A Atuação dos enfermeiros egressos do curso de especialização em obstetrícia no nordeste do brasil – da proposta à operacionalização
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Enfermagem Obstétrica: operacionalização no nordeste brasileiro
PESQUISA
Costa AANM, Schirmer J
Esc Anna Nery (impr.)2012 abr -jun; 16 (2):332- 339
RESEARCH - INVESTIGACIÓN
A ATUAÇÃO DOS ENFERMEIROS EGRESSOS DO CURSO DE
ESPECIALIZAÇÃO EM OBSTETRÍCIA NO NORDESTE DO BRASIL – DA
PROPOSTA À OPERACIONALIZAÇÃO
The role of nurses graduated at the course of expertise in obstretics, in the northeast
of Brazil - from the proposal up to the operacionalization.
La actuación de las enfermeras egresas del curso de especialización en el nordeste de
Brasil – desde la propuesta hasta la operación
Arabela Antônia Nery de Melo Costa1
Janine Schirmer2
RESUMO
Com o objetivo de detalhar a atuação de enfermeiros após especialização em Obstetrícia na Região Nordeste do Brasil e os
benefícios dessa atuação consubstanciados em premiações para a instituição em que trabalhavam, procedeu-se a estudo transversal,
descritivo, exploratório, entre maio de 2006 e março de 2007, em duas fases: a primeira com entrevista estruturada para 127
(67,2%) dos 345 egressos da especialização, residentes em nove estados do Nordeste, e a segunda com contato telefônico via
web a 56 (98,2%) enfermeiros. Constatou-se que 114 (90,5%) egressos atuavam na assistência, 50 (39,7%) na administração
e 47 (37,3%) na docência de enfermagem. Só em Pernambuco, os egressos lecionavam a residentes de enfermagem. Predominou
a concessão da premiação pelo Ministério da Saúde a instituições com egressos. Concluiu-se que cursos de especialização em
enfermagem obstétrica, financiados pelo Ministério, ensejaram ganhos a egressos e instituições, permitindo melhor assistência,
resultando em premiações pela implantação de novos modelos assistenciais.
ha
Pala
vr
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alavr
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havve: Enfermeiras obstétricas. Prática profissional. Área de atuação profissional.
Abstract
Resumen
With the aim of clarifying in detail the role of nurses after the
specialization in obstetrics, in the northeast of Brazil, and the
benefits of this substantial performance in awards to the institution
where they used to work. A cross-sectional, descriptive and
exploratory study was proceeded between May 2006 and March
2007, divided in two steps: The first one applying a structured
interview for 127 (67,2%) from the 345 graduated at the
specialization, residents from the nine states located in the
northeast, and the second one was through telephone contacts
via web to 56 (98,2%) nurses. We noticed that 114 (90,5%)
from the graduated, worked in assistance, 50 (39,7%) at the
administration and 47 (37,3%) teaching in nursing. Only in
Pernambuco, the graduated used to teach the residents in
nursing. The granting of the award by the Ministry of Health to
the institutions with graduates was predominant. It was
concluded that specialization courses in obstetrics nursing have
contributed to provide gains to the graduates and to the
institutions, allowing a better assistance, resulting in awards for
the implementation of new models for care assistance.
Para detallar la actuación de las enfermeras después de la
especialización en Obstetricia, en el Nordeste de Brasil y los
beneficios de esta acción representados por premiación a la
institución donde trabajaban, se realizó el estudio transversal,
descriptivo, exploratorio, entre mayo de 2006 y marzo de 2007
en dos fases: la primera, con entrevista estructurada a 127
(67,2%) de los 345 graduados de especialización, que vivían en
nueve estados del Nordeste; la segunda, con contacto por
teléfono a través de web con 56 (98,2%) enfermeros. Se constató
que 114 (90,5%) graduados trabajaban en la atención, 50
(39,7%) en la administración y 47 (37,3%) en la enseñanza de
enfermería. Sólo en Pernambuco, los graduados estaban
enseñando en residencias de enfermería. La premiación concedida
por el Ministerio de la Salud predominó para instituciones con
graduados. Se concluyó que los cursos de especialización en
enfermería obstétrica, financiados por el Ministerio, oportunizaron
los egresos e instituciones, permitiendo mejor asistencia,
resultando en premiación por la implementación de nuevos
modelos de atención.
