PET-Saúde: uma Experiência Prática de Integração Ensino-serviço-comunidade
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PET-Saúde: uma Experiência Prática de
Integração Ensino-serviço-comunidade
The Educational Program for Health Work: a
Practical Experience in the Integration of
Learning, Service, and the Community
Vinicius Santos FerreiraI
Renata Lavigne Moniz BarretoI
Emilie Kruschewskt OliveiraI
Pedro Rafael Farias FerreiraI
Laryssa Passos Sarmento SantosI
Vitor Eduardo Andrade MarquesI
Monaliza Lemos de SouzaI
Vanessa Valverde MenezesI
Karla Thayse Mendes SoaresI
Laís Ribeiro OliveiraI
Lorena Marinho de SouzaI
Rízia de Melo MendesI
Edmundo P. PintoII
Maria BittencourtII
Silvana TapiocaII
Rita de Cássia S. AlmeidaIII
Andréa LinharesIII
Alessandra FariasIII
Meire Núbia S. de SantanaIV
RESUMO
Este trabalho relata a experiência de integração ensino-serviço-comunidade vivenciada por membros de equipes de
Saúde da Família e graduandos de Medicina e Enfermagem participantes do PET-Saúde da Universidade Estadual
de Santa Cruz. A referida integração contextualizou-se com o desenvolvimento do projeto “Unidos contra a dengue”, mobilização conjunta da instituição de ensino com o serviço de saúde e a comunidade no combate à dengue
no bairro Nossa Senhora da Vitória, Ilhéus-Bahia. O foco das ações desse projeto foram as atividades de educação
em saúde, nas quais se empregou preferencialmente metodologias ativas de ensino e aprendizagem. A mobilização
contou com a participação expressiva da população das mais diversas faixas etárias. O sucesso do projeto ressalta
a importância da implantação de programas como o PET-Saúde, que fortalecem a interação entre ensino-serviço-comunidade – importante para construção de serviços de saúde mais qualificados, capazes de inter-relacionar
promoção, prevenção e assistência à saúde, possibilitando ações nessa área mais próximas das reais necessidades do
SUS. Com esta experiência, espera-se ter contribuído para a formação de graduandos em saúde e qualificação em
serviço de profissionais dessa área mais dispostos a trabalhar de forma integrada e integradora com a comunidade.
PALAVRAS-CHAVE:
– Educação em Saúde;
– Prática Profissional;
– Programa Saúde da Família;
– Sistema Único de Saúde.
ABSTRACT
This study reports on a practical experience with the integration between learning, services, and the community
including members of family health teams and undergraduate medical and nursing students participating in the
Educational Program for Health Work (PET-Saúde) at Santa Cruz State University. The integration took place
within the context of the project “United Against Dengue”, an integrated mobilization of the teaching institution,
health services, and community in the fight against dengue fever in the district of Nossa Senhora da Vitória,
Ilhéus, Bahia State. The projects focused on health education activities, especially with active teaching and learning methods. The mobilization included a significant range of age groups. The project’s success emphasizes the
importance of implementing programs such as PET-Saúde that strengthen the interaction between learning, services, and the community, important for developing more qualified health services with the capacity to interrelate
health promotion, prevention, and healthcare, fostering health activities more in line with the needs of the Unified
National Health System (SUS). This experience aims to contribute to the qualification and training of health
professionals and students that are willing to work in an integrated and integrating approach with the community.
KEYWORDS:
– Health Education;
– Professional Practice;
– Family Health Program;
– Single Health System.
Recebido em: 20/09/2010
Aprovado em: 24/11/2010
REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA
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I
Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, BA, Brasil.
II
Médico preceptor do PET-Saúde, Ilhéus, BA, Brasil.
III
Enfermeira Preceptora do PET-Saúde, Ilhéus, BA, Brasil.
IV
Tutora Acadêmica do PET-Saúde, Ilhéus, BA, Brasil.
Vinicius Santos Ferreira et al.
PET-Saúde: Ensino-serviço-comunidade
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, diversas iniciativas instituídas pelo Ministério da Saúde em parceria com o Ministério da Educação,
representadas por instituições de ensino superior e movimentos de controle social em saúde, têm incitado o debate e a construção de uma política de orientação das práticas formativas
de profissionais da saúde e do desenvolvimento dos recursos
humanos em atuação¹.
