinaridade de saberes e práticas – análise sóciohistórica de uma trajetória paradigmática. Saúde Sociedade, v.18, nº 2, São Paulo,
abr/jun, 2009, p. 304-311. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010412902009000200013&script=sci_arttext. Acesso em 09. mar. 2014.
MINAYO, M.C.S. O desafio de conhecimento: pesquisa qualitativa em serviço. 2. ed.
São Paulo: Hucitec, 1993.
XAVIER, A.C.S. Letramento digital e ensino. 2007. In: SILVA, A. Blog educacional: o
uso das novas tecnologias no ensino. Vertentes, São João del-Rei: UFSJ, n. 31,
jan/jun,
2008,
p.75-84.
Disponível
em
http://intranet.ufsj.edu.br/rep_sysweb/File/vertentes/Vertentes_31/adriana_da_silva.p
df. Acesso em 24. maio. 2014.
49
APÊNDICE A – INTERFACE DO BLOG: INTERDISCIPLINARIDADE E SAÚDE
COLETIVA
50
ANEXO A – COMPROVANTE DA APROVAÇÃO DO PROJETO PELO COMITÊ DE
ÉTICA EM PESQUISA
51
52
53
ANEXO B – COMPROVANTE DE SUBMISSÃO DO ARTIGO À AVALIAÇÃO:
REVISTA INTERFACE - COMUNICAÇÃO, SAÚDE, EDUCAÇÃO.