Keyw
or
ds: Obstetric Nurses. Professional Practice.Area of
ywor
ords:
Professional Activity.
Pala
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as ccla
la
alabr
bras
lavve: Enfermeras Parteras. PrácticaProfesional.
Áreas de actividad profesional
1
Enfermeira Obstetra. Professora Adjunta da Universidade de Pernambuco - UPE. Doutora em Ciências. Coordenadora do Curso de Especialização em
Enfermagem Obstétrica da UPE. Recife-PE. Brasil. E-mail: arabela_costa@uol.com.br; 2Enfermeira Obstetra. Professora Titular da Escola Paulista de
Enfermagem. Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UNIFESP. São Paulo – SP. E-mail: schirmer.janine@unifesp.br
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INTRODUÇÃO
A partir de 1985, a Organização Mundial de Saúde
iniciou um debate mundial sobre a mortalidade materno-fetal,
que atingia cifras alarmantes. Em 2003, as estimativas
mundiais eram de 120 milhões de gravidezes, das quais mais
de um milhão de mulheres morriam em consequência de
complicações; mais de 50 milhões eram acometidas por
enfermidades ou incapacidades graves relacionadas com a
gravidez e pelo menos 1,2 milhão de recém-nascidos morriam
por complicações durante o parto1. Os esforços dos países,
dentre os quais o Brasil, passaram a ser redobrados na tentativa
de redução dessas taxas.
Em 1985, a Carta de Fortaleza, documento de consenso
internacional, baseada no princípio do direito fundamental de
a mulher receber cuidados adequados de pré-natal,
contemplando os fatores sociais, emocionais e psicológicos2,
desencadeou um processo de conscientização e aglutinou
representantes de grupos e entidades que comungavam
preocupações e indignações com a situação do nascer em nossa
sociedade, tal como a Rede pela Humanização do Parto e
Nascimento, criada em 1993. Havia um propósito de aliar
conhecimento técnico e científico, sistematizado e comprovado,
a práticas humanizadas de assistência ao parto e nascimento3.
A partir do reconhecimento de que a formação de mão
de obra qualificada para a assistência ao parto e nascimento e
a implantação das recomendações da OMS para prática do
parto normal poderiam permitir a redução da mortalidade
materno-fetal, foi implementada pelo Ministério da Saúde a
proposta de construção de um “Novo Modelo de Atenção à
Saúde da Mulher no País”.
Ao implantar e financiar Cursos de Especialização em
Enfermagem Obstétrica (CEEO), em todo o país, por intermédio
da Área Técnica de Saúde da Mulher, a partir de 1999, o
Ministério da Saúde reconheceu tacitamente a importância da
atuação do enfermeiro obstetra na implementação da Política
de Saúde da Mulher4, a qual deu origem ao Programa de
Humanização no Pré-Natal e Nascimento (PHPN), respaldado
pelas Portarias GM/569, 570, 571 e 572/20005,6,7
Buscando assegurar a melhoria do acesso da cobertura
e da qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência
ao parto e puerpério, entre1999 e 2004, foram ministrados
76 CEEO, em todo o país, especializando 1.366 enfermeiras
obstetras8.Vinte e dois destes cursos foram ministrados na
Região Nordeste, especializando 345 enfermeiras obstetras,
distribuídas nas regiões urbanas e rurais. Essa distribuição
buscava aumentar a cobertura da assistência com qualidade.
Diferente da zona urbana, na qual a maioria dos partos era
realizada em ambiente hospitalar, nas zonas rurais, ribeirinhas
e lugares de difícil acesso, muitas vezes a única opção era o
parto domiciliar, assistido por parteiras tradicionais. Além disso,
nessas localidades, os serviços de saúde estavam mal
equipados9.
A hipótese, que norteou o Ministério da Saúde na
concepção desses cursos, foi que enfermeiros obstetras melhor
capacitados, exercendo suas atividades com base nas diretrizes
do PHPN, poderiam oferecer assistência humanizada ao prénatal, parto e nascimento.