Esse novo paradigma indica a necessidade de reorientar as
relações entre profissionais da saúde, instituições de ensino e
comunidade e de redefinir processos formativos para atuação
em um mundo em constante processo de transformação, garantindo o atendimento integral e humanizado à população².
Nesse contexto, o Programa de Educação pelo Trabalho
para a Saúde (PET-Saúde), constitui-se uma das ações intersetoriais direcionadas para o fortalecimento da atenção básica e
da vigilância em saúde, de acordo com os princípios e necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS). Esse programa tem
como um dos pressupostos a educação pelo trabalho baseada
na integração ensino-serviço-comunidade³.
O PET-Saúde é uma das estratégias do Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde, o
Pró-Saúde, que atua no País desde 2005. Cada grupo PET-Saúde é formado por um tutor acadêmico, 30 estudantes – sendo
12 monitores bolsistas – e seis preceptores³.
PET-SAÚDE ILHÉUS
Desde 2009, a Universidade Estadual de Santa Cruz – Uesc
desenvolve nos municípios de Ilhéus e Itabuna dois projetos
PET-Saúde (PET-Saúde/Ilhéus e PET-Saúde/Itabuna). Participam dos projetos os profissionais da saúde (médicos e enfermeiros) das unidades onde o programa está inserido, além de
docentes e discentes dos cursos de Medicina e Enfermagem
da instituição. O PET-Saúde/Ilhéus contou inicialmente com
seis equipes. No biênio 2010-2011, este número duplicou, estando em atuação 12 equipes. Dessas equipes, três encontram-se inseridas, desde a criação do projeto, na Unidade de Saúde
da Família do bairro Nossa Senhora da Vitória, constituindo o
PET-Saúde/Nossa Senhora da Vitória.
Ilhéus, município do sul da Bahia, apresenta, segundo
estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE)4 para o ano de 2009, uma população de aproximadamente 220 mil habitantes. Nesse município, de acordo com
dados do Departamento de Informática do SUS (Datasus)5 de
junho de 2010, existem 29 equipes de Saúde da Família (ESF).
A cobertura da população de Nossa Senhora da Vitória, bairro periférico de Ilhéus com aproximadamente oito mil habitantes,
é realizada por três ESFs, que dividem o mesmo espaço físico de
uma unidade de saúde. Tal peculiaridade exige que as equipes
trabalhem de forma integrada sem, no entanto, perder a singularidade da atenção exigida por cada população adscrita. Os obstáculos que advêm de exigências como as desse serviço de saúde
podem ser superados quando se trabalha com profissionais qualificados, atuantes e que saibam exercer o ofício coletivamente,
o que justifica a implantação de programas como o PET-Saúde.
Os documentos do Ministério da Saúde que normatizam
o PSF atribuem a cada um dos profissionais da ESF funções
específicas6. No entanto, o trabalho em saúde exige que esses
indivíduos trabalhem coletivamente compreendendo que o
cuidado deve ser compartilhado, humanizado, com responsabilização e vínculo com a comunidade. O trabalho em equipe, segundo Testa7, não implica eliminar as diferenças que são
possivelmente necessárias e convenientes, que podem ser utilizadas como instrumento no avanço da democratização e da
ética nas relações de trabalho e do próprio serviço produzido.
No âmbito do trabalho em saúde, mostra-se fundamental
a mediação entre ações interdisciplinares e multiprofissionais,
em que aquelas dizem respeito à integração entre as várias
ciências e disciplinas, enquanto estas se referem à integração
das distintas categorias profissionais na operação do trabalho8. Nesse contexto, o PET-Saúde/Nossa Senhora da Vitória
tem contribuído de diferentes maneiras para o aumento da integração entre as ESFs da unidade e a qualificação em serviço
dos profissionais das referidas equipes.
Algumas ações vêm sendo desenvolvidas pelo PET-Saúde/
Nossa Senhora da Vitória, tais como a implantação de novas linhas de cuidado e projetos de mobilização da comunidade. Esses
projetos são elaborados com o objetivo de fortalecer a integração entre serviço e comunidade com enfoque na promoção da
saúde e prevenção de agravos da população. O presente relato
tem como finalidade, portanto, apresentar uma experiência de
integração entre ensino-serviço-comunidade vivenciada durante
o desenvolvimento do projeto de mobilização contra a dengue.
PROJETO “UNIDOS CONTRA A DENGUE”
O projeto “Unidos contra a dengue: mobilização comunitária
no bairro Nossa Senhora da Vitória”, idealizado e executado
coletivamente com as ESFs e as equipes do PET-Saúde/Nossa
Senhora da Vitória, foi realizado no período de abril e maio
do ano de 2010. Suas ações tiveram como principais objetivos
sensibilizar e mobilizar a população com relação às medidas
de prevenção da dengue no bairro.
Por que fazer?
Nos primeiros meses de 2010, segundo dados da Vigilância
Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Ilhéus-
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-Ba, registrou-se na população de Nossa Senhora da Vitória 52
casos de dengue clássica e cinco de dengue hemorrágica, representando este último dado 12% dos casos de dengue hemorrágica do município de Ilhéus. Essa elevada incidência de casos
de dengue na comunidade evidenciou a necessidade de elaboração de uma proposta de ação para redução dos preocupantes
números exibidos. O referido projeto, portanto, teve como objetivos: (1) desenvolver atividades educativas na Unidade de
Saúde da Família e escolas do bairro; (2) incentivar a organização da comunidade para eliminação de focos de transmissão
da doença nos domicílios ou peridomicílio; (3) firmar parcerias
institucionais, buscando a continuidade das ações voltadas à
prevenção da dengue no bairro.
Com quem fazer?
Para a execução do projeto foi realizado um movimento de
integração de diferentes sujeitos sociais. Além dos proponentes (ESFs e equipes PET-Saúde), participaram das atividades
como importantes colaboradores os alunos do Centro Educacional Fé e Alegria (Cefa), da Escola Dom Valfredo Tepe e
graduandos do curso de Medicina/Uesc (disciplina Práticas
de Integração Ensino-Serviço-Comunidade III e IV). O projeto
teve apoio ainda da Coordenação de Vigilância Epidemiológica/Diretoria de Vigilância da Saúde/SMS-Ilhéus, Associação
de Moradores do Bairro Nossa Senhora da Vitória e a empresa
local de produtos de limpeza, Cloro’s – Material de Limpeza.
Como fazer?
Para alcançar os objetivos do projeto foram realizadas diversas atividades. A primeira delas correspondeu à caminhada
“Unidos contra a dengue”, durante a qual se divulgou informações sobre as formas de contágio, prevenção e combate à
dengue. Participaram desse momento todos os proponentes e
colaboradores do projeto, que caminharam por todas as ruas
do bairro, acompanhados de sonorização que vinculava vinhetas sobre a dengue. Essas vinhetas foram produzidas pelos graduandos do curso de Medicina e Enfermagem da Uesc
e buscavam de maneira lúdica informar sobre as formas de
prevenção e combate à dengue, bem como convidar a população para a mobilização que aconteceria a partir daquela data.
Alguns dos participantes vestiam fantasias de mosquito da
dengue e todos realizavam a distribuição de panfletos e afixavam cartazes informativos em locais de grande circulação na
comunidade, para estimular a eliminação de focos de transmissão da doença nos domicílios e arredores.
Um segundo momento foi a realização da peça teatral Mariquinha contra a dengue, realizada nas escolas do bairro, para
divulgar informações sobre as formas de contágio, prevenção e
combate à dengue. Com isso atingiu-se um público específico,
composto por educadores e alunos, considerados como potenciais multiplicadores das informações de saúde para os demais
membros da comunidade. Foram realizadas três exibições da
peça em vários locais, como, por exemplo: uma no Cefa, outra na
Escola Dom Valfredo Tepe e uma na turma do programa Todos
pela Alfabetização (Topa). Esta última, que não constava no projeto inicial, foi realizada a convite da própria comunidade, uma
vez que as duas primeiras demonstraram excelentes resultados.
De maneira caricata, as situações do cotidiano foram retratadas
pelos “atores” (estudantes de Medicina e Enfermagem da Uesc),
buscando levar os expectadores a refletir sobre as suas atitudes
diante da dengue. A partir disso, em conjunto com os atores, o
público foi estimulado a elaborar soluções para os problemas
enfrentados pela comunidade relacionados ao tema encenado.