O exercício do magistério superior por mais de duas
décadas, aliado à pesquisa sobre formação e atuação do
Enfermeiro Obstetra (EO) no Brasil, nos permitiu supor uma
aparente incoerência entre a formação e o exercício profissional,
pois parte dos egressos não atuava na assistência, motivando
este estudo. O objetivo foi detalhar a atuação dos enfermeiros
após a especialização em Obstetrícia, com base nas diretrizes
do PHPN, na Região Nordeste do Brasil, e os benefícios dessa
atuação consubstanciados em premiações para a instituição
em que trabalhavam.
MÉTODO
O estudo, de caráter descritivo e de corte transversal,
foi desenvolvido na Região Nordeste do Brasil e incluiu os
estados de Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, ocupando uma
área de 1.558.196 km², equivalente a 18% do território
nacional, com população de 51.065.275 habitantes, à época
do estudo10, quando havia a proporção de 6,2 enfermeiros no
exercício profissional por 10 mil habitantes, em 200510.
O estudo foi realizado em duas fases. Na primeira,
admitiram-se como critérios de inclusão estar cadastrado como
aluno do CEEO do Ministério da Saúde, no período de 1999 a
2004; responder ao contato telefônico da pesquisadora para
convite de participação na pesquisa; e responder às questões
contidas no questionário semiestruturado. Na segunda fase,
foram incluídas as enfermeiras obstetras que, na primeira fase,
referiram atuar na assistência ao parto e nascimento e
concordaram em participar de entrevista estruturada por meio
de telefone via web (voip).
A coleta de dados foi realizada no período de maio de
2006 a março de 2007 e composta por três etapas. Na
primeira, foi mantido contato com as coordenadoras dos 22
CEEO, ministrados por 14 Instituições de Ensino Superior da
Região Nordeste, para que se obtivesse a relação nominal dos
345 egressos. Na segunda etapa da coleta, foi mantido contato
telefônico com todos os egressos, sendo 189 (54,8%)
localizados e convidados a participar, os quais constituíram a
população de estudo.
A terceira etapa da coleta esteve constituída por duas
fases. Na primeira fase, foram coletadas as respostas de 127
(67,2%) egressos, utilizando-se um questionário
semiestruturado, com perguntas fechadas e abertas, sobre
dados sociodemográficos, formação acadêmica e atuação
profissional. Esse total compôs a amostra de conveniência, dado
que os participantes da pesquisa se caracterizavam como
voluntários. Dos 57 (44,9%) egressos que referiram atuar na
assistência ao parto e nascimento, 56 (98,2%) aceitaram
333
Enfermagem Obstétrica: operacionalização no nordeste brasileiro
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participar da segunda fase do estudo, por meio de telefone via
web (voip), realizada logo após a aplicação do questionário
semiestruturado. Essa fase consistiu na coleta de informações
detalhadas sobre atuação profissional, elaboradas a partir das
diretrizes propostas pela Área Técnica de Saúde da Mulher do
Ministério da Saúde e pela Portaria n°. 569 de 1° de junho de
20004, que criou o Programa de Humanização no Pré-Natal e
Nascimento (Quadro 1).
Para detalhamento da atuação profissional, foram
consideradas as variáveis: permanência da atuação na
assistência ao parto e nascimento, discriminação das
modificações realizadas nas práticas da assistência ao parto e
nascimento, após a especialização; realização do parto normal;
registro do parto realizado, de acordo com a Portaria nº. 2815/
98/GM; preenchimento do Laudo de Enfermagem de
Autorização de Internação Hospitalar, de acordo com Portaria
n°.163/99 SAS/MS; intervenções desenvolvidas na assistência
humanizada ao parto e nascimento de baixo risco, segundo
recomendações da OMS/MS, bem como relato de facilidades e
dificuldades encontradas para implantar o PHPN nas
Instituições onde trabalhavam.
Para caracterização amostral, foram consideradas
naturalidade, local de residência, idade, sexo, estado civil,
tamanho familiar, grau de parentesco com coabitantes, dados
de formação acadêmica e profissional em enfermagem, locais
de atuação profissional e tipo de atividade desenvolvida.
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Os dados coletados foram compilados em banco de dados
e apresentados em forma de tabelas, quadros, gráficos e figuras.