Ainda no que envolve atividades de educação em saúde,
foram desenvolvidas atividades na sala de espera (SE) da Unidade de Saúde, esclarecendo os usuários sobre as formas de
contágio, prevenção e principais sintomas da dengue. Essas
ações foram realizadas por graduandos do curso de Medicina
da Uesc, integrantes e não integrantes do PET-Saúde, durante as atividades semanais da disciplina Práticas de Integração
Ensino-Serviço-Comunidade III e IV. A realização de SE, na
unidade em questão, é uma prática quase que diária, sendo
realizadas por graduandos dos cursos de Medicina e Enfermagem, bem como por médicos e enfermeiras da unidade.
Como última atividade realizada, houve a reunião com
representantes das instituições locais (Conselho Local de Saúde, Associação de Moradores, líderes religiosos, educadores,
dentre outros), para informação a respeito da doença e dos
resultados alcançados até aquele momento com o desenvolvimento do projeto.
O que conseguimos?
Durante os desenvolvimentos das atividades do projeto, contou-se com a participação de aproximadamente 700 pessoas
da comunidade das mais diversas faixas etárias.
Nas atividades educativas desenvolvidas nas escolas, o
público infantojuvenil representou o maior número de participantes. A metodologia escolhida – dramatização – proporcionou uma grande interação entre os proponentes e o público-alvo. Isso permitiu a construção coletiva do conhecimento a
respeito da temática abordada e não apenas uma mera transmissão vertical de conhecimento.
A dramatização foi escolhida por representar uma metodologia ativa de ensino e aprendizagem. A dramatização permite o aprendizado de forma contextualizada para uma nova
realidade, assumindo um caminho flexível, de maneira criati-
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va, lúdica e divertida, em que o docente também assume o papel de educando, vivenciando a aprendizagem mútua, na qual
o conhecimento é compartilhado, considerando que todos têm
algo para ensinar e aprender9.
Diante disso, a educação em saúde, compreendida como
caminho que busca articular dimensões complementares com
vistas à construção de respostas sociais significativas, torna-se possível quando se entende que a educação não trata de
definir comportamentos corretos para os demais, mas de criar
oportunidades de reflexão crítica e interação dialógica entre
sujeitos sociais10.
Nos momentos de reflexão, ao final de cada encenação, os
participantes citaram a precariedade da coleta de lixo e o baixo
empenho da população no combate aos criadouros do mosquito
como principais causas dos altos índices de dengue no bairro.
Segundo eles, essa realidade decorre principalmente da ineficácia dos serviços públicos de rede esgoto e coleta de lixo associada à incipiente conscientização dos riscos das práticas inadequadas de higiene. Segundo o Ministério da Saúde, o acúmulo de
lixo e de detritos em volta das casas pode servir como excelente
meio de reserva de água da chuva. Portanto, as pessoas devem
evitar tal ocorrência e solicitar a coleta pelo serviço de limpeza
pública – ou enterrar ou queimar o lixo onde isso for permitido11.
Como possíveis soluções para os problemas citados, os
participantes sugeriram a realização contínua de atividades
educativas, como as deste projeto, nas escolas e entidades do
bairro. Entendendo a promoção da saúde como o processo de
capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no
controle desse processo, acredita-se que a estratégia sugerida
permitirá a médio e longo prazo a reconstrução de conceitos e
valores importantes para a promoção e prevenção da saúde.
Outra solução proposta referiu-se à organização de mutirão
para coleta de objetos que pudessem servir de criadouros para
depósitos dos ovos do mosquito. Essa atividade emergencial se
destinava a reduzir os altos índices de infestação por domicílio
existente na comunidade. A proposta evidencia o alcance da sensibilização dos participantes promovida pelo projeto. A maioria
dos sujeitos presentes às atividades revelou não ter conhecimento que um mero copo plástico, um brinquedo de criança ou mesmo parte dele possam servir de criadouros para o mosquito. A
maioria deles acreditava apenas ser possível a reprodução do
mosquito em objetos como pneus, garrafas e vasos de planta.
Quanto às atividades de SE, estas foram realizadas em
quatro oportunidades, com um público diário de aproximadamente 40 pessoas e atingiram especificamente os usuários
do serviço de saúde local. A utilização desse espaço mostrou-se de extrema importância para alcançar-se os objetivos do
projeto, uma vez que permitiu atingir um público diferente
daquele contemplado nas outras atividades. A SE também
proporcionou a ratificação da integração entre ensino e serviço. Integração esta já vivenciada no cotidiano da unidade
de saúde devido à inserção dos graduandos de Medicina e de
Enfermagem em práticas curriculares dos respectivos cursos.
Entende-se por integração ensino-serviço o trabalho coletivo, pactuado e integrado de estudantes e professores dos cursos
de formação na área da saúde com trabalhadores que compõem
as equipes dos serviços de saúde, incluindo-se os gestores, visando à qualidade de atenção à saúde individual e coletiva, à qualidade da formação profissional e ao desenvolvimento/satisfação
dos trabalhadores dos serviços12. A qualidade da formação profissional pode ser alcançada por ações de educação permanente.
A educação permanente (EP) se baseia na aprendizagem
significativa e na possibilidade de transformar as práticas profissionais. A EP pode ser entendida como aprendizagem-trabalho, ou seja, ela acontece no cotidiano das pessoas e das organizações. Os processos de educação permanente em saúde
têm como objetivos a transformação das práticas profissionais
e da própria organização do trabalho13.
Qualificar a atenção à saúde, porém, exige, além da qualificação do serviço, a intersetorialidade das ações. No Brasil,
a intersetorialidade vem sendo considerada como importante
componente para a mudança do modelo assistencial e de reorganização da atenção à saúde14. Nessa perspectiva, a reunião
com os representantes de instituições locais foi bastante proveitosa para consolidar a integração serviço-ensino-comunidade,
valorizando o trabalho intersetorial na atenção à saúde. Na
oportunidade, apresentou-se aos participantes os dados epidemiológicos do município de Ilhéus e do bairro Nossa Senhora
da Vitória relacionados com a dengue e alertou-se a respeito do
elevado índice de casos de dengue hemorrágica na localidade,
bem como dos principais sinais de alerta da forma mais grave
da doença. Por fim, foram apresentados os dados das atividades
desenvolvidas no projeto até aquela data e discutidas as formas
de combate ao mosquito da dengue viáveis à realidade local.
O que concluímos?
Tendo em vista o grau de integração, colaboração e participação
dos sujeitos envolvidos no projeto, apreende-se que o PET-Saúde no referido serviço tem atingido o seu objetivo de qualificação da atenção à saúde. Essa qualificação tem sido alcançada
por meio do aperfeiçoamento em serviço dos profissionais da
saúde, pela iniciação ao trabalho e vivências dos estudantes das
graduações em saúde, de acordo com as necessidades do SUS,
bem como pelo incentivo à participação ativa da comunidade no
processo do cuidado. Resultados como os alcançados pelo pro-
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jeto reforçam a importância da implantação de programas que
inter-relacionem ações de promoção, prevenção e assistência à
saúde. Com esta experiência, em que se valorizou o desenvolvimento do cuidado em saúde de forma integrada e integradora
com a comunidade, espera-se ter contribuído para a formação
dos graduandos em saúde, para o processo de educação permanente dos profissionais de saúde participantes do PET-Saúde/
Ilhéus e para a sensibilização da comunidade no que se refere à
importância de adotar práticas preventivas no cuidado à saúde.
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Avaliação em saúde: dos modelos conceituais à prática na
avaliação de programas. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz;
2005. p. 103-50.
AGRADECIMENTO
Os autores agradecem à M.Sc Aurizangela Oliveira de Sousa
pela relevante contribuição na elaboração e revisão do texto
final deste artigo.
CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES
Vinicius Santos Ferreira, Monaliza Lemos de Souza, Vanessa
Valverde Menezes e Rita de Cássia S. Almeida participaram
da construção e execução do projeto e da elaboração do artigo.
Renata Lavigne Moniz Barreto participou da execução do projeto e da elaboração do artigo. Emilie Kruschewskt Oliveira,
Pedro Rafael Farias Ferreira, Laryssa Passos Sarmento Santos,
Vitor Eduardo Andrade Marques, Karla Thayse Mendes Soares, Laís Ribeiro Oliveira, Lorena Marinho de Souza, Rízia de
Melo Mendes, Edmundo P. Pinto, Maria Bittencourt, Silvana
Tapioca, Andréa Linhares e Alessandra Farias participaram da
construção e da execução do projeto. Meire Núbia S. de Santana participou da revisão do artigo.
CONFLITOS DE INTERESSE
Declarou não haver.
ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA
Vinicius Santos Ferreira
Rua Joana Angélica, 86
Centro – Ilhéus
CEP: . 45653-640 BA
E-mail: viniferreira_uesc@hotmail.com
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