Para as variáveis qualitativas, foram apresentadas as
distribuições de frequências absolutas (N) e relativas (%). Para
as variáveis quantitativas, foram utilizadas como medidasresumo: média, mediana, além de erro-padrão e valores mínimo
e máximo, para indicar a dispersão. Nas comparações, para
verificar semelhança de distribuição das diversas variáveis entre
os diferentes grupos avaliados, empregou-se o teste QuiQuadrado ou o teste exato de Fisher (F), quando necessário,
considerando, em ambos, nível de significância de 5%.
Na análise de contingência, em que houve evidência de
associação estatística de mais de duas categorias de respostas,
foi utilizada a análise de resíduo para identificação dos pares
de categorias que correspondiam a um valor maior que o
esperado, ou seja, quais categorias se diferenciavam entre os
grupos. Um valor do resíduo padronizado (zres) maior que 1.96
indicou significância estatística na casa tabular, em nível de
significância de 5%. Nos gráficos, foram representados os
resultados das características para as quais foi identificada
significância estatística (p<0,05).
Este estudo foi registrado e aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da UNIFESP/
EPM, sob o protocolo CEP 1573/04, atendendo às exigências
da Resolução 196/96.
Quadr
Quadroo 11–Distribuição dos quantitativos de egressos de especialização em obstetrícia segundo local de formação e participação
das fases do estudo - Brasil, 2006-2007
Le
Leggenda: 1 Universidade de Pernambuco (estadual), 2 – Universidade Federal da Bahia, 3 Universidade Estadual de Feira de Santana (BA), 4
Universidade Estadual de Santa Cruz (BA), 5 Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, 6 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 7
Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, 8 Universidade Federal da Paraíba, 9 Universidade Estadual da Paraíba, 10 Universidade Federal de
Alagoas, 11 Universidade Federal do Maranhão, 12 Universidade Federal de Sergipe, 13 Universidade Estadual do Ceará, 14 Universidade Federal do Piauí
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Car
acterísticas sociodemo
icas e de ffor
or mação
Características
sociodemogg ráf
ráficas
pr
of
issional dos enf
er
meir
os obstetr
as eegg r essos dos
prof
ofissional
enfer
ermeir
meiros
obstetras
CEEO
Dos 127 egressos dos CEEO financiados pelo Ministério
da Saúde, na Região Nordeste do Brasil, no período de 1999 a
2004, que responderam ao questionário, 123 (96,9%)
referiram ter nascido em estados da Região Nordeste; 3 (2,4%),
na Região Sudeste e 1 (0,7%) não informou sua origem. Em
relação ao estado onde moravam à época da coleta de dados,
126 (99,2%) egressos referiram estados da Região Nordeste.
Uma (0,8%) enfermeira obstetra residia na cidade de Montes
Claros, estado de Minas Gerais, Região Sudeste. Por pertencer
ao Bioma 1 Caatinga, essa cidade está sujeita às políticas
públicas da Região Nordeste, do que derivou a inclusão dessa
egressa na tabulação referente ao estado da Bahia.
As distribuições de naturalidade e local de habitação
eram esperadas pelo fato de os cursos terem sido realizados
nessa região. Constatou-se que os egressos residiam em 35
municípios dessa região, dos quais 11 (31,4%) localizam-se
no estado da Bahia, 5 (14,2%), em Pernambuco ou no Ceará,
e 4 (11,4%), em Alagoas.
A idade dos egressos variou entre 26 e 70 anos, com
média de 38,7±8,5 anos. A grande variabilidade etária pode
ter derivado do fato de os critérios de seleção para o CEEO não
contemplarem idade cronológica, mas, sim, experiência
profissional. A maioria dos egressos era do sexo feminino (123;
96,9%). Na especialidade de obstetrícia, é frequente a presença
de enfermeiras, fenômeno que pode estar relacionado com a
própria história da arte de partejar, que acontecia no espaço
doméstico das famílias, sob domínio das parteiras, até meados
dos anos 195011. Adicionalmente, a capacitação de recursos
humanos para assistência ao parto, fora da profissão médica,
contempla quase exclusivamente o sexo feminino, distribuído
em várias categorias, com formação e inserção diversificada
nos serviços e com atuação técnica heterogênea12.
Em relação às características da formação profissional
dos egressos dos CEEO (primeira fase do estudo), pôde-se
constatar que, de 127 enfermeiros, 115 (90,6%) referiram ter
realizado a graduação em universidades públicas e 12 (9,4%),
em instituições privadas. Esse resultado difere do informe do
Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(INEP)13 , ao afirmar que, em relação à dependência
administrativa, a participação das mulheres é maior nas
instituições de ensino superior privadas. Em 2000, as mulheres
representavam 41,8% dos egressos nas instituições privadas
contra 39,7% nas instituições públicas, percentuais que
passaram para 45,2% e 42,6%, respectivamente, em 2005.
Quanto ao CEEO, todos os egressos foram titulados por
instituições de ensino superior, públicas federais ou estaduais,
com financiamento do Ministério da Saúde. Os egressos haviam
concluído a graduação em Enfermagem entre 4 e 48 anos, com
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média de 13,8±8,0 anos, o que permite afirmar que a maioria
das Instituições atendeu às Diretrizes Curriculares Nacionais para
elaboração dos projetos pedagógicos dos CEEO, e, no processo
de seleção dos enfermeiros para esse curso, foi obedecidaa
exigência de tempo médio de graduação4.
of
issional das enf
er meir
as obstetr as
Atuação pr
prof
ofissional
enfer
meiras
egressas dos CEEO
Na Tabela 1, estão apresentados os resultados referentes à
atuação profissional dos egressos dos CEEO. Quanto à natureza da
instituição em que os egressos declararam trabalhar, 114 (89,8%)
referiram instituições públicas. Este resultado refletiu o recomendado
nas Diretrizes Curriculares para elaboração dos CEEO, na qual estava
expressa, como proposta do curso, capacitar enfermeiros do SUS3.
Um estudo sobre a formação do enfermeiro obstetra no Brasil
demonstrou que o vínculo empregatício dos egressos do CEEO, ofertado
gratuitamente e apoiado pelo Ministério da Saúde, era do SUS, em
74,0%, exclusivamente e 21,0% trabalhando em instituições
conveniadas11. Também uma pesquisa sobre os enfermeiros obstetras
egressos da Escola de Enfermagem da Universidade São Paulo
demonstrou que a maioria deles também trabalhava em instituições
públicas (67,3%) e pequeno percentual (28,3%) atuava em
instituição privada14.
Em relação ao número de vínculos empregatícios, identificouse que a maioria dos egressos (66; 52%) tinha dois vínculos, 39
(30,7%) referiram um e 19 (15%) informaram trabalhar em três
instituições. Como a legislação permite até dois vínculos públicos,
percebe-se que a prerrogativa legal era majoritariamente utilizada
por esse grupo, tal como foi identificado em estudo com egressos de
CEEO – modalidade residência – dos quais 92,3% tinham mais de
um vínculo empregatício15.
Quanto à área de atuação, dos 127 egressos, 107 (84,3%)
referiram atuar na área da mulher e 18 (14,2) não atuavam,
justificando esse fato por: exercício de cargo administrativo (4; 22,2%)
ou falta de oportunidade (4; 22,2%), dentre outros argumentos.
Esse resultado atendeu ao objetivo do CEEO de capacitar enfermeiros
para atuação na assistência ao parto e nascimento.
Note-se que há referência de 90% dos enfermeiros
matriculados nos CEEO do Brasil atuarem na área da saúde da mulher,
predominantemente (310; 51%) em serviços de atenção ao parto11,
bem como de 19 (69,2%) dos 26 egressos dos Cursos de
Especialização em Enfermagem Obstétrica e Neonatal - modalidade
residência estarem inseridos diretamente na área de formação15.
A dificuldade de obstetrizes e enfermeiras obstétricas se
manterem na área da especialidade (obstetrícia) pode ter como
causa uma identidade profissional híbrida, que favorece o acúmulo ou
desvio de função no exercício profissional, com o deslocamento do
enfermeiro obstetra da assistência no pré-natal e no parto para outras
áreas da enfermagem, gerando sobrecarga de trabalho, frustração,
desmotivação, conformismo e submissão16.
No entanto pode-se aventar a hipótese de que essa
limitação não seja específica da área de enfermagem obstétrica,
ao identificar que entre os egressos dos curso sem cuidados
intensivos, apenas 36,8% dos enfermeiros permaneciam em UTI,
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Costa AANM, Schirmer J
enquanto a maioria (60,5%) não mais atuava nessa área.17.
Entre os motivos pelos quais enfermeiros obstetras não atuam
na especialidade, têm sido citados: melhor oportunidade de trabalho
em outra área, motivos pessoais diversos e decepção com a atuação
em obstetrícia14, aspecto este também comprovado em pesquisa no
Rio Grande do Sul18. Os resultados desta pesquisa, associados aos
dados da literatura, sugerem que o abandono da área de atuação é
maior por enfermeiros obstetras com maior tempo de formação.
Em relação ao tipo de atividade profissional, 114 (90,5%)
egressos referiram atuar na assistência, 50 (39,7%), na
administração, e 47 (37,3%), na docência (Tabela 1). Nossos
resultados corroboraram a forte associação do trabalho dos
enfermeiros com funções de gerenciamento de Unidades ou
Instituições, constatada em pesquisa na qual, entre 26 egressos,
somente 11 (42,3%) não exerciam essa atividade. Destes, quatro
enfermeiros obstetras atuavam diretamente na assistência em
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Centro de Parto Normal, responsabilizando-se pela condução
do trabalho de parto e parto, embora tivessem referido função
de gerenciamento exercida ao desenvolver supervisão de
auxiliares de enfermagem que atuavam no serviço. O
gerenciamento de serviços de saúde foi atividade principal de
53,6% dos egressos, sendo 34,6% em maternidades, revelando
que ainda é frequente a cultura de deslocamento de pessoal
qualificado em obstetrícia para funções administrativas15.
Em outro estudo, 61 (66,3%) egressos informaram
ser assistenciais, 34 (37,0%) dos quais trabalhavam em
enfermagem obstétrica e 27 (29,3%), em outras áreas.
Dezenove (20,6%) egressos eram docentes de enfermagem,
sendo que 12 (13,2%) lecionavam enfermagem obstétrica e 7
(7,6%), conteúdos programáticos de outras áreas do
conhecimento. Além desses, 10 egressos mudaram de profissão
e 2 (2,2%) declararam-se do lar14.
Tabela 1 – Atuação profissional das enfermeiras obstetras egressas dos CEEO, financiados pelo
Ministério da Saúde na Região Nordeste - Brasil, 2006-2007
Considerando as respostas de 46 (97,9%) dos 47 residência ou pós-graduação em enfermagem nos nove
(37,3%) egressos que referiram exercer docência, constatou- estados da Região Nordeste, em percentuais variando entre
se sua atuação em cursos de auxiliar, técnico, graduação, 22,2% e 57,1% (Tabela 2).
Tabela 2 – Distribuição dos cursos de enfermagem nos quais egressos dos CEEO
desenvolviam atividade docente no estado onde residiam – Região Nordeste, Brasil,
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Pôde-se obser var que houve diferença
estatisticamente significante entre os diferentes estados
exclusivamente na docência de residência em enfermagem, já
que somente enfermeiros do estado de Pernambuco (57,1%)
desenvolviam essa atividade.
Na Tabela 3, estão detalhados os conteúdos
ministrados pelos egressos, nos diversos estados nos quais
exerciam docência. Observou-se que todos os conteúdos
referentes à área da saúde da mulher eram contemplados,
sem diferença estatisticamente significante entre os estados,
exceção feita aos egressos dos estados de Alagoas e do Rio
Grande do Norte, que não lecionavam assistência ginecológica.
Este resultado refletiu uma característica da região, onde são
poucos os docentes titulados e, por isso, estes geralmente têm
a responsabilidade de ministrar vários conteúdos. É importante
ressaltar que os egressos docentes reconhecem a importância
da formação recebida como fator de segurança, não só na prática
assistencial, mas também para o exercício da docência15.
Tabela 3 – Distribuição dos conteúdos ministrados pelas egressas nos cursos de
enfermagem, segundo estado onde residiam - Região Nordeste – Brasil - 2006-2007
Car
acterização das instituições nas quais enf
er
meir
as
Caracterização
enfer
ermeir
meiras
obstetras egressas dos CEEO atuavam
O objetivo dos CEEO, com o aprimoramento cultural
dos enfermeiros obstétricos, se consubstanciava na premiação
da Instituição que implantasse novos modelos assistenciais.
Por esse motivo, buscou-se, na segunda fase do estudo,
identificar junto aos egressos a participação da instituição em
que trabalhavam nos processos de premiação. No Gráfico 1,
observa-se que dos 127 egressos, 43 (33,9%) responderam
afirmativamente, 77 (60,6%) negaram e 7 (5,5%) não
responderam. Dentre os prêmios referidos pelos 43 egressos,
aos quais suas instituições de trabalho concorreram ou
receberam, foram citados: Hospital Amigo da Criança
(20;46,5%), Implantação do Parto Humanizado e Doulas (4;
9,3%), Prêmio Galbade Araújo (3; 6,9%), Mãe Canguru (3;
6,9%), Prêmios Galba e Hospital Amigo da Criança (2; 4,7%),
Banco de Leite Humano (2; 4,7%), Prêmio Bibi Vogel (2;4,7%),
Projeto Nascer (1; 2,3%) e Hospital Amigo da Criança e Projeto
Nascer (1; 2,3%).Este resultado deve ser considerado positivo,
uma vez que 33,9% dos egressos conheciam os prêmios ligados
a sua área de atuação, alguns já haviam tido oportunidade de
implantar este modelo e mesmo de participar e receber
prêmios, além de, consequentemente, saberem quais condutas
deveriam ser implantadas no serviço e como deveria ser sua
atuação para alcançar esses objetivos. Os 77 egressos que
referiram trabalhar em instituição não participante do processo
de premiação do Ministério da Saúde forneceram justificativas
bem distintas para o fato. Quinze (19,4%) alegaram não saber
informar, 10 (13,0%) não haviam implantado qualquer modelo
e 5 (6,5%) informaram haver falta de interesse dos gestores.
Estas respostas indicaram que a qualificação não
pareceu ser suficiente para que a atuação do enfermeiro obstetra
possibilitasse influenciar comportamentos ou exercer pressão,
de forma a fazer a diferença em uma instituição de saúde.
Constatou-se que, dentre as instituições participantes ou
contempladas com premiações por terem implantado novos
modelos assistenciais, 39,8% tinham egressos atuando na área
da saúde da mulher, contrapondo-se a 6,3% que não dispunham
desse cor po funcional, diferença que se mostrou
estatisticamente significante. A significância da diferença
permite aventar a hipótese de que os egressos fizeram a
diferença nos serviços de saúde quando atuaram na sua área
de especialização, promovendo modificações no processo
assistencial, muito mais que na estrutura, o que resultou nas
premiações.
O Ministério da Saúde avalia as instituições de saúde
e indica aquelas que podem ser premiadas, por modificarem
o processo de assistência para contemplar a humanização
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do atendimento à gestante e ao recém-nascido, e
estimularem o parto normal com alojamento conjunto e o
aleitamento materno. Determina então as que efetivamente
recebem a premiação. Dessa forma, a associação entre ter
egressas do CEEO e ter indicação à premiação ou ser a
instituição premiada indica que os CEEO contribuíram na
melhoria da assistência em decorrência da atuação dessas
egressas.
Figura 11- Distribuição de instituições segundo premiação por implantação de novos modelos
assistenciais e presença de egressas do CEEO – Região Nordeste, Brasil, 2006-2007.
Nota: c²=20,12; p<0,001
CONCLUSÃO
Ainda que se considere a limitação metodológica
de ter sido empregada amostra de conveniência composta
por voluntários, portanto não probabilística, esta pesquisa
permitiu identificar que o CEEO pode ter contribuído para
a melhoria da assistência obstétrica, já que a maioria dos
egressos manteve-se na atividade profissional assistencial,
bem como pode ter contribuído indiretamente para a
formação de novos profissionais obedecendo à proposta
do PHPN, visto que parte dos egressos atuava nos cursos
de graduação em enfermagem, ministrando conteúdos
relativos à área da mulher em geral. Adicionalmente, essa
formação possibilitou a implantação de novos modelos
assistenciais, que se consubstanciaram na par ticipação
do processo de premiação ou na premiação das instituições
nas quais trabalhavam (Figura 1)
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Recebido em 28/06/2011
Reapresentado em 02/12/2012
Aprovado em 20/03/2012
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